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Desde
os dias de antanho é costume judaico cobrir a cabeça o tempo
todo. Assim, a kipá tornou-se uma parte familiar na vestimenta
do judeu.
Geralmente, os judeus aceitam que a cabeça seja coberta quando
estão em locais sagrados, como a sinagoga, ou envolvidos numa ocupação
sagrada, como o estudo de Torá, recitando preces, participando
de refeições, e similares. Na verdade, não há
um tempo na vida do judeu em que ele não esteja na presença
de D’us, nem qualquer parte de sua vida que esteja livre do serviço
a D’us.
Pouco antes do falecimento de Rabi Yossef Y. Schneersohn, de abençoada
memória, foi-lhe feita uma pergunta por um importante cavalheiro
judeu, sobre a importância de manter a cabeça coberta. A
resposta do Rabi, mais tarde complementada por seu sucessor, Rabi Menachem
Mendel Schneerson, forma a base desta breve explanação sobre
a prática de cobrir a cabeça.
O Rabino, de abençoada memória, prefacia sua resposta com
uma referência ao dito do Talmud: "Por que a porção
do Shemá foi colocada antes da porção de ‘E
isto passará, se ouvires diligentemente, etc.?’ Porque a
pessoa deve primeiro aceitar o jugo do reino dos Céus e depois
aceitar o jugo de seus preceitos." (Berachot, 1ª Mishná, cap.
2).
As palavras da Mishná são claras, dizendo que a submissão
do judeu ao reino de D’us e sua aceitação dos preceitos
deve ser de maneira e condição de um "jugo", não
precisando basicamente de explicação intelectual, mas somente
de um reconhecimento de que é o decreto da vontade de D’us.
Para ter certeza, eruditos, sábios e filósofos judeus escreveram
volumes sobre o significado e importância das várias mitsvot.
Mas sejam quais forem os motivos intelectuais para explicar qualquer mitsvá
em particular, eles são realmente imateriais, e de maneira alguma
representam todo o verdadeiro significado da mitsvá; pois a mitsvá
é essencialmente um "decreto" Divino, que está
acima da razão.
Na prática, vemos que aqueles que observam estes preceitos porque
são ordens de D’us, decretados pela Sua vontade – cumprem-nos
fielmente o tempo todo, e em todos os lugares; porém aqueles que
seriam guiados por ‘explicação" com freqüência
incorrem em erro, pois o intelecto humano é limitado, ao passo
que os preceitos são dados por D’us, cuja sabedoria é
infinita.
A prece do Shemá forma o tema central de nossa preces matinais
e noturnas. O Shemá consiste de três capítulos, extraídos
da Torá.
Na primeira porção do Shemá proclamamos a unidade
de D’us e Sua Soberania; Ele é Um, o Criador e Senhor de
todo o universo. Ao mesmo tempo, professamos nossa completa e absoluta
submissão ao reino de D’us, com um amor maior e mais forte
que qualquer outra coisa que tenhamos, incluindo nossa própria
vida.
A segunda porção do Shemá fala das ordens de D’us,
as mitsvot: D’us é o Supremo Juiz, recompensando o cumprimento
de Suas ordens, e advertindo sobre eventuais retribuições
para o não-cumprimento.
A terceira porção foi acrescentada para sua menção
da mitsvá do tsitsit e da libertação do Egito.
Os primeiros dois capítulos do Shemá formam o tema de nossa
discussão.
Nossos Sábios, como foi citado na carta do Rabi, observam que a
ordem das primeiras duas porções do Shemá não
é acidental, mas lógica e proposital. Ela nos diz, antes
de mais nada, que tanto no caso de nossa submissão ao reinado do
Céu quanto de nossa aceitação das mitsvot, elas devem
ser de maneira similar a um "jugo". Em segundo lugar, que o
primeiro pré-requisito de observar os preceitos e praticar nossa
religião é a aceitação da Soberania Divina
com absoluta resignação e submissão.
Na presença do Ser Supremo devemos reconhecer nossa incompetência
intelectual. Esta idéia é transmitida pela expressão
"jugo". A analogia não é utilizada para sugerir
um fardo; longe disso. É usada no sentido de que: a) o animal não
tem idéia do que está por trás da vontade de seu
amo; b) a submissão absoluta do animal; c) o jugo é um meio
de possibilitar que o animal cumpra suas funções.
Nossa fé é baseada na Divina revelação e na
outorga da Torá no Monte Sinai. Aceitamos a Torá no espírito
de "Cumpriremos" (primeiro e (depois) "entenderemos"
(Naassê v’nishmá). A última palavra, como também
no caso do Shemá, não significa apenas "ouvir"
ou "obedecer", mas também "entender". Em outras
palavras, aceitamos a prática de nossos preceitos como decretos
do Supremo Mestre do Universo, na total percepção de que
nosso intelecto humano é limitado, e não consegue apreender
a infinita sabedoria de D’us. Nós não sabemos, nem
podemos saber, o efeito total do cumprimento das mitsvot, o que fazem
por nós e para o mundo à nossa volta.
Quaisquer explicações ou significados que possam ser atribuídos
a qualquer mitsvá deve ser considerado incidental e incompleto.
O método científico é o primeiro a estabelecer os
fatos e então procurar explicá-los. Se uma explanação
satisfatória é encontrada, muito bem; caso contrário,
os fatos ainda continuam válidos, mesmo que o segredo de sua origem
não tenha sido descoberto.
É um fato estabelecido na vida judaica que onde os preceitos, costumes
e tradições judaicos são observados com verdadeira
submissão à sabedoria e vontade Divinas num espírito
de humildade e fé, estes preceitos, costumes e tradições
são preservados e perpetuados. Porém onde eles não
são aceitos neste espírito, e são sujeitos ao escrutínio
intelectual numa busca incessante por uma explicação, e
aceitos porque apelam à razão ou à fantasia, ali
os próprios alicerces do Judaísmo são minados (i.e.,
durante as perseguições religiosas na época das Cruzadas
os judeus da Alemanha não puderam ser convertidos à força;
eles morreram para santificar o nome de D’us ("Al Kidush Hashem").
Na Espanha, porém, onde a Inquisição pôs fim
a uma era dourada de filosofia e pesquisa teológica, as perseguições
religiosas levaram a, comparativamente, numerosas conversões).
Além disso, dizem nossos Sábios, "Aquele que afirma
que esta tradição é boa, e aquela não tão
boa assim, desacredita a Torá (e esta terminará sendo esquecida
por ele – Rashi, Erubin, 64a). Devemos considerar todas as leis
com igual santidade, pois elas foram todas dadas pelo mesmo Legislador,
e todas vêm da mesma fonte.
Cobrir a cabeça tem sido observado por todos os judeus. Está
declarado no Talmud que cobrir a cabeça está associado com
Yirat Shamaim (piedade). Conta-se a história de um menino que era
cleptomaníaco por natureza, mas em virtude de manter sempre a cabeça
coberta e ser bastante cuidadoso a este respeito, sua má natureza
não o dominou. No entanto, quando o vento certa vez lhe desnudou
a cabeça, ele imediatamente se tornou vítima da cleptomania
(Talmud B. Shabat 156b).
Pode-se encontrar algumas inferências simbólicas na observância
da prática de cobrir a cabeça, com base na declaração
de nossos Sábios acima mencionada, que cobrir a cabeça está
associado com piedade. Por exemplo, manter a cabeça coberta demonstra
e nos lembra sempre que há alguma coisa "acima" de nossa
cabeça. Estas interpretações são úteis
somente se, e enquanto, elas ajudam a preservar o preceito, mas de maneira
alguma devem ser consideradas como o motivo para este preceito. O princípio
básico em cumprir uma mitsvá é a percepção
de que a cumprimos pela vontade e sabedoria de D’us.
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