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O Benoni
Em geral, as pessoas podem ser classificadas em cinco categorias: o justo
que prospera; o justo que sofre; o perverso que prospera; o perverso que
sofre; e o intermediário — o benoni.
Neste capítulo, começaremos a examinar a natureza do benoni,
embora um completo entendimento de todas suas características esteja
além de nosso alcance agora. A primeira tarefa à mão,
então, será entender o que o benoni essencialmente não
é.
No primeiro capítulo do Tanya, Rabi Shneur Zalman primeiro descarta
a possibilidade de o benoni ser alguém cujos atos são "metade
virtuosos e metade pecaminosos". Sim, não é apenas
o yetser hatov, a boa inclinação, que é ativa dentro
dele. O yetser hará, a má inclinação, também
é bastante ativa. Mesmo assim, uma distinção deve
ser feita entre ser ativo, embora com a maior energia, e o verdadeiro
desempenho das transgressões. As ações do benoni
estão perfeitamente em ordem — ele jamais vacilará,
nem mesmo em assuntos proibidos de menor importância. E de modo
correspondente, ele tenta cumprir todas as mitsvot, mesmo aquelas que
são difíceis de desempenhar.
Rabah como um Benoni
Na mesma seção da Guemará que discute o funcionamento
das duas inclinações, "os justos são julgados
pela sua boa inclinação; os perversos são julgados
pela sua má inclinação; e os intermediários
são julgados por ambas", Rabah apresenta-se como um exemplo
de benoni: "Eu, por exemplo, sou um benoni!" Abbaye, no entanto,
discorda dele, dizendo: "Mestre, você faz o viver impossível
para qualquer criatura…" Se Rabah e aqueles como ele estão
apenas na categoria de benoni, então não há homens
justos neste mundo. Isso atiraria o mundo inteiro num estado de caos.
Além disso, se Rabah, que é considerado por todos como sendo
um tsadic, é de fato apenas um benoni, em comparação
com ele todos os demais seriam classificados como perversos, e os perversos,
mesmo estando vivos, são considerados mortos.
Não se pode tentar resolver este problema declarando que o Rabah
estava simplesmente sendo humilde, ou que ele cometeu um erro a respeito
de seu status espiritual. Em virtude da humildade, uma pessoa diminuiria
apenas parcialmente seu valor, mas não o negaria totalmente. Ninguém
declararia, por humildade, que é um animal em vez de um ser humano.
Ele também não poderia ter errado neste assunto, pois ninguém
erra a ponto de declarar que a areia é prata ou ouro. Um engano
somente pode ocorrer quando distinguindo entre duas coisas similares.
Assim, se um benoni fosse alguém cujas ações fossem
metade virtuosas e metade pecaminosas, Rabah jamais teria errado ao classificar-se
como um benoni.
Como é bem conhecido, Rabah se destacou por sua integridade e seu
enorme apego à santidade, e está registrado que sua boca
jamais cessou de estudar Torá, para que nem mesmo o Anjo da Morte
tivesse domínio sobre ele. Portanto, se uma pessoa tão pura
errou ao considerar-se um benoni, fica claro que o nível espiritual
de um benoni deve ser extremamente elevado, e a idéia de transgressão
deve ser completamente excluída.
A natureza do pecado
Rabi Shneur Zalman explica ainda que mesmo uma rápida verificação
da natureza do pecado nos levaria à conclusão de que o benoni
não pode ser alguém constituído de metade mitsvot
e metade transgressões. Após quantas transgressões
uma pessoa pode ser classificada de má? Faria bastante sentido
dizer que uma pessoa que não obedece a seu Criador mesmo uma só
vez é perversa. Enquanto a palavra mitsvá (da palavra tsavta,
significando "um nó") expressa a idéia de ligar
alguém que cumpre a mitsvá a seu Criador, a palavra para
transgressão (averá) implica que o pecador se transfere
do domínio do Eterno, Bendito seja, a um domínio diferente.
De fato, mesmo se uma pessoa não está realmente transgredindo
no presente, mas está classificada como "aquele que peca"
— ou seja, está no rumo do pecado, e quando surge uma oportunidade
ele transgride — ele, também, é chamado totalmente
perverso. (Isso é comparável a um ladrão, que é
chamado de ladrão mesmo quando está dormindo).
Além disso, para merecer o título de "perverso",
a pessoa não precisa necessariamente transgredir as proibições
mais sérias. Mesmo aquele "que viola uma proibição
de menor importância dos Rabis é denominada perversa. E isso
se aplica não somente àquele que transgride proibições,
mas também àquele que não é suficientemente
cuidadoso no cumprimento dos preceitos positivos — este, também,
é chamado perverso.
O benoni é portanto uma pessoa livre de pecado.
Ainda não estamos conscientes de todas estas qualidades positivas,
mas à luz do acima exposto podemos entender como Rabah poderia
ter errado em considerar-se um benoni.
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