O Tanya - parte 8

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A Alma Animalesca

Dentro de todo judeu habitam duas almas, uma alma animalesca e uma alma Divina. Ao nos apresentar de maneira geral à alma animalesca, o autor do Tanya apresenta a última como "originando-se da kelipá e sitrá achra", como foi explicado no capítulo anterior.

O Eterno, Bendito seja, criou diferentes categorias em Seu mundo. Existem criaturas que estão incluídas na categoria de santidade, e aquelas incluídas na categoria oposta. A alma animalesca pertence à ultima classe.

Aquelas criaturas que não se originam no lado da santidade são chamadas de "o mundo de kelipot." Esta denominação não tem a intenção de diminuir ou insultar, mas sim expressar exatamente a natureza dessas criaturas. Nesta categoria em si, deve-se assinalar, existem duas divisões: uma compreende aquelas criaturas que derivam sua existência das três kelipot impuras, que são completamente más. A segunda divisão compreende aquelas criaturas que recebem sua força de vida da kelipá chamada "noga", que também possui algum bem. É a partir dessa kelipá que a alma animalesca do judeu recebe sua força vital.

Para ocultar e proteger


Assim como a casca ou a pele impede que se veja o fruto, da mesma forma o Eterno, Bendito seja, criou forças espirituais no mundo que ocultam a Divina força vital encontrada em todas as coisas. Estas forças são as "kelipot", e nessa categoria a alma animalesca também está incluída.

Superficialmente, o conceito de kelipá parece expressar um fenômeno completamente negativo. No entanto, está explicado na Chassidut que os aspectos positivos das kelipot serão revelados quando elas forem tratadas de maneira adequada. Sim, a kelipá cobre e oculta o que está dentro dela – mas não devemos nos esquecer de que esta é a maneira pela qual a casca protege a fruta. Isso é verdadeiro no mundo físico, e também no mundo das kelipot espirituais.

No que diz respeito ao microcosmo, o judeu individual, é possível que sem supervisão especial sua alma animalesca de fato ocultaria o "fruto" dentro dele, sua alma Divina. Deixada sozinha, a alma animalesca levaria a pessoa rumo a assuntos mundanos, e a impediria de aprender Torá e cumprir mitsvot. No entanto, intelectualmente, o homem pode convencer sua alma animalesca a desempenhar um papel subordinado ao "fruto". Ele pode convencê-la a investir todos seus poderes, seus desejos, e sua forte vontade apenas em assuntos de santidade. Então esta kelipá espiritual protegerá o "fruto" – ajudará a alma Divina.

As emoções da alma animalesca


Toda alma possui uma variedade de qualidades que a caracterizam. No primeiro capítulo do Tanya, Rabi Shneur Zalman descreve os traços de caráter da alma animalesca.

O Rambam, em sua obra Yad ha-Chazaká, escreve que cada criatura no universo, físico ou espiritual, é um composto de quatro elementos: Fogo, Água, Ar e Terra. Rabi Shneur Zalman enfatiza que estes quatro elementos na alma animalesca são a origem dos maus traços de caráter que aparecem dentre os judeus, cada traço derivando de seu elemento correspondente que o provoca.

A fúria inflama uma pessoa quando seu coração queima e se rebela, e o orgulho é o estado de considerar-se superior ao próximo. Estes derivam "do elemento do Fogo que tende a subir". Paixão e deleite, ou seja, o apetite para o prazer físico, é retirado do elemento da Água. Frivolidade, zombaria, gabolice e conversa fútil derivam do elemento do Ar. Indolência e melancolia, que se manifestam no peso dos membros, e que produzem apatia e falta de interesse para progredir na vida, emanam do elemento Terra, que exibe características similares (não possui em si nenhuma vida, e é sempre puxada para baixo).

Um aspecto surpreendente deste sistema de pensamento é a declaração de que não apenas os maus traços de caráter são armazenados na alma animalesca, como também as qualidades positivas, tais como compaixão e benevolência. Estas são qualidades encontradas na natureza inata de cada judeu, e estão inerentes nele desde o dia em que nasceu. O motivo para a presença destas qualidades positivas é que a alma animalesca de um judeu deriva da kelipá noga, que não é totalmente má; ao contrário, contém algum bem. Do mal contido na alma animalesca emanam traços negativos de caráter; e do bem da alma animalesca bons traços de caráter, inerentes a cada judeu, são revelados
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