O Tanya - parte 6

índice
 
 

O Benoni

Em geral, as pessoas podem ser classificadas em cinco categorias: o justo que prospera; o justo que sofre; o perverso que prospera; o perverso que sofre; e o intermediário — o benoni.

Neste capítulo, começaremos a examinar a natureza do benoni, embora um completo entendimento de todas suas características esteja além de nosso alcance agora. A primeira tarefa à mão, então, será entender o que o benoni essencialmente não é.

No primeiro capítulo do Tanya, Rabi Shneur Zalman primeiro descarta a possibilidade de o benoni ser alguém cujos atos são "metade virtuosos e metade pecaminosos". Sim, não é apenas o yetser hatov, a boa inclinação, que é ativa dentro dele. O yetser hará, a má inclinação, também é bastante ativa. Mesmo assim, uma distinção deve ser feita entre ser ativo, embora com a maior energia, e o verdadeiro desempenho das transgressões. As ações do benoni estão perfeitamente em ordem — ele jamais vacilará, nem mesmo em assuntos proibidos de menor importância. E de modo correspondente, ele tenta cumprir todas as mitsvot, mesmo aquelas que são difíceis de desempenhar.

Rabah como um Benoni

Na mesma seção da Guemará que discute o funcionamento das duas inclinações, "os justos são julgados pela sua boa inclinação; os perversos são julgados pela sua má inclinação; e os intermediários são julgados por ambas", Rabah apresenta-se como um exemplo de benoni: "Eu, por exemplo, sou um benoni!" Abbaye, no entanto, discorda dele, dizendo: "Mestre, você faz o viver impossível para qualquer criatura…" Se Rabah e aqueles como ele estão apenas na categoria de benoni, então não há homens justos neste mundo. Isso atiraria o mundo inteiro num estado de caos. Além disso, se Rabah, que é considerado por todos como sendo um tsadic, é de fato apenas um benoni, em comparação com ele todos os demais seriam classificados como perversos, e os perversos, mesmo estando vivos, são considerados mortos.

Não se pode tentar resolver este problema declarando que o Rabah estava simplesmente sendo humilde, ou que ele cometeu um erro a respeito de seu status espiritual. Em virtude da humildade, uma pessoa diminuiria apenas parcialmente seu valor, mas não o negaria totalmente. Ninguém declararia, por humildade, que é um animal em vez de um ser humano. Ele também não poderia ter errado neste assunto, pois ninguém erra a ponto de declarar que a areia é prata ou ouro. Um engano somente pode ocorrer quando distinguindo entre duas coisas similares. Assim, se um benoni fosse alguém cujas ações fossem metade virtuosas e metade pecaminosas, Rabah jamais teria errado ao classificar-se como um benoni.

Como é bem conhecido, Rabah se destacou por sua integridade e seu enorme apego à santidade, e está registrado que sua boca jamais cessou de estudar Torá, para que nem mesmo o Anjo da Morte tivesse domínio sobre ele. Portanto, se uma pessoa tão pura errou ao considerar-se um benoni, fica claro que o nível espiritual de um benoni deve ser extremamente elevado, e a idéia de transgressão deve ser completamente excluída.

A natureza do pecado

Rabi Shneur Zalman explica ainda que mesmo uma rápida verificação da natureza do pecado nos levaria à conclusão de que o benoni não pode ser alguém constituído de metade mitsvot e metade transgressões. Após quantas transgressões uma pessoa pode ser classificada de má? Faria bastante sentido dizer que uma pessoa que não obedece a seu Criador mesmo uma só vez é perversa. Enquanto a palavra mitsvá (da palavra tsavta, significando "um nó") expressa a idéia de ligar alguém que cumpre a mitsvá a seu Criador, a palavra para transgressão (averá) implica que o pecador se transfere do domínio do Eterno, Bendito seja, a um domínio diferente.

De fato, mesmo se uma pessoa não está realmente transgredindo no presente, mas está classificada como "aquele que peca" — ou seja, está no rumo do pecado, e quando surge uma oportunidade ele transgride — ele, também, é chamado totalmente perverso. (Isso é comparável a um ladrão, que é chamado de ladrão mesmo quando está dormindo).

Além disso, para merecer o título de "perverso", a pessoa não precisa necessariamente transgredir as proibições mais sérias. Mesmo aquele "que viola uma proibição de menor importância dos Rabis é denominada perversa. E isso se aplica não somente àquele que transgride proibições, mas também àquele que não é suficientemente cuidadoso no cumprimento dos preceitos positivos — este, também, é chamado perverso.

O benoni é portanto uma pessoa livre de pecado.

Ainda não estamos conscientes de todas estas qualidades positivas, mas à luz do acima exposto podemos entender como Rabah poderia ter errado em considerar-se um benoni.





     
   
top