O Mistério do Casamento - parte 13
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Retificando a discórdia doméstica

De nossa descrição anterior sobre como um relacionamento entre um rasha e D'us torna-se retificado, podemos supor o seguinte confronto entre marido e mulher.

Quando um homem vê sua mulher opondo-se a ele, deveria suspeitar que ele é o culpado. Talvez tenha projetado uma imagem de desinteresse e distanciamento. Reconhecendo isso, deveria perdoar sua falta de cooperação e devoção, enxergando estas faltas como indicadores úteis para aferir sua própria eficácia no relacionamento com ela e com outros.

O conflito doméstico então serve - seja ou não a intenção consciente da esposa - para desinflar e neutralizar o ego do marido. Reagindo às expressões de insatisfação da esposa com compreensão e consideração - em vez de hostilidade e defensiva - o marido inicia o processo de sua própria auto-correção. Reprimindo sua própria inclinação à ira, e relacionando-se com a esposa com amor, certamente a inspirará a amá-lo em retorno, e o próprio fato de parar de pensar negativamente sobre ela ajudará a melhorar a situação.

Naturalmente, também cabe à mulher considerar um casamento problemático como o resultado de suas próprias falhas. Talvez seus pensamentos, palavras ou ações estejam impedindo o marido de exercer seu desejo natural de relacionar-se com ela de forma mais positiva. Reconhecendo isso, ela pode vir a perdoá-lo e reformular sua perspectiva sobre o relacionamento à uma luz nova e positiva.

O marido, vendo a esposa tomar esta iniciativa, perceberá que o comportamento negativo dela no passado foi na verdade causado pela impressão que tinha de ele ser desinteressado. Ele pode começar aperfeiçoando-se, refinando seu caráter, e especialmente aprendendo como relacionar-se com a esposa de forma amorosa.

Neste ínterim, o cônjuge magoado deveria lembrar a si mesmo que nada ocorre por acidente, e que certamente foi a Divina Providência que o colocou nesta situação difícil, que espera-se seja temporária. Tanto quanto possível, ele deveria tentar cultivar uma atitude de paciência e confiança em D'us, que certamente o está sujeitando a esta provação com algum propósito.

Se a tensão se recusa a ceder apesar destas tentativas, o casal deve enfrentar a possibilidade de que o relacionamento deles é do tipo que somente pode ser retificado se terminar. O divórcio, quando requerido pela Torá, é comparada pela Chassidut ao Êxodo do Egito: um marido que não é o parceiro devotado da esposa é como um Faraó para ela. O divórcio então torna-se uma forma de libertação, redimindo-a de um ambiente escravizante e um apego doentio. Embora não seja fácil, a mulher deve ter fé que achará sua verdadeira alma gêmea (bashert) em outro lugar - assim como os judeus seguiram fielmente a Moshê pelo deserto e descobriram seu verdadeiro Amado esperando por eles no Monte Sinai.

Mesmo se é decidido que o divórcio é necessário, ainda não há razão para o casal ter má vontade um com o outro - ou com D'us. De acordo com as atitudes delineadas acima, deveriam considerar o tempo que passam juntos como um decreto da Divina Providência, ou como um modo necessário de ocasionar um certo estágio da retificação de suas almas, ou como uma maneira de atingir alguma outra parte do plano de D'us para o mundo. Se eles tivessem sido abençoados com filhos, certamente poderiam considerar o objetivo de seu casamento como sendo o de trazer estas almas ao mundo.

Mais uma vez, apesar destes consolos, o divórcio deveria sempre ser considerado como o último recurso, contemplado apenas quando tudo o mais falhou, pois, como dizem nossos Sábios: "o próprio altar derrama lágrimas quando alguém se divorcia de sua primeira esposa" (Guitin 90b).

A influência da esposa

Considerando que o marido deve abordar a harmonia conjugal como um reflexo de seu próprio desenvolvimento espiritual, a seguinte história do Midrash (Bereshit Rabá 17:7) sugere que a mulher tem o poder de melhorar diretamente o comportamento de seu marido:

Houve certa vez um homem pio que era casado com uma mulher também devota, mas eles não tinham filhos. Disseram: 'não estamos fazendo nenhum bem a D'us,' e se divorciaram. O homem bom então desposou uma mulher perversa, e ela o tornou mau. A mulher devota casou-se com um homem malvado, e ela o tornou devoto. Portanto, vemos que tudo depende da mulher.

Uma mulher aperfeiçoa o comportamento do marido pela fé inata que tem nele, projetando a visão que tem de uma natureza verdadeira e nobre sobre ele, e vendo-o, por assim dizer, através dos olhos de D'us.

Um homem, portanto, trabalha em seu casamento ao corrigir-se em relação à esposa, aferindo seu progresso ao notar a atitude dela (e suas reações) para com ele. Uma mulher, por outro lado, trabalha em seu casamento ao concentrar-se no marido, ajudando-o (quer ele perceba, quer não) a corrigir-se e preencher seu potencial. Ela faz isso aprofundando sua fé em D'us e Sua providência, e pela consciência de Seu propósito na criação (que acarreta a imagem retificada de seu marido e do casamento deles). Por este motivo, ela é chamada de sua "companheira."

     
   
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