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  Uma palavra de Torá  
 
Por Lori Palatnik
 

Imagine alguém entrando em sua sala de jantar neste momento. Com o kidush e hamotzi completos, como a pessoa saberia que esta refeição é mais que apenas um belo jantar festivo?

Não saberia, se não fosse por dois elementos importantes: as canções e o Devar Torah – a "Palavra de Torá".

O Shabat celebra a Criação. É um dia no qual reconhecemos que o Todo Poderoso nos deu um presente maravilhoso – um mundo repleto de prazeres.
O desafio da humanidade é: como a pessoa extrai este prazer para a suprema experiência de vida?
Lendo o manual.

Um piloto não entra na cabine de um 747, gira as chaves e sai voando. Ele estuda, lê o manual, aos poucos absorve as instruções, testa o equipamento, e por fim atinge as alturas. Assim também é com a vida. D'us não criou o mundo, jogando-nos no "assento do piloto" e depois negligencia em nos dar as instruções sobre o vôo.

A palavra Torá significa "instruções". É chamada de Torat Chaim – "instruções para a vida". Não é apenas uma história de nosso povo, ou um amontoado de histórias. É o manual de instruções que, se lido adequadamente, pode nos dar a chave de todos os prazeres da vida.

A Torá é um livro de sabedoria que tem aplicação na nossa vida hoje; para ajudar-nos a ser pessoas, cônjuges, filhos, pais e amigos melhores. Para ajudar-nos a conseguir o melhor deste mundo, consultamos algo eterno, prático e relevante: olhamos para a Torá.

Como fazer
Devar Torah significa literalmente "a "Palavra da Torá" e geralmente é uma breve palestra sobre a porção semanal, embora possa ser sobre algo significativo e judaico. Talvez uma festa esteja se aproximando, ou uma importante celebração, como um casamento ou berit milá. Aborda o significado e as tradições do evento e como podemos apreciá-lo e crescer com ele.

Se for bem escolhido, o Devar Torá deveria ser o trampolim para uma discussão animada à mesa, com todas as perguntas sendo bem recebidas, venham de jovens ou idosos. Com freqüência vemos pessoas pegando livros de referência nas prateleiras para encontrar passagens que corroborem suas idéias.

Crianças que freqüentam escolas judaicas com freqüência levam para casa listas de questões sobre a porção semanal da Torá. Isso pode transformar a reunião num show de perguntas e respostas, com os pais fazendo as questões, distribuindo prêmios de doces para as respostas corretas ou pelas "boas tentativas" das crianças e dos convidados. Todos acabam participando e cada um termina por aprender alguma coisa.

Parashá: novas idéias e conceitos a cada semana
A Torá está dividida em 54 porções, cada qual chamada de "parashá", com uma porção lida a cada semana na sinagoga na manhã do Shabat. Ocasionalmente, há semanas com porções duplas.
Para saber qual é a parashá da semana, pergunte ao rabino ou ao seu professor, ou consulte um calendário judaico.

Tente ler uma parashá por semana – em hebraico ou português. Muitas pessoas experimentam uma incrível sensação de força, sabendo que milhares e milhares de judeus em todo o mundo estão lendo aquela mesma parashá.

Existem numerosos livros disponíveis que apresentam alguns pensamentos relevantes sobre a parashá semanal. Ler um ou dois parágrafos em voz alta é uma boa maneira de animar a conversa, ou apenas leia primeiro para si mesmo e depois apresente as idéias informalmente aos convidados e sua família.

Se você aprecia o estilo livre, aqui vão algumas sugestões de tópicos adultos:

  • Quem são nossos heróis? Por quê?
  • Qual é o objeto mais prezado que possuo? Por quê?
  • Se eu ganhasse na loteria eu…
  • Quanto de materialismo é bom para mim?
  • A lição mais importante que sei sobre a vida é…
  • Existe algum motivo para não casar com um não-judeu?
  • Eu já presenciei o anti-semitismo?
  • Qual é mais provável – Criação ou Evolução?
  • Estou enfrentando ou fugindo dos meus problemas?
  • Qual a maior crise que este país enfrenta?
  • Por que as pessoas fofocam, e vale a pena parar?

Tente manter a discussão afastada de esportes, filmes e política. Em vez disso, tente focalizar a pessoa, a família e a comunidade.

Às vezes eu sinto que se não fosse pelo Devar Torá, a refeição do Shabat seria apenas uma reunião. Ir à casa de alguém para o Shabat seria o mesmo que sair para jantar.
Em nossa casa, meu marido geralmente lança um Devar Torá assim que a conversa começa a ficar "comum". Ele sempre dirige o foco para coisas mais importantes. Nossos convidados parecem gostar muito. É como se eles quisessem ser assim todas as vezes, mas fossem tímidos para iniciar um assunto mais sério. Então nós fazemos isso, e eles participam. A abordagem é sempre sobre a vida: desenvolvimento de caráter e nosso relacionamento com D'us. São muitas histórias, e as pessoas sempre se surpreendem sobre o quanto a Torá é relevante. Quando vão embora, sempre levam "alimento para a alma" e um pedaço de sabedoria para aplicar em sua vida.

A primeira vez que ouvi pessoas dando Devar Torá à mesa do Shabat, imediatamente classifiquei-as em duas categorias: aquelas feitas porque é aquilo que se deve fazer, então façamos; e aquelas feitas com o coração. A primeira é vazia, e a segunda é verdadeira. Aquelas que permaneceram comigo de maneira positiva foram quando, posso dizer sinceramente, as pessoas realmente acreditavam naquilo que diziam.

Sempre me senti um pouco desajeitada quando as pessoas davam início a um Devar Torá. Era tão… pesado. Mas então comecei a sentir que se nada fosse dito, alguma coisa estava faltando, a tal ponto que atualmente, se faço uma refeição com a família ou amigos durante a semana, sinto que alguém deveria dizer alguma coisa! Comer e conversar sobre os eventos atuais apenas não parece mais certo… suponho que se pode dizer que a parte mais substancial da refeição são as palavras de Torá, não o assado.

Preciso de 15 ou 20 minutos para preparar algumas palavras de Torá. Geralmente é uma simples questão de ler a parashá, e escolher uma ou duas linhas que parecem se relacionar com aquilo que se passa no mundo hoje. Então apenas transmito minhas idéias à mesa do Shabat e o debate começa.

Os Shabatot mais agradáveis são aqueles nos quais nossas palavras e idéias realmente fazem as pessoas se sentirem bem, e estimulam a conversa tornando-as mais receptivas a novos caminhos e descobertas.

Tente fazer perguntas que explorem temas abordados em cada porção semanal da Torá. Então verá a reunião familiar transformar-se em uma verdadeira mesa de Shabat.

 

 

 
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