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Chaim
Tzvi Schwartz não era chassid de Lubavitch antes da guerra,
sua família havia sido seguidora do Rebe de Munkatch – mas em um
certo dia do ano de 1946, achou-se buscando conselhos do então Rebe de
Lubavitch, Rabi Yossef Yitschac Schneerson. Rabi Schwartz era um jovem refugiado que
havia perdido toda sua família e o único mundo que conhecia, no Holocausto,
e não sabia o que fazer com sua vida. “Fale com meu genro, Rabi Menachem Mendel
Schneerson,” disse o Rebe, e deu sua bênção a Chaim. O genro do Rebe sugeriu que o jovem Rabi
fixasse residência numa certa cidade do Brasil. “Brasil?” “Há um grande número de refugiados judeus
estabelecendo-se no Brasil. Devido às tribulações que nosso povo tem passado
nos últimos anos, muitos deles carecem até mesmo dos mais básicos rudimentos
de educação judaica. Muitos já haviam se tornado presas de assimilação
e casamentos mistos. É a responsabilidade de cada judeu educado em Torá
prevenir a dissolução espiritual de nosso povo. Vá ao Brasil e ajude a
construir uma comunidade de judeus instruídos e observantes.” Rabi Schwartz aceitou a missão, mudou-se
para o Brasil e fundou uma externato judaico. Muito esforço e luta foram
necessários para conseguir os fundos necessários, treinar os professores,
além de convencer os pais da importância de garantir aos filhos uma educação
judaica. Através dos anos, Rabi Schwartz viu sua escola florescer e aumentar,
e os diplomados formarem o núcleo de uma comunidade de judeus orgulhosos
e comprometidos com o judaísmo. Rabi Schwartz mantinha um caloroso, embora
esporádico, contato com o homem que o havia mandado ao Brasil, e que neste
meio tempo assumira a liderança do movimento Chabad Lubavitch, após o
passamento de seu sogro em 1950. De tempos em tempos, Rabi Schwartz procurava
o conselho do Rebe sobre vários desafios e decisões que enfrentava no
desenrolar de seu trabalho. Foi numa destas ocasiões, muitos anos
após sua chegada ao Brasil, que Rabi Schwartz percebeu o alcance da preocupação
do Rebe por seu povo. Rabi Schwartz relatou este incidente a um chassid
de Lubavitch que encontrou num vôo do Brasil para Nova York. Certo dia – começou ele – recebi um chamado
dos pais de uma criança de minha escola, solicitando um encontro. Conquanto
este fosse um pedido comum, a ansiedade nas vozes pelo telefone sugeriu-me
que não era assunto simples. Convidei-os a ver-me em casa naquela noite.
“Não é a respeito de nosso filho,” começou
o pai, após terem-se acomodado em meu escritório, “que por sinal vai maravilhosamente
bem na sua escola, mas sobre nossa filha mais velha, que cresceu antes
de vocês chegarem aqui. Como sabe, não somos muito observantes, mas é
importante para nós que nossos filhos mantenham sua identidade como judeus.
Eis porque mandamos nosso filho para cá, a despeito do fato de que sua
escola seja consideravelmente “mais religiosa” que nós mesmos. “Para ir direto ao assunto, nossa filha
nos informou que está apaixonada por um não-judeu e que eles pretendem
se casar. Tentamos todos os recursos para dissuadi-la, mas nossos argumentos,
apelos, ameaças e lágrimas têm sido em vão. Ela agora recusa-se a discutir
o assunto conosco e mudou-se de nossa casa. Rabi! Você é nossa única esperança!
Talvez consiga influenciá-la, talvez consiga fazê-la entender a gravidade
da traição contra seu povo, seus pais e sua própria identidade pelo que
pretende fazer!” “Ela concordaria em falar comigo?” – perguntei. “Se ela souber que falamos consigo, recusará.” “Então falarei com ela por minha conta.” Peguei o endereço da moça com os pais
e bati à sua porta naquela mesma noite. Ela estava visivelmente aborrecida
ao saber de minha missão, mas era educada demais para não convidar-me
a entrar. Conversamos por muitas horas. Ela ouviu-me polidamente e prometeu
pensar sobre tudo que eu lhe dissera, mas deixei a casa com o sentimento
de que teria pouco efeito sobre sua decisão. Ponderei sobre o assunto por diversos
dias, tentando pensar no que seria possível fazer para impedir a perda
de uma alma judia. Então lembrei-me de meu último recurso – o Rebe. Telefonei
para o secretário do Rebe, Rabi Chadakov,contei a ele todo o caso, pedindo
o conselho do Rebe sobre o que poderia ser feito. Poucos minutos depois
o telefone tocou. “O Rebe falou para dizer à jovem,” disse Rabi Chadakov
, “que há um judeu no Brooklyn que não consegue dormir à noite porque
ela pretende casar-se com um não-judeu.” Esta resposta inesperada confundiu-me,
e não consegui entender o que Rabi Chadakov estava dizendo. “Quem é este judeu?”, deixei escapar. Então ouvi a voz do Rebe na extensão:
“Seu nome é Mendel Schneerson.” Lentamente pus o fone no gancho, mais
confuso que nunca. Poderia eu fazer o que o Rebe sugerira? Ora, ela bateria
a porta na minha cara! Após uma noite agonizante, decidi seguir as instruções
do Rebe ao pé da letra. Afinal, o destino de uma alma judia estava em
jogo, e o que tinha eu a perder, exceto meu orgulho? Bem cedo na manhã seguinte bati à sua
porta. “Ouça,” disse ela antes que eu pudesse
pronunciar uma palavra, a pessoa com quem casarei é assunto meu, e de
ninguém mais. Respeito rabis e homens de fé, por isso o escutei quando
deveria ter-lhe mostrado o caminho da porta. Por favor, deixe-me e pare
de me aborrecer.” “Há algo mais que preciso lhe dizer,”
repliquei. “Então diga, e vá embora.” “Há um judeu no Brooklyn que não consegue
dormir à noite porque você pretende casar-se com um não-judeu.” “É isso que você veio me dizer?!” disse
ela, incrédula, começando a fechar a porta. Parou a meio caminho. “Quem é este judeu?” “Um
grande líder, Rabi Menachem Mendel Schneerson, conhecido como o Rebe de
Lubavitch,” respondi. “O Rebe está muito preocupado com o bem-estar material
e espiritual de cada judeu, e sofre muito por toda alma de seu povo que
se perde.” “Como é a aparência dele? Tem uma foto?” “Devo ter uma foto em algum lugar. Vou
procurá-la e a trarei para você.” Para minha surpresa, ela não objetou,
e concordou com um aceno. Corri até minha casa e praticamente coloquei-a
de pernas para o ar procurando uma foto do Rebe. Finalmente achei um retrato
numa gaveta e corri de volta ao apartamento da jovem. Um olhar às feições do Rebe e sua face
empalideceu. “Sim, é ele mesmo,” sussurrou. “Durante toda a semana,” explicou, este
homem tem aparecido em meus sonhos, implorando-me para não abandonar meu
povo. Disse a mim mesma que eu estava fazendo aparecer esta imagem de
um sábio judeu e pondo as palavras em sua boca como uma reação ao que
você e meus pais têm me dito. Mas não, não foi uma impressão. Nunca vi
este homem em minha vida, nem em fotografia, e nunca ouvi falar dele.
Mas é este – este é o homem que tenho visto nos meus sonhos…” |