O Tanya - parte 10

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A Alma Judaica

"Realmente uma parte do D’us acima." Com estas palavras, o Tanya expressa o elevado calibre da alma. O elevado status da alma como "uma parte de D’us", e como originando-se "acima" já fora expressa na literatura cabalista que precedeu o Tanya. Porém Rabi Shneur Zalman não estava satisfeito com a declaração de que "a alma é parte do D’us acima". Adicionando a palavra "realmente" ou "na realidade", o Tanya enfatiza que esta descrição da alma não é exagerada. A alma de um judeu é de fato "verdadeiramente uma parte de D’us", e é exigido de todo judeu saber que a Divindade é sua própria existência!

Sim, quando a alma desce e se torna envolvida pelo corpo físico e na alma animalesca, é descrita apenas como "uma parte de D’us." Apesar disso, como se sabe, os componentes e qualidades de qualquer objeto material são encontrados mesmo na menor parte dele. Rabi Yisrael Báal Shem Tov declarou essa idéia da seguinte maneira: "Quando se entende mesmo uma pequena parte da essência, já se entendeu tudo." Por analogia, todas as vitaminas e materiais que constituem uma fruta são encontrados em todo pedaço dela, mesmo quando este pedaço está separado da fruta. Assim também quanto à alma revestida no corpo – embora seja descrita como somente "uma parte de D’us", sua natureza e sua essência são realmente Divinas, e o Eterno, Bendito seja, realmente reside ali.


A força de vida da alma e de outras criaturas

Na seção do Tanya intitulada "O Portal da Unidade e Fé", o autor explica que o processo de criação é o ato de imbuir força de vida e vitalidade a cada criatura. Qual é, então, a diferença entre a alma e outros seres criados? Que tipo de força vital foi instilado na alma, e que tipo de vitalidade foi conferido a todo o restante da criação?

Poderemos responder às questões acima quando esclarecermos o significado oculto das diferentes expressões descrevendo o processo de criação que aparece na Torá e nos Midrashim.

Quando o Eterno, Bendito seja, formou Adam, o primeiro homem (cuja alma era universal e incluía todas as almas particulares das futuras gerações), declara o versículo: "E Ele soprou em suas narinas uma alma de vida." Todo judeu, ao recitar as bênçãos matinais, diz: "Meu D’us, a alma que Tu puseste dentro de mim é pura… Tu a sopraste dentro de mim." Em contraste, a respeito do restante da criação, o versículo em Bereshit declara: "E D’us disse: Que haja luz", "E D’us disse: Que haja um firmamento", etc.

Esta idéia da criação surgindo por meio da fala é enfatizada ainda mais em Pirkê Avot: "O mundo foi criado com dez pronunciamentos." Assim, podemos concluir que a penetração da força vital na alma está expressa na Torá pelo conceito de "sopro", ao passo que a vitalidade do restante da criação está indicada por palavras que significam fala.

Qual é a diferença essencial entre "soprar" e "falar"? Em geral, ambos são produzidos pela respiração que vem do interior do corpo. No entanto, o esforço despendido ao falar é apenas superficial (e portanto uma pessoa consegue falar por longos períodos sem se cansar), ao passo que o esforço feito para expelir a respiração com força é muito maior. Tendo isso em vista, o Zohar declara: "Aquele que sopra, sopra de seu interior", e como o Tanya, enfatiza: "de seu âmago e de seu ser interior."

Cada um de nós pode certamente achar áreas de sua vida nas quais investe seus poderes interiores, e outras áreas onde investe apenas energia superficial. Qualquer pessoa pode facilmente levantar uma pedra pequena, mas para levantar um rochedo é necessário força e muito esforço. Assim, levantar uma carga pesada revela claramente a extensão da força de uma pessoa.

No contexto da criação, aplica-se a mesma idéia. D’us investiu somente um nível superficial de vitalidade naqueles aspectos da criação que foram criados por meio da fala. No entanto, no que diz respeito à alma, a expressão usada é: "Ele soprou", indicando que o Criador infundiu uma vitalidade interior, originada em "Seu âmago e Seu Ser interior" no homem. Além disso, este processo é direto – "em suas narinas", sem qualquer interrupção, ou um terceiro agindo como intermediário. Esta é a razão, então para a alma ser chamada "uma parte de D’us".

"Acima" e "Na Realidade"


Quando estava com onze anos, Rabi Yossef Yitschac Schneersohn, o Rebe Anterior, ouviu de seu pai a seguinte explicação: "As palavras 'acima' e 'na realidade' [na expressão 'verdadeiramente (ou na realidade) uma parte do D’us acima'] significam idéias contraditórias. A palavra 'acima' expressa o status espiritual extremamente elevado da alma, ao passo que as palavras 'na realidade' [do hebraico mamash, significando mamashut – substância, realidade, algo consistente], expressam a matéria física mais básica. A virtude da alma é – embora ela seja tão elevada e a criação mais espiritual de todas – que ela afeta até mesmo os aspectos mais materiais da criação.

     
   
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