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RESPOSTA:
Como
cada detalhe na Torá, existem inúmeras explicações
para o fato da Torá começar com a letra bet, ao invés
do alef – a primeira letra do alfabeto.
Vamos citar algumas delas:
A letra bet remete a palavra "beracha", que significa benção,
enquanto a letra alef remete a palavra "arira", que significa
maldição.
A letra bet, de valor numérico dois, indica os dois mundos criados
por D’us: este mundo e o mundo vindouro.
A letra bet é uma dica para as duas Torot, a Torá Escrita
e a Torá Oral, para ensinar que o mundo existe pelo mérito
da Torá.
Observando o formato da letra bet, notamos que de um lado ela é
toda fechada, e há uma abertura para a parte que é seguida
pelo texto. Daqui aprendemos que o que veio antes de "Bereshit"
é oculto para nós, e somos capazes de saber apenas aquilo
que veio depois e está escrito na Torá.
O Midrash nos relata:
As
letras disputam uma valiosa oportunidade
As letras do Alef Bet reuniram-se ao redor de D’us, ansiosas com
antecipação e entusiasmo. A letra que tivesse sorte seria
em breve escolhida por D’us para começar a primeira palavra
da sagrada Torá, o tesouro mais precioso do mundo. Qual das letras
seria? Cada uma delas esperava que D’us a escolhesse dentre todas,
e juntas clamavam por atenção.
"Por favor, D’us, comece comigo a Torá!" - gritavam
todas de uma vez.
A letra Tav empurrava as outras para chegar à frente. "D’us"–
gritava ela, "sou a mais importante de todas as letras! Sou Tav,
a primeira letra da palavra Torá! Sei que cada letra do Alef Bet
equivale a um número; sou igual a quatrocentos, o maior valor delas
todas! Não concorda que meu lugar é no princípio
da Torá?!
"Temo que não" – respondeu D’us – "porque
um dia usarei você como um mau sinal. Daqui a muitos anos, usarei
você, Tav, para marcar os perversos que merecem morrer."
Ao ouvir estas palavras, Tav saiu, profundamente desapontada.
A letra Shin adiantou-se confiante. Curvou-se e implorou em voz alta:
"Por favor, D’us, use-me como a primeira letra de Sua Torá!
Após o Tav, sou o número mais alto do Alef Bet, com valor
de trezentos. Até estou no início de um de Seus sagrados
nomes, Sha-dai."
"De forma alguma" – replicou D’us – "pois
embora seja verdade que você é importante, Shin, você
começa o nome de coisas tão odiosas como shav, significando
falsidade, e sheker, que quer dizer mentira. Odeio mentiras e falsidade;
construí Meu mundo sobre a verdade."
Shin saiu, rejeitada.
Isto não desencorajou a letra Resh de aproximar-se do trono de
D’us. Acreditava ter um argumento convincente.
"Tenha misericórdia de mim, D’us" – apelou
ela – "e honre-me com o início de Sua Torá. É
conhecido como o D-us de Misericórdia, e sou a primeira letra da
palavra Rachum, que significa misericordioso. Eu poderia também
mencionar que sou o começo da palavra refuá, cura…"
A voz de Resh extinguiu-se constrangida, porque sabia que D’us recusaria
seu pedido.
Seus temores se confirmaram, pois D’us explicou: "Daqui a muitos
anos a partir desta data, Moshê Rabênu levará os judeus
através do deserto, como um líder. Alguns judeus ingratos
não ficarão satisfeitos em ter Moshê como líder.
Resmungarão em seu íntimo: ‘Preferimos servir ídolos
no Egito que servir D’us como homens livres no deserto.’ Eles
clamarão: ‘Vamos nos rebelar contra Moshê, escolher
outro líder e retornar ao Egito.’
"Está ciente, Resh" – perguntou D’us –
"que é a primeira letra da palavra rosh (líder) a ser
proclamada pelos judeus rebeldes?"
"Para piorar as coisas" – continuou D’us –
" é o início da palavra ra, que significa mal, e rashá,
uma pessoa perversa."
A letra Resh entendeu que não seria aceita e concordou relutantemente.
Rapidamente a letra Cuf agarrou sua chance.
"E eu?" - aventurou-se. "Sou uma letra maravilhosa. Quando
os judeus forem rezar, usar-me-ão para iniciar a prece de kedushá.
Proclamarão: ‘cadosh, cadosh, cadosh; santo é D’us."
"Mesmo assim," insistiu D’us, "você não
pode ser a primeira letra da Torá. É o começo da
palavra kelala, uma maldição. Não quero que pessoas
perversas digam: ‘Quando D’us fez o mundo, Ele o amaldiçoou;
por isso começou a Torá com a letra Kuf.’"
Uma a uma, as outras letras ficaram perante o Trono de D’us, tentando
garantir para si a glória de tornar-se o início da Torá.
Adularam, suplicaram, imploraram e argumentaram, sem resultado. D’us
recusou-as todas.
Por fim, restaram apenas duas letras – o Alef e o Bet. Haviam esperado,
tornando-se mais e mais tensas à medida que o tempo passava. Bet
estava tão nervoso pela longa espera que o pontinho dentro dele
estremecia como um coração batendo.
"Por favor, D’us" – gritou, como que soluçando
de entusiasmo – "eu queria tanto ser a primeira letra da Torá!
Estou no início de muitas coisas boas. Seus filhos, os judeus,
recitam Suas preces na sinagoga: ‘Barechu D’us – louve
a D’us; e: ‘Baruch Shem kevod Malchutô Leolam Vaed -
Louvado seja o grande nome de D’us para todo o sempre; e: ‘
Baruch D’us Leolam Amen veaAmen - Louvado seja D’us para sempre,
amen e amen.’ Todas estes louvores começam com um Bet!"
Desta vez D’us concordou. "Sim" – disse ele. "Começarei
a Torá com você. Bet é o início de berachá,
bênção. Quero que todo o povo da terra saiba que Eu
os amei e os abençoei. Por isso a Torá terá início
com um Bet, com a palavra Bereshit."
Ao ouvir que o Bet havia sido escolhido, o Alef afastou-se em silêncio.
"Alef" – chamou D’us – "não quer
pedir por si mesmo também?"
Alef suspirou: "Sou uma letra tão insignificante," disse
humildemente. "Todas as outras letras do Alef Bet valem mais que
eu. O Bet vale dois, o Guímel três, o Dalet quatro –
mas sou apenas um número pequeno, equivalente ao número
um."
"Pelo contrário, Alef!" – exclamou D’us.
"Você, Alef, é o rei de todas as letras! Você
é um, e Eu sou Um, e a Torá é uma.
"Por isso, quando Eu outorgar a Torá no Monte Sinai, começarei
com ninguém menos que você. Alef estará no início
dos Dez Mandamentos, ‘Anochi Hashem’ ‘Eu sou D’us.’"
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