O Mistério do Casamento - parte 8
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Cinco exemplos bíblicos de amor à primeira vista

Quanto mais impetuoso for o relacionamento no início, mais difícil será estabilizá-lo depois. Isso é graficamente ilustrado pelos cinco exemplos primários de amor à primeira vista descritos na Torá. O primeiro deles, o de Adam (Adão) por Chava (Eva), está implicado na narrativa de sua criação. Os quatro que se seguem - de Rivca (Rebeca) por Yitschac (Bereshit 24:64-65), de Yaacov por Rachel (ibid. 29), de David por Avigail (Samuel I 25), e o de David por Batsheva (Samuel II 11-12) - são descritos de forma explícita. Estes cinco, em sua ordem histórica, são exemplos decadentes de como a intensidade do amor à primeira vista pode se concentrar em amor maduro e enraizado. Esta habilidade de relacionar-se com outra pessoa com apego profundo e concentrado, é conhecida como da'at (conhecimento).

Quando D'us criou Eva e apresentou-a a Adam, ele exclamou: "Desta vez, osso de meus ossos e carne de minha carne! Esta será chamada "mulher," pois foi tirada do homem." Ao dizer espontaneamente "desta vez," ele expressou seu deleite e interesse espiritual - seu amor à primeira vista - pela sua recém-encontrada parceira.

Antes que Rivca sequer visse Yitschac, ela concordara, com devoção e auto-sacrifício, em contratar casamento com ele. Quando estava a caminho para encontrá-lo, viu um homem aproximando-se pelo campo, e soube intuitivamente que deveria ser ele. Ela experimentou emoções tão intensas de amor à primeira vista, que quase caiu do camelo que montava. Em virtude de ter-se ligado a ele de antemão tão completamente, sua alma foi capaz de reconhecê-lo como sua verdadeira alma gêmea, mesmo antes de se encontrarem formalmente.

Na Cabalá, o casal que, mais que qualquer outro, personifica o amor entre D'us e o povo de Israel - como também exemplifica o estado ideal de amor manifesto entre marido e mulher - é Yaacov e Rachel, cujo relacionamento é também o maior exemplo de amor romântico da Torá.

Como Yitschac, Yaacov sabia que se casaria com a filha de seu parente. Quando chegou ao poço perto de Charan, os pastores lhe contaram que a donzela que se aproximava era Rachel, a filha de seu tio Lavan. Seu amor à primeira vista possibilitou-lhe rolar, com uma só mão, a pedra imensa que cobria o poço no qual os pastores dessedentavam seus rebanhos, a fim de deixar os rebanhos de Rachel beberem. E ele chorou, porque pressentiu que não teria o mérito de ser enterrado com ela (Rashi sobre Bereshit 29:11) e que haveria dificuldades e atrasos antes que pudessem se casar.

Entretanto, seu da'at não estava completo a ponto de ser imune à decepção. Ele sabia apenas que estava para se casar com uma das filhas de Lavan; como não sabia com qual delas, sua preparação psicológica foi condicional. Por isso Lavan foi capaz de enganá-lo, concedendo-lhe primeiro a mão de Lea, no lugar de Rachel. Apesar da intensidade de seu amor por Rachel, na noite de suas núpcias ele não sabia com quem estava se casando.

Em ambos os casos, os parceiros estavam psicologicamente preparados para encontrar a alma gêmea, por isso os fatos se sucederam de maneira relativamente calma. A preparação psicológica para um evento serve como um "alerta" mental, ou um escudo protetor, que controla e orienta as intensas emoções do coração.

Em contraste, o Rei David não estava psicologicamente preparado para nenhum de seus encontros com o amor à primeira vista.

Na primeira vez que encontrou Avigail, estava a caminho para vingar a extrema ingratidão e mesquinhez do marido dela, Naval. Ao vê-la, apaixonou-se e desejou casar-se com ela. Não tendo sido bem preparado para este encontro, seu amor à primeira vista a princípio não tinha um da'at maduro.

Mas Avigail, "a mulher de considerável inteligência" (Samuel I 25:3) convenceu-o de que não deveriam casar-se até que chegasse a hora apropriada. Sendo uma profetisa, ela sabia que David falharia com Batsheva, e ela teria sucesso em convencê-lo a esperar, a fim de não falhar também em seu caso (Talmud Meguilá 14b).Com sua sabedoria e encanto, ela conseguiu acalmar as emoções dele, permitindo-lhe aproximar-se do relacionamento para ser orientado por seu da'at.

No caso de Batsheva, entretanto, a mente de David foi não apenas incapaz de controlar suas emoções, como tornou-se escravo delas. Embora ela estivesse predestinada a ser sua mulher, ele agiu de forma impulsiva, e foi incapaz de esperar para tomá-la até que chegasse a época propícia (Talmud San'hedrin 107a). Quando ela ficou grávida, ele conseguiu que seu marido fosse morto em batalha, para que pudesse desposá-la. Isso é claramente o mais baixo nível do da'at que pode acompanhar a experiência de amor à primeira vista.

     
   
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