Como descrever o sentimento de um pai que acaba de saber que um tumor maligno está destruindo o cérebro de seu filho de dez anos de idade? O médico sugerira várias possíveis abordagens para o tratamento, porém fora brutalmente honesto sobre as chances. Tudo que Eli e Sharon poderiam realisticamente esperar eram uns poucos dolorosos meses mais de vida para o seu filho, Menashe.

E então, na madrugada de uma noite insone, Eli pensou no Rebe. Tanto ele como Sharon foram criados em lares não-religiosos, mas nos últimos anos tornaram-se mais envolvidos no estudo e prática da Torá. Tudo começou numa palestra que haviam assistido na Casa de Chabad próxima à sua casa em Paris, onde pela primeira vez foram expostos aos ensinamentos do Rebe. Pela primeira vez na vida deles, a fé de seus pais lhes foi apresentada como um guia vibrante a uma vida plena de significado e realização. Conquanto Eli e Sharon dificilmente descreveriam a si mesmos como “religiosos,” muito menos como chassidim, desenvolveram profundo respeito pelo Rebe e começaram a cumprir várias mitsvot básicas como Shabat, cashrut e tefilin.

Eli tinha ouvido histórias daqueles que receberam ajuda pelas bênçãos do Rebe. Agora apegava-se à idéia de escrever ao Rebe como sua única esperança num mar de desespero. Se apenas o Rebe prometesse uma rápida recuperação para Menashe!

Alguns dias depois, o telefone tocou na casa de Eli. Era o secretário do Rebe, reportando que a resposta do Rebe à carta deles era: “Pretendo mencioná-lo no túmulo.”

“O que significa isso?” perguntou Eli.

“Quer dizer que o Rebe rezará por vocês quando visitar o túmulo de seu sogro, o Rebe Anterior, onde costuma orar por todos aqueles que lhe enviam pedidos de bênção.”

“Mas eu queria a bênção do Rebe… queria que ele nos dissesse que Menashe se recuperará…”

“Mas o Rebe deu sua bênção a vocês. Esta é a resposta padrão para tais pedidos. Os chassidim consideram uma promessa do Rebe de rezar por alguém como garantia de que tudo vai dar certo."

Eli desligou o telefone, um pouco mais confiante. Mesmo assim, tinha esperado algo mais definitivo, mais promissor. Porém se o secretário diz que a bênção foi enviada pelo Rebe…

Enquanto isso, as condições de Menashe continuaram a se deteriorar. O tratamento trouxe muito sofrimento e pouco alívio. Logo precisou ser hospitalizado. Impotentes, os pais assistiam a vida se esvaindo do filho.

Eli telefonou para o escritório do Rebe. “Olhe, sei que já recebemos a bênção do Rebe, mas não parece ter ajudado. Menashe vai de mal a pior. Os médicos dizem que cada dia a mais é um milagre… Talvez se pedíssemos novamente? Talvez o Rebe possa dizer algo mais definido…” O secretário concordou em fazer chegar uma mensagem.

A resposta veio dentro de uma hora, mas foi a mesma da vez anterior: “Pretendo mencioná-lo no túmulo.” E os médicos nada tinham de bom a dizer.

Na noite seguinte, Eli chegou ao seu apartamento para um breve descanso de duas horas. Sharon ficara no hospital. Logo ele a substituiria, para que ela também pudesse repousar um pouco. Mergulhou no sofá, chutou longe os sapatos, olhando para o aposento em desordem. Receitas médicas sobre a mesa, roupas jogadas aqui e ali, restos de refeições. Seus olhos então pousaram no retrato do Rebe, pendurado sobre o consolo da lareira. O Rebe estava sorrindo.

Uma onda de fúria ferveu nele. Menashe está à morte no hospital, e você sorri! Irrefletidamente, Eli alcançou um dos sapatos no chão. Houve um estrondo, uma chuva de vidros estilhaçados, e o quadro foi para o chão…

Dois anos depois, numa manhã de domingo no Brooklyn, um pai e filho estavam juntos na fila com milhares de outros esperando para ver o Rebe. Enquanto a longa fila serpenteava passando pelo Rebe, este dava a cada pessoa uma nota de um dólar que deveria ser doada em seu nome para caridade, murmurava uma bênção em poucas palavras, e voltava-se para o próximo na fila. Deste modo, o Rebe devotava alguns segundos para cada uma das dezenas de milhares de pessoas que vinham de todas as partes do mundo para encontrá-lo.

O Rebe deu um dólar ao pai, e então dirigiu-se à criança. “Então este é Menashe,” disse com um sorriso. “Como está ele?” Eli demorou alguns segundos para responder. Como era possível que o Rebe soubesse quem eram? Era a primeira vez que vinham a Nova York, e exceto por aquelas duas breves cartas daquela época…

“Ele está bem, graças a D-us” – Eli finalmente conseguiu responder – “uma recuperação total. Os médicos disseram que foi um milagre. Obrigado pelas bênçãos do Rebe.”

“Graças a D-us, graças a D-us,” disse o Rebe; e em seguida, baixinho: “Eu ainda posso sentir aquele golpe…”