O Mistério do Casamento - parte 4
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Cultivando a abnegação

Para que a abnegação seja completa, deve ser cultivada em todas as três áreas do relacionamento humano: com respeito a D'us, com respeito ao próximo (o relacionamento conjugal sendo a forma mais pessoal e intensa desta área) e com respeito a si mesmo.

Com respeito a D'us, a abnegação significa humilde submissão à Sua Vontade; com respeito ao cônjuge, significa encontrar neste a alma predestinada (bashert) e relacionar-se com ele ou ela neste nível; com respeito a si mesmo, significa refinar o próprio caráter.

Nossa consciência normativa, segundo a Cabalá e Chassidut, é apenas uma pequena parte da consciência de nossa alma, que abrange níveis adicionais e módulos de consciência dos quais geralmente não estamos cônscios. Diz-se destes níveis adicionais que eles nos "rodeiam", pois geralmente não está em nosso poder concentrarmo-nos neles. Em contraste, diz-se que nossa consciência normal está "dentro" de nós, significando que somos capazes de acessá-la e controlá-la num nível maior. Os níveis circundantes são considerados como sendo "mais elevados" ou mais "distantes", pois geralmente estão além de nosso entendimento, ao passo que os níveis interiores são considerados como sendo "inferiores" ou "mais próximos" a nosso alcance.

Em geral, os três aspectos do esforço espiritual requeridos para cultivar a verdadeira abnegação engaja as três maiores divisões da consciência: a "consciência circundante distante," a "consciência circundante próxima," e a "consciência interna."

 
Esfera de retificação
Nível de consciência
Devoção à vontade de D'us
Circundante distante
Reconhecimento da alma gêmea
Circundante próximo
Refinamento do caráter
Interna
 

Especificamente, aprendemos que a alma compreende cinco níveis de consciência, dois "circundantes" e três "interiores." Estes, em ordem descendente, são:

 
Nível de consciência
Nível da alma
Nome hebraico
Tradução
Circundante distante
Yechidá
Único
Circundante próximo
Chayá
Vivo
Interna
Neshamá
Sopro de vida
Ruach
Espírito
Nefesh
Força de vida inata
 

A fonte do compromisso do judeu de cumprir a vontade de D'us é a absoluta devoção a Ele, intrínseca no mais elevado dos cinco níveis da alma, o Yechidá. O Yechidá é a essência irredutível da consciência, ciente de nada mais além da realidade absoluta e toda abrangente de D'us.

Na prática, a pessoa raramente está consciente deste nível de sua alma; geralmente funcionamos no contexto de desejos e motivos a curto prazo. Mas em última análise todos os desejos de alguém reduzem-se à vontade de existir (ou a ampliar e expandir sua existência). Esta vontade por sua vez está baseada e permeada com o prazer vivenciado (ou assumido) em existir, que está baseado na fé de que a existência é real. Visto que a única realidade verdadeira é D'us, a Yechidá reconhece D'us como sua única fonte de prazer e o objetivo de sua vontade. Esta consciência é subjacente a todo pensamento consciente. Dessa maneira, considera-se que a Yechidá está sempre presente nos bastidores, "rodeando" e motivando a cognição consciente da pessoa e influenciando de longe seu processo de tomar decisões.

A habilidade de reconhecer a verdadeira alma gêmea de alguém deriva da Chayá, o segundo mais elevado dos cinco níveis da alma. A Chayá é o nível no qual a sabedoria inata da alma (chochmá) é manifestada. Esta também, está normalmente fora dos domínios da consciência e é revelada apenas ocasionalmente como lampejos Divinamente inspirados de percepção. Também, visto que penetra a mente consciente mais freqüentemente que a Yechidá, é descrita como rodeando mais de perto os pensamentos conscientes de alguém.

Embora qualquer lampejo de percepção seja uma experiência da Chayá de alguém, a percepção quintessencial é a consciência de que a alma de alguém provém de uma fonte comum a todas as outras almas, como diz (Malachi 2:10): "Não temos todos apenas um único Pai?" O caso mais pessoal disso é a consciência da raiz da alma que a pessoa compartilha com o cônjuge.

O contínuo processo de auto-retificação e refinamento de caráter envolve relacionar-se com o próximo com genuína bondade e altruísmo, ao mesmo tempo em que se faz o máximo para anular todos os motivos egocêntricos e egoístas. Este esforço concentrado da mente e do coração engaja os três níveis interiores e conscientes da alma, a Neshamá, Ruach e Nefesh.

Em particular, a Neshamá é o nível da mente (a inteligência ativa da alma); o Ruach é o nível do coração (os atributos emocionais); e o Nefesh é o nível de ação em geral e de traços comportamentais em particular.

Através de esforço espiritual concentrado, a pessoa pode refinar sua habilidade de perceber a realidade em verdade e em profundidade, sensibilizar seu coração a reagir apropriadamente aos fenômenos da vida, e adquirir uma "segunda natureza" retificada quando se trata de ação e comportamento.

É um princípio geral que "quanto mais elevada a entidade, mais baixo ela desce" (Likutei Torá 2:34c). Dessa maneira, aprendemos em Cabalá e Chassidut que o nível mais elevado da aula, a Yechidá - a origem do compromisso consciente de alguém de cumprir a vontade de D'us - é mais manifestado no nível inferior, o Nefesh, através das sempre crescentes boas ações de um indivíduo.

O segundo nível mais elevado da alma, a Chayá - a percepção que reconhece a unidade essencial de todas as almas - manifesta-se ao segundo nível mais baixo, o Ruach, quando a pessoa retifica suas emoções e aprende a relacionar-se com o próximo com bondade.

Isto deixa a Neshamá como ponto central da alma. E, na verdade, o foco primário do esforço espiritual de alguém frente a frente com sua alma é sua Neshamá, seu intelecto maduro e poder de percepção a respeito da realidade aparentemente separada. Através de meditação concentrada, a pessoa pode treinar sua mente para perceber corretamente a realidade, tanto no que tange a ver a presença de D'us no mundo (Divina Providência) como em entender outras pessoas e seus inter-relacionamentos.

A percepção refinada da realidade da pessoa (Neshamá) provocará então emoções retificadas no coração (Ruach, inspirada pela Chayá), que, por sua vez, motiva alguém a aumentar continuamente suas boas ações (Nefesh, refletindo a Yechidá).

     
   
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