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Rabi
Yehuda bar Ilai
Muitos dos grandes Sábios eram sustentados por "mesas"
espirituais ricamente guarnecidas com as iguarias mais refinadas, ao passo
que suas mesas físicas estavam quase vazias. Um destes Sábios
foi Rabi Yehuda bar Ilai, que viveu na época do nasi (príncipe)
Rabi Shimon ben Gamliel. Ele não dava importância ao fato
de comer apenas os alimentos mais simples, ou que lhe faltasse o que vestir.
Seu estudo de Torá era suficiente para nutri-lo, a tal ponto que
ele reluzia de felicidade e saúde.
Certa vez ele estava estudando com seu professor Rabi Tarfon, quando este
observou surpreso: "Por que hoje seu rosto está reluzindo
como ouro?" Rabi Yehuda respondeu: "Ontem seus criados serviram
teradim (um tipo de carne não muito caro) para comermos, e estava
delicioso e saudável. Embora tivéssemos de comer sem sal,
pois não havia dinheiro para comprá-lo, estava bom. Se tivesse
sido possível comprar o sal, os teradim teriam sido ainda mais
saborosos, e nossa aparência seria ainda melhor."
Rabi Yehuda jamais se vestia da maneira nobre que convém a uma
pessoa de sua estatura. Na verdade, ele não possuía qualquer
roupa quente. Um dia sua esposa conseguiu comprar um pouco de lã
de não tão boa qualidade por um preço baixo. Ela
a fiou e transformou em tecido. Com este material, fez uma túnica
solta que podia ser usada como capa. Ela até a enfeitou com bordados,
para dar uma aparência mais refinada, como convinha ao seu ilustre
marido. Como este tipo de veste era usado, naquela época, tanto
por homens quanto por mulheres, Rabi Yehuda e a mulher o compartilhavam.
Quando ela precisava ir até o mercado, vestia a capa; quando Rabi
Yehuda ia para o salão de estudos, era sua vez de usar o novo traje.
Ele ficava, na verdade, tão contente por possuir este casaco quente
que compôs uma bênção especial a ser recitada
antes de vesti-lo:
"Bendito seja D’us que me embrulhou nesta
capa." Não era importante que o casaco fosse feito de lã
grosseira, ou que outros possuíssem casacos de melhor qualidade
– Rabi Yehuda estava completamente satisfeito com o seu, e jamais
prestava atenção aos outros.
Certa vez Rabi Shimon ben Gamliel declarou um dia de jejum público
e oração devido a um problema que atingira a comunidade
judaica. Em dias como esse era costume que todos os Sábios se reunissem
na residência do Nasi para rezarem juntos. Desta vez, também,
todos compareceram, com exceção de Rabi Yehuda bar Ilai.
Acontece que quando o dia de jejum foi proclamado, a esposa de Rabi Yehuda
estava usando o casaco que pertencia aos dois. Rabi Yehuda, não
tendo o que vestir para se agasalhar, foi incapaz de fazer companhia aos
colegas. Rabi Shimon notou sua ausência com surpresa, e pediu aos
outros Sábios que descobrissem o motivo para Rabi Yehuda não
comparecer. Eles explicaram ao Nasi que Rabi Yehuda não fora porque
não tinha casaco. Quando o Nasi soube disso, enviou um mensageiro
com um belo casaco novo à casa de Rabi Yehuda. Quando o mensageiro
chegou, Rabi Yehuda estava sentado num capacho no chão, estudando
Torá. "O Nasi enviou este casaco para o Rabi como presente"
– disse o mensageiro. "Ele solicita que Rabi Yehuda o vista
e vá rezar com os outros Sábios."
Rabi Yehuda respondeu: "Não preciso de presente, pois já
tenho um casaco, graças a D’us. Minha mulher voltará
logo, e então poderei ir à casa do Nasi. Não preciso
de nada: como pode ver, sou bastante rico." E com estas palavras
ele levantou um canto do capacho sobre o qual estava sentado. Ali, reluzindo
como fogo, estavam centenas de dinares de ouro. O mensageiro ficou sem
fala ao contemplar tamanha fortuna. Rabi Yehuda disse: "Veja, eu
tenho grandes riquezas se eu quiser, mas não desejo me beneficiar
deste mundo mais do que o necessário." À medida que
ele falava, as moedas desapareceram, cumprindo o desejo que tinha expressado.
Rabi Yehuda viveu como sempre, na pobreza. Mas estava satisfeito com aquilo
que tinha, e era um exemplo das palavras dos Sábios:
"Quem é um homem rico? Aquele que está satisfeito com
o seu quinhão." |