Gemilut Chassadim; Amor e Bondade
   
 

Gemilut Chassadim, o Desempenho do Amor-Bondade, é um termo mais abrangente que tsedacá. Suas implicações e efeitos têm muito mais alcance que aquelas da tsedacá.

Os deveres da tsedacá relacionam-se especificamente aos pobres e se expressam somente em termos de ajuda monetária. Gemilut Chassadim, no entanto, não conhece estas limitações. A mitsvá de Gemilut Chassadim tem por objeto tanto o pobre quanto o rico, e refere-se tanto aos mortos quanto aos vivos. Acima de tudo, sua característica essencial não é monetária. É o envolvimento pessoal1, a atitude e esforço pessoais, que se qualificam para o termo chessed.2

Os deveres legais das obrigações monetárias de tsedacá são limitados. Os deveres legais do envolvimento pessoal de Gemilut Chassadim, porém não têm restrições3.

Gemilut Chassadim, então, é um conceito geral e abrangente para todo o âmbito das diretrizes da Torá relacionadas ao âmbito humano. Todas as mitsvot que se referem a relacionamentos entre seres humanos estão implicados no conceito de Gemilut Cha
ssadim.4

Notas:
1 - Tossefta, Peah 4:19; Sukah 49b; Yerushalmi, Peah L a.
2 - Sukah 49b, e Rashi ali, s.v. ela lefi.
3 - Yerushalmi, ibid; Maimônides, Comentário sobre Peah L 1.
4 - Na verdade, apesar do fato de diferenciarmos entre tsedacá e Guemilut Chassadim, o primeiro, também, pode ser considerado como implicado pelo último.


Torá & Gemilut Chassadim
Os escritos bíblicos e rabínicos estão repletos de referências ao significado, necessidade e qualidades redentoras desta mitsvá. Gemilut Chassadim é o próprio alicerce e pilar do universo.1 Sem justiça social e moralidade, a integridade e compaixão encerradas no conceito de Gemilut Chassadim, não pode haver sociedade; a humanidade não pode existir.2

Nossos Sábios notam que o início, meio e fim da Torá tratam de Gemilut Chassadim.3 Assim, quem diz que não liga para nada exceto a Torá, com a exclusão de Gemilut Chassadim, ele nem sequer tem Torá, como está escrito: "Aprenda-as e tenha o cuidado de cumpri-las" (Devarim 5:1). O estudo de Torá é significativo apenas quando leva a uma real observância das mitsvot.4 Como prova disso, "um am ha'aretz, uma pessoa que não conhece a Torá, não pode ser um chassid (uma pessoa piedosa)", i.e., alguém que realiza chessed.5 Quando ignora os ensinamentos da Torá, a pessoa não pode agir da maneira que a Torá exige.6

É a Torá que determina quais ações são consideradas atos de Gemilut Chassadim, e empresta a elas seu caráter sagrado de mitsvá.

Torá e Gemilut Chassadim são inseparáveis. É por isso que as encontramos geralmente associadas nos ensinamentos dos Sábios.7 Assim foi ensinado: "Se Israel considerasse as palavras da Torá que foram dadas a eles, nenhuma nação ou reino teria domínio sobre eles. E o que (a Torá) diz a eles? Aceite sobre si o jugo do Reino do Céu para se excederem no temor do Céu, e para conduzir-se uns aos outros com atos de bondade e amor.8"

Notas:
1 - Midrash Tehilim 89:2; Avot 1:2
2 - Veja Bereshit Rabba 3 8:7; Baba Metzi'a 30b, cf. acima, nota 3.
3 - Tanchuma - B, Vayerá 4; cf. Sotah 14a.
4 - Veja Avot 1:17; Kidushin 40b; Vayicrá Rabba 35:6; R. Judah Loewe, Netivot Olam, Gemilut Chassadim, cap.2.
5 - Veja Zohar III:222b e 281a. Chessed, aqui, é tomado no sentido abrangente, completo, que se aplica ao Divino Serviço tanto quanto ao serviço social; veja nota a seguir.
6 - Avot 2:5 (e as passagens paralelas citadas ali em Mitzpeh Yehoshua). Note que o comentário de R. Yonah, que o am ha'aretz pode bem ser um tsadic, i.e., aquele que vai além da estrita medida da lei.
7 - Veja Netivot Olam, ibid.
8 - Sifre, Ha'azinu, par. 323, e Yalkut Shimoni 1:946, sobre Devarim 32:29.


O Preceito de Amor-Bondade
Em seu sentido mais amplo, Gemilut Chassadim – Amor e Bondade, inclui qualquer tipo de serviço pessoal que uma pessoa realiza para outra. Mais especificamente, refere-se de maneira geral às seguintes obrigações pessoais e seus derivativos:

a - Conceder empréstimos sem ônus (dinheiro ou outros objetos).
b - Fornecer hospitalidade.
c - Visitar e confortar os doentes.
d - Providenciar roupas para aqueles que precisam;
e - Dar assistência e alegrar os noivos;
f - Prestar cuidados aos mortos;
g - Confortar os enlutados;
h - Reconciliar aqueles que estão em desacordo.

Conceder empréstimos sem ônus é mencionado explicitamente na Torá como uma mitsvá por si própria1, mas é geralmente incluída no princípio de Gemilut Chassadim. Na verdade, no uso coloquial Gemilut Chassadim é sinônimo de empréstimos grátis. As outras obrigações são geralmente derivadas da seguinte passagem: "Vocês seguirão a D'us… e se apegarão a Ele" (Devarim 13:5)2. Sobre este versículo os rabinos comentam "Então é possível para um ser humano seguir a Shechiná (Presença Divina), pois não foi dito 'D'us, o teu D'us, é um fogo que consome' (Devarim 4:24)? Isso significa, no entanto, seguir (imitar) os atributos do Eterno, bendito seja; pois D'us é chamado de misericordioso e gracioso, portanto seja você misericordioso e gracioso, e estenda bondade gratuitamente a todos."

E os rabinos continuam com a prova – textos da Escritura: 'assim como D'us veste os desnudos… como D'us visita os enfermos… como D'us conforta os enlutados… como D'us cuida dos mortos… como D'us atende aos noivos… você também fará o mesmo.3'

Notas:
1 - Shemot 22:24. veja também Vayicrá 25:36 e Devarim 15:8, e as interpretações rabínicas a ali contidas. Cf. Nachmânides, Hasagot Haramban – Sefer HaMitsvot, Shoresh I, s.v. vehateshuvah hashlishit.
2 - Veja também Devarim 10:12, 11:22 e 18:9.
3 - Sotah 14a; Sifre, Eikev, par. 49; Midrash Tehilim 25:10; Cohelet Rabba 7:6f; Pirke de R. Eliezer, 12 e 16f; Avot de R. Nathan cap. 4.


Imitação de D'us
Compaixão e amor-bondade são os atributos nobres pelos quais o homem se assemelha ao seu Criador. Ao realizar os atos benevolentes de Gemilut Chassadim, o homem atrai a imagem Divina na qual ele foi criado. Gemilut Chassadim é o grande princípio de imitação de D'us, que o homem é ordenado a efetuar como sua principal meta na vida.2

É importante notar que o princípio de Imitatio De-i é uma mitsvá (um comando e preceito) por si só.3 Nós seguimos os caminhos de D'us imitando os Divinos atributos de demonstrar compaixão e expandindo o amor-bondade pela Gemilut Chassadim. Os atos específicos de Gemilut Chassadim, no entanto, são classificados sob outras mitsvot, independentemente da mitsvá de imitatio De-i. Alguns codificadores consideram a maioria dos atos específicos de Gemilut Chassadim (acima enumerados) como mitsvot distintas da Torá4. Outros os incluem na mitsvá abrangente de "amarás teu próximo como a ti mesmo" (Vayicrá 19:18)5.

Há dois aspectos, portanto, na Gemilut Chassadim:

a - O preceito do ato em si, expressando-se na extensão da assistência a outros que estão em necessidade; e
b - O preceito de atingir o efeito do ato, expressando-se na sublimação do ser por meio daquele ato.

Num sentido geral, estes dois aspectos aplicam-se a todas as mitsvot. Cada mitsvá tem seu propósito, raciocínio e efeito individual. Além disso, no entanto, todos as mitsvot efetuam também um refinamento geral e a sublimação do homem.6 De modo contrário, também, toda transgressão viola uma mitsvá específica, e também causa uma profanação espiritual geral.7

Esta característica reflexiva das mitsvot é notada especialmente no que se refere a atos de caridade, como foi dito: "O homem pobre faz mais por seu benfeitor do que este faz para ele.8"

Além deste refinamento implícito, no entanto, permanece também a mitsvá específica da auto-sublimação por meio da imitatio De-i. Esta última mitsvá pode ser cumprida somente inculcando e estabelecendo em nós mesmos os traços da compaixão ilimitada e absoluto amor-bondade (Gemilut Chassadim).

Notas:
1 - Shabat 133b, e Rashi, s.v. hevei domeh Lo.
2 - Moreh Nevuchim 1:54.
3 - Veja Maimônides, Sefer haMitsvot 1:8; Hilchot De'ot I:55ff.
4 - Ex., os autores de Halachot Gedolot, Yereim, Sefer Mitsvot Katan.
5 - Maimônides, Hilchot Evel, cap. 14; cf. Sefer haMitsvot, Shoresh I e II, e os comentários ali.
6 - Bereshit Rabba 44:1; Tanchuma, Shemini 7f.
7 - Yoma 39b. Cf. Midrash Tehilim 51:2.
8 - Vayicrá Rabba 34:8. Cf. Baba Batra I Oa-b; Zohar II:129a.


Judaísmo & Gemilut Chassadim
A virtude de Gemilut Chassadim é uma parte tão intrínseca do Judaísmo que "se um indivíduo exibe impudência, crueldade ou misantropia, e não realiza atos de amor e bondade, pode-se suspeitar fortemente que ele não é de ascendência judaica; pois Israel, a nação sagrada, tem os três traços característicos de 'recato, misericórdia e amor-bondade' (Yevamot 79a)1."

Além disso, aquele que se ocupa somente com a Torá, à exclusão de Gemilut Chassadim, é como se ele não tivesse D'us2.

Repudiar Gemilut Chassadim é equivalente a repudiar nossa doutrina cardinal da existência de D'us.3 O repúdio a Gemilut Chassadim não apenas é repúdio à Torá (porque é ordenado pela Torá, e os dois estão intrinsecamente relacionados e são inseparáveis), mas também do status do homem no mundo. Isso presume uma negação da criação Divina e da implícita soberania de D'us sobre a Criação, pois foi ensinado: "Dê a Ele o que é d'Ele, pois você e tudo que é seu são d'Ele. Assim foi dito por David: 'Pois tudo vem de Ti, e de Ti mesmo nós Te demos' (I Crônicas 29:14)4.

Esta Mishná implica também que ao doar para os necessitados, ao realizar atos de amor-bondade, isso é, por assim dizer, como se a pessoa desse a D'us: tirando da fartura confiada por D'us às mãos do homem e dando a D'us através da ajuda concedida aos necessitados.

Notas:
1 - Maimônides, Hilchotissurei Bi'ah 19:17, e Matnot Aniyim 10:2. Cf. Betza 32b.
2 - Avodah Zara 17b.
3 - Cohelet Rabba 7:4; cf. Tossefta, Peah 4:20; Sifrøe, Re'ey, par. 117, Yalkut Shimoni, 11:64.
4 - Avot 3:7.


"Considere os Pobres…"
Além dos deveres específicos já mencionados, há outras obrigações que estão incluídas na mitsvá de Gemilut Chassadim.

O fator determinante de chessed, portanto de Gemilut Chassadim, é o envolvimento pessoal (como explicado acima, capítulo 1). A mitsvá de Gemilut Chassadim não é cumprida simplesmente aliviando alguma necessidade de assistência material. O verdadeiro significado dessa mitsvá é melhor expresso pelos Rabinos, quando dizem: "Não se diz que 'feliz é aquele que dá aos pobres,' mas 'feliz é aquele que considera os pobres.' (Tehilim 41:2)1"

Empatia, simpatia, consideração sincera, isso é muito mais importante que a ajuda material. Um provérbio talmúdico diz: "O homem que mostra seus dentes brancos (i.e., um semblante alegre) ao próximo, é melhor do que aquele que lhe dá leite para beber.2"

Mesmo quando dá ao próximo todos os presentes do mundo, se o fizer com uma face carrancuda, a Torá diz que é como se nada tivesse sido dado. De forma contrária, quando se recebe alguém com um semblante alegre, embora incapaz de lhe dar qualquer coisa, a Torá diz que é como se todos os bons presentes do mundo tivessem sido dados.

Somos conclamados a fazer caridade com discurso, ou seja, falar gentilmente com os pobres e encorajá-los, pois está escrito: "em virtude desse davar ('este assunto', mas também pode ser traduzido como 'este mundo'), D'us, o teu D'us, te abençoará (Devarim 15:10)3".

Na escala dos graus na extensão de tsedacá e Gemilut Chassadim, portanto, o nível mais alto é atingido por aquele que possibilita que os necessitados retenham o auto-respeito e a autoconfiança, e os ajuda sinceramente a sustentarem-se por si mesmos4.

Consideração, simpatia, uma palavra gentil e cumprimentos amigáveis, conselho sadio e encorajamento, esta é a essência de Gemilut Chassadim.

Notas:
1 - Yerushalmi, Peah 8:9; Vayicrá Rabba 34:1. Cf. Midrash Tehilim 41:2f.
2 - Ketuvot 111b. Veja também Kalah Rabbati, cap. 4.
3 - Yereim, par. 48. Cf. Tossefta, Peah 4:17; Sifre, Re'ey, par. 117; R. Jonah, Shaarei Teshuvah, 3:54; Shulchan Aruch, Choshen Mishpat 97:1.
4 - Veja Avot de R. Nathan, cap. 41, cf.


Ajuda Espiritual
O conceito de Gemilut Chassadim abrange também uma outra dimensão. Assim como uma pessoa é obrigada a cuidar do bem-estar físico e mental de outra, assim também deve engrandecer seu bem-estar espiritual. A mitsvá de "se houver uma pessoa destituída entre vós… devereis certamente abrir vossa mão a ele, e emprestar-lhe o suficiente para sua necessidade, aquilo que está lhe faltando (Devarim 15:7-8)", é toda abrangente. Os Sábios interpretam-na no sentido mais amplo possível1. Este preceito, assim, pode-se dizer que cobre também o âmbito do espiritual.

Cuidar das necessidades da alma, dos desejos espirituais do próximo, é um dever menor que a provisão das necessidades materiais. O Profeta Yeshayáhu, ao explicar os caminhos Divinos e a obrigação da integridade, por meio da qual uma pessoa se aproxima de D'us, enumera os atos benevolentes de Gemilut Chassadim: "Partilhar teu pão com o faminto e levar os desamparados à tua casa; quando vires os desnudos deves cobri-los, e não te esconda da tua própria carne (Yeshayáhu 58:7)."

O sentido literal desse versículo é suplementado com a seguinte interpretação: "O 'faminto' refere-se àquele que está faminto da Torá, e 'pão' refere-se à Torá… Com isso eles dizem que se houver uma pessoa que entenda de Torá, deve alimentar os outros também com esta Torá… Como devemos entender quando vires o desnudo deves cobri-lo'? Certamente no sentido de quando vires uma pessoa carente no conhecimento de Torá, leva-a para tua casa e ensina-a a recitar o Shemá e as preces, ensina-o diariamente um versículo ou uma lei, e encoraja-o a cumprir as mitsvot. Pois ninguém está 'desnudo' em Israel, salvo aquele que carece de Torá e mitsvot.2"

Orientar outras pessoas e ensinar-lhes Torá, então, é parte da mitsvá de Gemilut Chassadim3. Tendo isso em vista, assim como fazer alguém se afastar do caminho da Torá é pior que feri-lo fisicamente4, assim também, cuidar do bem-estar espiritual daqueles que necessitam é melhor que a provisão das necessidades físicas5. Sobre isso é declarado: "Eles que são sábios reluzirão como o brilho do firmamento, e aqueles que levam muitos à integridade serão para sempre como as estrelas (Daniel 12:3)6."

Notas:
1 - Veja Ketuvot 67b.
2 - Eliyahu Rabba, cap. 27; cf. ibid., cap. 13 (Cf Moreh Nevuchim 1:30).
3 - Sukah 49b. Veja Netivot Olam, Torah cap. 7f; Shulchan Aruch, Yoreh Deah 245:3 e os comentários ali.
4 - Sifrê, Ki Teitze, par. 252; Midrashim sobre Bamidbar 25:17.
5 - Zohar 11:129a; veja ali o comentário Nitzutzei Oroth.
6 - Veja comentário de Gersonides sobre este versículo. Cf. Bava Batra 8b.


Algumas Leis Relativas a Gemilut Chassadim
I
1 – Todos estão sujeitos às obrigações de tsedacá e Gemilut Chassadim. Até o homem pobre que é sustentado pela tsedacá deve dar tsedacá daquilo que consegue poupar de seu sustento. E certamente todos são capazes – e portanto obrigados – a cumprir Gemilut Chassadim1.

2 – Não há limite para as obrigações de Gemilut Chassadim que sejam realizadas por envolvimento pessoal. Isso equivale a dizer que não há medida de observância sobre a qual alguém pode afirmar que o dever foi descartado. Isso aplica-se não somente ao princípio de Gemilut Chassadim como um todo, mas a todo detalhe específico deste preceito.

3 - Tudo aquilo que é feito em prol de D'us deve ser o melhor e o mais perfeito. Por exemplo, quando construir uma Casa de Oração ela deve ser mais refinada que a residência particular da pessoa. Da mesma forma, ao alimentar o faminto, a pessoa deve dar-lhe o que houver de melhor em sua mesa. Ao cobrir o desnudo, deve-se dar-lhe as melhores vestes; e assim por diante.

II
4 - O dever de emprestar dinheiro a quem precisa é mais meritório, e tem precedência, sobre o dever de fazer caridade a quem implora por ela; pois aquele já foi levado a mendigar, ao passo que o outro ainda não atingiu aquele estágio. Severa, na verdade, é a censura da Torá contra aquele que se abstém de emprestar dinheiro aos pobres2.

5 - É um dever emprestar dinheiro até aos ricos que estejam precisando de um empréstimo, e ajudá-los com palavras de encorajamento e conselho.

6 - A pessoa está proibida de pressionar um devedor quando sabe que ele está incapacitado de pagar a dívida. Além disso, é proibido de aparecer perante um devedor, ou até passar diante dele, mesmo sem fazer quaisquer exigências a ele, para que o devedor não fique intimidado ou constrangido.

7 - Nenhum judeu pode aceitar juros, ou pagar juros, por um empréstimo de outro judeu.

III
8 - O dever de prover hospitalidade é cumprido fornecendo aos hóspedes alimento, abrigo e acompanhando-os aonde for preciso.

9 - Os deveres relacionados ao princípio da hospitalidade são aprendidos do exemplo clássico de nosso Patriarca Avraham, como está relatado na Torá em Bereshit 18:2ff:
a - Não espere até que os viajantes o procurem, mas procure-os e leve-os a sua casa.
b - Forneça a eles todas as suas necessidades.
c - Proporcione aos seus hóspedes um local confortável para descansar e se recuperar do cansaço da viagem.
d - Atenda pessoalmente as necessidades dos hóspedes, mesmo que você tenha muitos empregados, e trate-os como se fossem seus amos.
e - Diga e prometa pouco, mas faça muito.
f - Ensine os membros de sua família, e faça-os saber da importância dessa mitsvá.
g - Acompanhe os hóspedes quando tiverem de sair.

10 - Os perigos da estrada não espreitam mais hoje em dia como ocorria nos tempos antigos. Mesmo assim, atualmente, também, é meritório acompanhar e guiar estrangeiros no caminho deles, mesmo que seja por uma curta distância.

IV
11 – A mitsvá de visitar os doentes refere-se a qualquer pessoa doente, seja rica ou pobre, parente seu ou não.

12 - Todos estão obrigados a visitar os doentes. Até uma pessoa importante deve visitar alguém de menor importância.

13 - A visita aos doentes deve ser freqüente, se possível várias vezes ao dia, desde que isso não seja inconveniente ao enfermo. Se a visita incomoda o paciente, mesmo assim a pessoa é obrigada a cumprir os outros deveres relacionados a esta mitsvá (veja o próximo parágrafo).

14 - A mitsvá de visitar os doentes consiste de três partes essenciais:
a - Ver e assegurar que o paciente está sendo bem cuidado;
b - Confortar e animar o paciente;
c - Rezar pela sua recuperação.

V

15 - É um dever alegrar os noivos, e especialmente fornecer aos pobre todas as suas necessidades para o casamento.

16 - A pessoa deve fazer parte da procissão que conduz os noivos à canópia e animá-los. Até o estudo de Torá fica suspenso para cumprir este dever.

VI
17 - Quando uma pessoa morre, o Céu não o permita, todos os habitantes da cidade estão proibidos de seguir com suas ocupações até que o enterro tenha ocorrido. Se houver pessoas designadas que atenderão às exéquias, no entanto, todas as outras podem continuar com seu trabalho.

18 - Os serviços a serem prestados aos mortos são: a) vigília, b) remoção, c) lavar, d) vestir, e) acompanhar e enterrar o corpo.

19 - Mesmo quando há uma Sociedade Funerária é uma mitsvot atender os mortos e participar da procissão funerária.

VII
20 - Os enlutados devem ser visitados e consolados.

21 - Ao visitar os enlutados, a pessoa não deve oferecer palavras de conforto e simpatia até vir que os enlutados desejam isso, e não lhes causa inconveniência.

22 - O dever de confortar os enlutados tem precedência sobre o dever de visitar os doentes, porque confortar os enlutados é um ato de benevolência tanto para com os vivos como para os mortos.

VIII
23 - É dever buscar e promover a paz, e reconciliar aqueles que estão em discórdia.

24 - Aharon, o Sumo Sacerdote, é o exemplo clássico de pacificador e mestre dos ignorantes. Assim foi ensinado: "Seja como os discípulos de Aharon, amando a paz e promovendo a paz, amando a humanidade e aproximando-a da Torá." (Avot 1:12) Aharon saía do seu caminho para promover a paz e reconciliar aqueles em discórdia. Com respeito aos outros preceitos, o homem está apenas sob a obrigação de cumpri-los quando cruzarem seu caminho; quanto a promover a paz, no entanto, está escrito "busca a paz e a persegue." (Tehilim 34:15), i.e., em toda parte3.

IX
25 - "Aproximando-os da Torá" significa que deve-se influenciar as pessoas e levá-las sob as asas da Shechiná (a Divina Presença). Aharon costumava ir a todos os lares de Israel e quem não sabia ler o Shemá ou rezar, ele o ensinava. Da mesma forma, ele ensinava qualquer um que não soubesse como estudar Torá. Assim, também, é o dever de todos aqueles que conhecem Torá, ensinar e orientar os ignorantes.

26 - Todo aquele que está sujeito à ordem de estudar Torá é também ordenado a ensinar Torá. O dever de ensinar é relativo não apenas aos próprios filhos, mas a qualquer pessoa.

Notas:
1 - (Cf. acima, cap. VII: "Considere os pobres…")
2 - Veja Devarim 15:9
3 - Sobre este (e o próximo) parágrafo, veja Kalah Rabati, cap. 3: Avot de R. Nathan, cap. 12, e Eliyahu Rabba, cap. 13.