A Alma Judaica
"Realmente uma parte do D’us acima." Com estas palavras,
o Tanya expressa o elevado calibre da alma. O elevado status da alma como
"uma parte de D’us", e como originando-se "acima"
já fora expressa na literatura cabalista que precedeu o Tanya.
Porém Rabi Shneur Zalman não estava satisfeito com a declaração
de que "a alma é parte do D’us acima". Adicionando
a palavra "realmente" ou "na realidade", o Tanya enfatiza
que esta descrição da alma não é exagerada.
A alma de um judeu é de fato "verdadeiramente uma parte de
D’us", e é exigido de todo judeu saber que a Divindade
é sua própria existência!
Sim, quando a alma desce e se torna envolvida pelo corpo físico
e na alma animalesca, é descrita apenas como "uma parte de
D’us." Apesar disso, como se sabe, os componentes e qualidades
de qualquer objeto material são encontrados mesmo na menor parte
dele. Rabi Yisrael Báal Shem Tov declarou essa idéia da
seguinte maneira: "Quando se entende mesmo uma pequena parte da essência,
já se entendeu tudo." Por analogia, todas as vitaminas e materiais
que constituem uma fruta são encontrados em todo pedaço
dela, mesmo quando este pedaço está separado da fruta. Assim
também quanto à alma revestida no corpo – embora seja
descrita como somente "uma parte de D’us", sua natureza
e sua essência são realmente Divinas, e o Eterno, Bendito
seja, realmente reside ali.
A força de vida da alma e de outras criaturas
Na seção do Tanya intitulada "O Portal da Unidade e
Fé", o autor explica que o processo de criação
é o ato de imbuir força de vida e vitalidade a cada criatura.
Qual é, então, a diferença entre a alma e outros
seres criados? Que tipo de força vital foi instilado na alma, e
que tipo de vitalidade foi conferido a todo o restante da criação?
Poderemos responder às questões acima quando esclarecermos
o significado oculto das diferentes expressões descrevendo o processo
de criação que aparece na Torá e nos Midrashim.
Quando o Eterno, Bendito seja, formou Adam, o primeiro homem (cuja alma
era universal e incluía todas as almas particulares das futuras
gerações), declara o versículo: "E Ele soprou
em suas narinas uma alma de vida." Todo judeu, ao recitar as bênçãos
matinais, diz: "Meu D’us, a alma que Tu puseste dentro de mim
é pura… Tu a sopraste dentro de mim." Em contraste,
a respeito do restante da criação, o versículo em
Bereshit declara: "E D’us disse: Que haja luz", "E
D’us disse: Que haja um firmamento", etc.
Esta idéia da criação surgindo por meio da fala é
enfatizada ainda mais em Pirkê Avot: "O mundo foi criado com
dez pronunciamentos." Assim, podemos concluir que a penetração
da força vital na alma está expressa na Torá pelo
conceito de "sopro", ao passo que a vitalidade do restante da
criação está indicada por palavras que significam
fala.
Qual é a diferença essencial entre "soprar" e
"falar"? Em geral, ambos são produzidos pela respiração
que vem do interior do corpo. No entanto, o esforço despendido
ao falar é apenas superficial (e portanto uma pessoa consegue falar
por longos períodos sem se cansar), ao passo que o esforço
feito para expelir a respiração com força é
muito maior. Tendo isso em vista, o Zohar declara: "Aquele que sopra,
sopra de seu interior", e como o Tanya, enfatiza: "de seu âmago
e de seu ser interior."
Cada um de nós pode certamente achar áreas de sua vida nas
quais investe seus poderes interiores, e outras áreas onde investe
apenas energia superficial. Qualquer pessoa pode facilmente levantar uma
pedra pequena, mas para levantar um rochedo é necessário
força e muito esforço. Assim, levantar uma carga pesada
revela claramente a extensão da força de uma pessoa.
No contexto da criação, aplica-se a mesma idéia.
D’us investiu somente um nível superficial de vitalidade
naqueles aspectos da criação que foram criados por meio
da fala. No entanto, no que diz respeito à alma, a expressão
usada é: "Ele soprou", indicando que o Criador infundiu
uma vitalidade interior, originada em "Seu âmago e Seu Ser
interior" no homem. Além disso, este processo é direto
– "em suas narinas", sem qualquer interrupção,
ou um terceiro agindo como intermediário. Esta é a razão,
então para a alma ser chamada "uma parte de D’us".
"Acima" e "Na Realidade"
Quando estava com onze anos, Rabi Yossef Yitschac Schneersohn, o Rebe
Anterior, ouviu de seu pai a seguinte explicação: "As
palavras 'acima' e 'na realidade' [na expressão 'verdadeiramente
(ou na realidade) uma parte do D’us acima'] significam idéias
contraditórias. A palavra 'acima' expressa o status espiritual
extremamente elevado da alma, ao passo que as palavras 'na realidade'
[do hebraico mamash, significando mamashut – substância, realidade,
algo consistente], expressam a matéria física mais básica.
A virtude da alma é – embora ela seja tão elevada
e a criação mais espiritual de todas – que ela afeta
até mesmo os aspectos mais materiais da criação.