|
Meditação
e as Emoções
Em suas "Leis dos Fundamentos da Torá", o Rambam explica
que a maneira de chegar ao amor e reverência a D’us é
através da meditação sobre as maravilhosas obras
da criação. No capítulo três do Tanya somos
apresentados a um nível ainda mais profundo de meditação
baseada na Cabalá: A pessoa contempla como D’us preenche
todos os mundos, como Ele envolve todos os mundos, e como em Sua presença
tudo é considerado como um nada. Estes conceitos explicam como
o Eterno, Bendito seja, anima toda a criação com luz Divina
imanente e força de vida, e como Ele ilumina os mundos com uma
luz Divina que transcende todos os mundos, e como todos os mundos são
como nada em relação à Sua bendita essência.
Quando uma pessoa contempla profundamente estes assuntos, reações
emocionais serão despertadas dentro dela. Estas emoções
derivam da santidade. Exatamente quais emoções serão
despertadas, seja aquelas da categoria do amor, ou aquelas da categoria
do temor, depende do assunto que ele contempla, sua direção
geral e seus detalhes.
Emoções são "Filhos"
O ponto básico de Chochmá (sabedoria) e seu desenvolvimento
dentro de Biná (entendimento) pode ser comparado ao relacionamento
de pais que dão nascimento aos filhos. Os ensinamentos da Chabad
Chassidut estão repletos de analogias comparando o nascimento das
emoções ao nascimento de filhos. Na Cabalá, um filho
é uma metáfora para o amor de D’us, e uma filha uma
metáfora para o temor a D’us.
Dessa maneira, assim como distinguimos dois estados de ser no que tange
a um filho – quando está no útero antes de nascer,
e como ele é depois do nascimento – exatamente da mesma maneira
podemos distinguir dois estados de emoções – qualidades
emocionais ocultas dentro da mente e raciocínio de um homem, antes
de ser revelado em seu coração, e como elas são num
estado de verdadeira revelação em seu coração.
Para tornar esta idéia mais palpável, usemos um exemplo
para ilustrar. Reverência e temor parecem ser emoções
equivalentes. No entanto, há uma diferença sutil entre elas:
reverência é uma reação intelectual manifestada
no cérebro, ao passo que temor é uma reação
emocional manifestada no coração. Assim, quando Rabi Shneur
Zalman descreve a revelação destas duas qualidades, ele
primeiro discute a reverência de Sua Divina majestade despertada
na mente da pessoa ("ficar reverente e humilde perante Sua bendita
grandeza, que não tem fim ou limite"). Somente depois ele
discute a idéia de "temor nascido em seu coração."
Uma filha nascida primeiro
Uma máxima de Nossos Sábios afirma: "Uma filha nascida
primeiro é a precursora de um filho." No serviço do
homem a D’us, esta é também a ordem adequada –
é necessário primeiro despertar reverência e temor
a D’us (uma filha em nossa analogia) pois isso será o precursor
da capacidade de um homem de conter o amor a D’us em seu coração
(um filho em nossa analogia).
O Tanya assim se expressa a esse respeito: Primeiro "reverência
pela Divina Majestade nascerá e será despertada na mente
e raciocínio da pessoa… e o temor a D’us em seu coração"
e somente depois "seu coração brilhará com um
amor intenso [a D’us] como chamas ardentes, com paixão desejo
e saudade, e uma alma ansiosa pela grandeza do Infinito, Bendito seja.
Mas por que deveria ser assim? Por que esta é considerada a ordem
correta? Para entendermos este ponto, examinemos o que, na essência,
implica o amor a D’us, e o que acontece com uma pessoa quando começa
a amar seu Criador. Como resultado de seu apego ao Criador, a pessoa se
transforma em alguém que jamais conhecemos antes. Ele abandona
seus desejos pelas coisas deste mundo às quais estava previamente
ligado, pois o amor a D’us e os desejos mundanos se opõem
um ao outro como água e fogo.
Porém, para se tornar uma pessoa diferente, para ser transformada
pelo amor de D’us, este amor deve ser precedido pelo temor a D’us.
Este é um princípio no pensamento chassídico: a metamorfose
de um estado de ser a outro acarreta um estado intermediário de
não-ser. Por analogia: uma semente plantada na terra deve decompor-se
e perder sua forma original para então se desenvolver em uma árvore.
E enquanto ela retiver sua forma e propriedades originais, não
pode ser transformada em algo novo. A mesma regra aplica-se ao crescimento
espiritual: a reverência a D’us, que leva a pessoa a um estado
de auto-anulação e submissão, causa a cessação
de sua existência prévia, e o amor a D’us que se segue
o transforma inteiramente em outra pessoa.
|