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  Um momento especial  
 
Por Yehudit Cohen
 

É tarde de sexta-feira. A neve cai pesada e densa, e um sentimento de nostalgia me domina. Geralmente não vemos neve como essa em Nova York.

Consulto meu relógio. Uma hora ainda para acender as velas de Shabat. Entro no carro e rumo para casa. Na verdade, estou dirigindo de volta à casa de meus pais em University Heights, um subúrbio de Cleveland, Ohio. Mas, como diz o ditado, "O lar é onde mamãe está". E eu, embora casada há quase 22 anos, de certa forma ainda sinto que a casa de meus pais será sempre "lar".

Apresso Dov Ber e Chaya, dois de meus filhos que estavam visitando Bobe e Zeidy, para entrarem. Eles tomam banho e vestem suas roupas de Shabat. Provo a sopa fumegante e acrescento um pouquinho mais de sal. Confiro o cholent e decido que talvez eu ceda e compre uma panela especial, finalmente.

Temporizadores elétricos para as lâmpadas: ligados. maquiagem: pronta. Dinheiro: colocado na tsedacá. Velas: prontas para serem acesas.

Chaya acende uma vela. O Lubavitcher Rebe iniciou uma Campanha de Acendimento de velas de Shabat em 1972. Naquela ocasião, o Rebe insistiu para o restabelecimento do costume judaico de meninas acenderem as velas a partir dos três anos, ou assim que possam recitar a bênção. O costume tinha sido negligenciado durante os anos da guerra, quando era difícil para a mãe conseguir o mínimo de duas velas, quanto mais velas para suas filhas solteiras.

Minha mãe acende duas velas. Observo enquanto ela cobre os olhos e então eu dou início ao processo de acender 12 velas, uma que acendo desde meus três anos, uma que acrescentei ao me casar, e dez que tenho adicionado no decorrer dos últimos vinte anos, quando nasceu cada um de meus filhos. Uma vela para cada filho. Uma luz física simbolizando a luz espiritual que cada criança traz ao mundo. Porque "a lamparina de D’us é a alma de uma pessoa."

Recito as preces apropriadas e ardentes preces pessoais, pois o momento do acendimento das velas é muito propício para nossos pedidos. Abro os olhos e vejo minha mãe lendo um cartão laranja. Pergunto-me que fórmulas especiais de prece há naquele cartão.

Mais tarde, depois do kidush com o vinho e hamotsi sobre a chalá, depois do guefilte, saladas e sopa. Depois do frango e kugel e legumes sauté. E depois da Bênção após as Refeições, eu me retiro para uma deliciosa leitura na espreguiçadeira. Então me lembro do cartão. Vou até o buffet, apanho o cartão e volto com ele até a espreguiçadeira.

"Nosso D’us e D’us de nossos Pais, grande, misericordioso e reverenciado. D’us, nós Te suplicamos, em Tua abundante misericórdia restaura o mundo a sua verdadeira base, sob a orientação de reis e governantes que reinem com justiça e honestidade, sem discriminação entre nação e nação, raça e raça.

"Nós Te suplicamos, ó D’us misericordioso e generoso, guia nosso ilustre Presidente a quem escolheste como líder dos Estados Unidos. Fortalece e encoraja a ele e seus honrados ministros e conselheiros de estado, e os honrados representantes dos cidadãos nas duas casas do Congresso. Abençoa seus esforços para salvar este país e os países vizinhos da guerra e destruição, e para onde quer que eles se voltem pela causa da humanidade e em benefício deste país e em benefício de Teu povo Israel, envia os anjos de bênção e sucesso para recebê-los, e faz com que a guerra e suas calamidades cheguem ao fim e uma era de paz e justiça, com suas bênçãos, tenha início em nossos dias. Amen" "Prece pela Guerra da Nação", por Rabi Yossef Yitschac.Schneersohn (O Rebe Anterior), o cartão diz: "Escrito cerca de 1940 e relevante atualmente", declara. Eu concordo.

Olho no outro lado do cartão. Um parágrafo intitulado "Prece pela paz" está impresso ali.

"Que seja Tua vontade, Hashem, meu D’us e D’us dos meus antepassados, que Tu estabeleças a paz duradoura em Israel com bondade, bênçãos, generosidade, e compaixão sobre nós e sobre todo o Teu povo de Israel. Ouve, por favor, minha súplica nesta hora pelo mérito de Sara, Rivca, Lea e Rachel, pois nos conectamos com todas as mulheres no acendimento das velas do Shabat – mães, avós, filhas e irmãs – através do tempo e através do espaço – e faz nossa luz brilhar para sempre e nunca seja extinta. Em memória de todas as vítimas inocentes que foram desnecessariamente assassinadas – responde-nos Hashem, pois estamos em grande aflição – não ignora nossas preces pois Tu, Hashem, é Aquele que responde nos tempos de aflição. Aquele que faz a paz em Suas alturas, que Ele nos dê a paz, e sobre todo Israel – e deixa-nos dizer Amen. Bendito sejas, Hashem, que respondes em tempos de aflição."

A oração é precedida por uma nota: "Tradicionalmente, as mulheres utilizam o acendimento das velas do Shabat como um momento especial para a recitação de preces pessoais e pedidos. Agora, mais do que nunca, devemos aproveitar esta oportunidade para incluir uma prece pela paz em Israel – uma prece para cessarem as mortes e a violência – uma prece para trazer paz duradoura à Terra de Israel e ao povo de Israel, seja aonde estiverem."

O cartão foi criado e distribuído pelas mulheres do Beit Chabad em Cleveland.
Estou sentada em meu escritório no Brooklyn, digitando as orações para compartilhar com os leitores de L'Chaim. A neve cai pesada e rápida, e um sentimento de nostalgia me domina. À medida que a neve rodopia fora da janela, as palavras das duas preces se entrelaçam em minha mente: "Que seja Tua vontade, Hashem, meu D’us… que Tu estabeleças paz duradoura em Israel com bondade, bênçãos, generosidade e compaixão sobre nós e sobre todo Teu povo Israel… que faças a guerra e suas calamidades chegarem ao fim e uma era de paz e justiça com suas bênçãos tenha início em nossos dias…”

 

 

 
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