O Mistério do Casamento - parte 3
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As duas árvores do Jardim do Éden

O fato de que um bom casamento depende do abandono do egocentrismo é sugerido na passagem que precede a descrição da criação da mulher (Bereshit 2:9, 16-18):

"E D'us fez crescer do solo toda árvore agradável à vista e boa para comer, e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal... E D'us ordenou a Adam (Adão), dizendo: 'Pode comer de todas as árvores do jardim. Mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, pois no dia em que comer dela certamente morrerá.' E D'us disse: 'Não é bom para o homem ficar sozinho; farei para ele uma companheira.'"

O mal enraíza no homem quando ele se concentra em si mesmo e em seus próprios desejos, em vez de em D'us e Seus desejos (ou, em nível mais profundo, quando se considera independente ou separado de D'us). Com esta orientação, avalia toda experiência apenas em termos de seu próprio senso subjetivo do bem.

Na Cabalá e na Chassidut, está explicado que o bem contaminado pelo egoísmo é representado pela árvore do conhecimento do bem e do mal, ao passo que o bem verdadeiro e inalterado é representado pela árvore da vida. Ao ordenar a Adam que não comesse o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, D'us o estava advertindo a não mesclar o bem e o mal escolhendo o caminho do egocentrismo e da auto-orientação.

Comer do fruto proibido fez o espírito do homem tornar-se abertamente auto-consciente e egocêntrico. Sua sensação de bem não é mais pura e Divina, mas um misto de bem e mal; ele considera algo bom apenas se for auto-gratificante. Se sua atitude é deixada sem ajuste, o mal terminará por abafar o bem, como nos sonhos do Faraó (Bereshit 41:1-7); a apreciação da pessoa pelo bem - e mesmo a crença de que algo possa realmente ser bom - desaparecerá. Por sua vez, isso provocará um sentimento de amargura em relação à vida, pois a pessoa passará a culpar os outros pelos desapontamentos e sofrimento da vida. Havendo dessa forma posto a causa de seu sofrimento fora de sua esfera de influência, a pessoa vê a si mesma como uma vítima indefesa das circunstâncias e da malevolência.

Os dois estados de consciência simbolizados pelas duas árvores são expressos primariamente na maneira do homem relacionar-se com a mulher. Ao proibir Adam de comer o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, D'us o estava ensinando como relacionar-se com sua esposa a ser criada: "Não misture lascívia egocêntrica e desejo pela auto-gratificação com a experiência do bem verdadeiro e puro."

Em toda a narrativa da criação, a criação da mulher é o único ato criativo descrito como retificando uma situação inferior. Além disso, a situação prévia (quando Adão estava solitário) não é simplesmente descrita como "má", mas sim como "não boa", sugerindo que o estado precedente parecia ser bom, mas na verdade não o era. Para chegar ao estado verdadeiramente bom, D'us precisou criar a mulher.

Neste contexto, "não bom" é a incorporação, no espírito do homem, do bem aparente, relativo. Este bem aparente é o estado existencial do homem estar sozinho, i.e., egocêntrico e unicamente preocupado com si mesmo.

Um marido com esta orientação está se alimentando da árvore do conhecimento do bem e do mal. A menos que se reoriente em direção à bondade e à verdadeira vida, "no dia em que comeres dela certamente morrerás," ele terminará por dizer: "Acho a mulher mais amarga que a morte."

     
   
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