Alívio para a ansiedade - parte 29
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Suavização dentro da suavização

O objetivo de articular as ansiedades para outra pessoa é transformá-las em júbilo com uma boa palavra. Esta boa palavra oferecida pelo confidente pode ser algum conselho sensato, ou pode ser alguma maneira aprofundada de entender a raiz do problema. Alternativamente, pode mesmo ser um nível mais elevado de solução para o problema, o que discutiremos agora.

A articulação da ansiedade ou do mal na psique efetua a suavização em três níveis. Primeiro, a simples articulação do problema em si o suaviza até um determinado grau. O pensamento chassídico explica que o poder da palavra encerra uma sutil experiência de prazer, e que falar por sua vez abre a fonte de prazer na alma. Isso suaviza ou injeta um elemento de prazer em tudo aquilo que a pessoa fala. A conversa revela o poder da pessoa em expor os domínios secretos de sua alma, e a experiência de falar ensina à pessoa que não está sozinha, mas sim envolvida pela misericórdia de D'us. Pela mercê de D'us, uma pessoa pode permanecer conectada a Ele apesar das profundas falhas em sua psique. Esta experiência é conseguida principalmente graças ao confidente interessado, que judiciosamente se abstém de recuar horrorizado ao ouvir a confissão de quem se abre, mas sim deixa-o saber que embora tenha desvelado pontos delicados, eles por si mesmos não constituem uma ameaça a seu relacionamento com D'us.

O bom conselho oferecido pelo confidente continua o processo de suavização. Pavimenta o caminho rumo à retificação do problema, e dissocia o sofredor de seu sofrimento. Uma vez que a solução tenha sido proposta, a pessoa pode ver-se como que pairando acima de sua situação, e ponderar objetivamente suas opções a respeito de como retificá-la e redimi-la.

A suavização final, entretanto, ocorre quando aquele que confia, ou o confidente, descobre uma percepção nova e perspicaz da realidade necessitada pela existência do problema. Esta nova percepção os torna capazes de entender de imediato o processo real e verdadeiro que levou à existência do problema, para começar. Com este conhecimento, a pessoa que confia pode ajustar sua forma de viver, para que não mais seja presa desta armadilha.

A nova percepção dentro da natureza da realidade, tendo sido precedida pelo estágio de separação da completa submissão à autoridade da Torá em decidir o que é bom e o que é mau, é uma revelação de uma nova dimensão no entendimento da Torá. Nossos Sábios chamam a Torá de projeto de D'us para a criação. É Seu plano, segundo o qual Ele criou o mundo, o circuito interior conectado à realidade. Qualquer novo entendimento da realidade, portanto, é essencialmente uma nova percepção dentro da Torá.

A existência do mal, ansiedade ou temor dentro da psique é apenas um sintoma de uma moléstia mais geral: o quadro imperfeito ou a interpretação da realidade. Nascemos em um mundo de aparente dissonância; a maturação é em grande parte o processo de escolher dentre a miríade de contradições que a realidade nos apresenta, e desenvolver uma visão abrangente do mundo, que possa explicar como a aparente desarmonia na verdade reflete a unidade subjacente dentro da criação. O sucesso que a pessoa pode esperar atingir neste processo de aprendizado está na proporção direta do quanto da Torá aprendeu, pois a Torá é a única declaração imutável e inalterada do plano de D'us para a criação. De forma contrária, quanto mais longe a pessoa precisa ir em direção a adotar o modelo de raciocínio e categorias conceituais da Torá, mais as contradições e desacordos da vida a incomodarão.

Embora o bom conselho do confidente dirija-se diretamente ao problema da pessoa que nele confia, a nova percepção não o faz. Esta nasce da tensão criada pelo problema, mas seu foco está sobre algo muito maior: a raiz do problema, a percepção inconsistente e imatura da realidade que permitiu ao problema existir e desenvolver-se.

O desafio de transformar o amargo em doce é talvez a vocação única de nossa geração. As gerações anteriores não foram tão incomodadas por neuroses profundamente enraizadas como nós, ou não foram tão capazes de lidar com elas diretamente, e portanto sua postura foi ignorá-las e reprimi-las.

Assim identificamos três estágios na fase suavizante da terapia, os quais podem ser vistos em si mesmos como a inter-inclusão de todas as três fases dentro da suavização: submissão dentro da suavização - articulação do problema, separação dentro da suavização - conselhos para lidar diretamente com o mal, e suavização dentro da suavização - transformar (a raiz do) mal em bem.

O terceiro e consumado nível de suavização, o fluxo de novas profundezas no entendimento da pessoa sobre a realidade em geral e a Torá em particular, é uma expressão do aspecto mais profundo da alma Divina judaica. A Cabalá ensina que D'us, o povo judeu e a Torá são de certa forma uma única entidade. Em virtude da completa aniquilação de seu próprio ego, o judeu pode sentir-se como um com D'us e com o intelecto pelo qual Ele criou o mundo, a Torá. O resultado desta tripla identificação é o fluxo espontâneo de novos discernimentos quanto ao significado e relevância da Torá. Conectada à Torá em sua fonte, a alma Divina judaica serve como um conduíte para a revelação da Torá na realidade, no contexto de sua personalidade individual.

     
   
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