O Tanya - parte 19

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O Encontro Abaixo

A alma desce do alto para ser vestida num corpo de carne e osso. Num estilo semelhante o Eterno, bendito seja, abaixa Sua Torá a este mundo, e a veste de matérias físicas. É especificamente neste mundo material que eles se encontram. Em vista disso, os anjos apresentaram um argumento convincente ao Eterno, quando Ele outorgou a Torá a Israel. Sua alegação: "Concede Tua Glória nos Céus" era um pedido para que o Criador diminuísse o processo de descida da Torá abaixo e se satisfizesse com o encontro da Torá e as almas judaicas acima nos mundos superiores.

Claramente, esta descida da Torá abaixo não é um fim em si mesma. Ao contrário, funciona como um meio pelo qual uma subida é conseguida, pois é através da Torá neste mundo que a alma é capaz de atrair santidade sobre si mesma ao servir o Criador. Esta subida é possível somente em virtude da descida anterior da Torá. No capítulo quatro do Tanya, o autor explica que a descida da Torá e mitsvot abaixo para serem revestidas no mundo material tem um significado enorme – pois este é o único meio pelo qual a sabedoria de D’us pode ser absorvida.

Descendo sem Mudar


Em muitos locais Nossos Sábios comparam a Torá à água, "pois assim como a água desce de um nível mais elevado para um nível inferior, assim também a Torá desceu de seu lugar de glória, sendo a vontade e sabedoria de D’us… [A Torá] viajou numa descida através de estágios ocultos… até que se vestiu em roupas materiais e coisas desse mundo." Mais precisamente: Assim como a água em sua descida muda apenas seu lugar, mas não sua substância essencial, assim também é com a descida da Torá. Quando um judeu estuda Torá e cumpre os mandamentos aqui neste mundo, ele apreende a mesma vontade e sabedoria do Eterno, bendito seja, que residem acima com D’us.

Portanto, de fato, a descida da Torá abaixo não deveria ser considerada de forma alguma como depreciativa. Pelo contrário, isso revela a elevação da Torá, pois o aspecto de sabedoria que tem a capacidade de descer e ser revelado neste mundo em objetos físicos é muito superior ao aspecto da sabedoria que é revelado à alma nos mundos espirituais. A Chassidut explica que as revelações à alma nos mundos espirituais são comparáveis à influência que um professor tem sobre seu aluno, onde o aluno recebe somente a revelação superficial do intelecto de seu mestre. Isso é considerado como apenas o reflexo externo do intelecto do professor, em vez de sua essência. Em contraste a isso, o aspecto da Sabedoria Celestial que é atraído para a alma e ali revelado quando um judeu cumpre os preceitos ativos neste mundo material é comparável ao relacionamento que um pai tem com seu filho – como foi explicado previamente, a essência de seu cérebro é transferida para seu filho.

No final do capítulo quatro, o Tanya explica que a abordagem acima mencionada também explica a declaração de Nossos Sábios em Pirkêi Avot: "Uma hora de arrependimento e boas ações neste mundo é melhor que a vida inteira no Mundo Vindouro." No Mundo Vindouro os perfeitamente justos se deleitam na radiância da Divina Presença – esta "radiância" é apenas um reflexo da Divina Presença, um remoto vislumbre da Divina Luz. De modo contrário, ao cumprir a Torá e mitsvot neste mundo a alma tem uma noção do próprio Eterno, bendito seja!

Abraçando o Rei

Embora a Torá esteja revestida em "vestes" materiais, sem as quais a alma não poderia entender a bendita vontade e sabedoria de D’us, isso não deprecia o alto nível de Torá e mitsvot cumpridas nesse mundo.

Rabi Shneur Zalman explica que vestir a Torá no mundo material não impede uma pessoa de apegar-se a Seu Criador através da Torá. Isso pode ser comparado a alguém que merece abraçar seu rei, ou a alguém que merece que seu rei o abrace. Que o rei esteja vestido em seu manto não diminui o valor e a intimidade do fato de que ele merece abraçar o rei. E quanto à pessoa afortunada a quem o rei abraça – é irrelevante para ele se o rei está vestido numa roupa simples ou em vários mantos.

Quando estuda Torá e cumpre mitsvot nesse mundo, a alma e todas suas faculdades estão fortemente "atadas no feixe da vida com D’us" e são assim elevadas aos níveis mais elevados. Além disso, a alma é envolvida da cabeça aos pés, por assim dizer, na luz da Divindade, como declara o versículo no Tehilim: "Ele é minha rocha, na qual busco abrigo" e "A Vontade de D’us o cerca como uma armadura." Assim como uma armadura envolve um homem e o protege do mal, assim a Vontade Celestial de D’us envolve aquele que cumpre as mitsvot.

A proximidade com D’us é o propósito interior de servi-Lo. O fato de que abraçar o rei é conseguido por meio de objetos físicos não diminui o prazer que uma pessoa sente em servir a seu Criador.

     
   
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