Já faz algum tempo que procuro viver meu judaísmo de maneira mais intensa e ardente, porém devo admitir que sinto-me constrangido quando não consigo cumprir todas as mitsvot que o Eterno nos deu. Minha dúvida é: o fato de eu não cumprir uma mitsvá tira o valor daquela que consigo cumprir?

RESPOSTA:

Cada um de nós tem seus próprios desafios e obstáculos, desde a pessoa mais simples até o maior justo. D'us não espera de nós que sejamos perfeitos de um momento ao outro. Afinal, foi Ele que nos criou e com certeza conhece as nossas limitações e obstáculos.

Isto não nos permite, porém, levantar as mãos e nos sentir isentos de trabalhar sobre nós mesmos. Cada um sabe o nível em que está, e o que tem a alcançar pela frente. Cada nova mitsvá é um grande passo. Seu valor é único, independente de outras mitsvot.

Há uma parábola que pode nos auxiliar a entender esta situação. Uma menina tinha uma barraca de maçãs na feira. Uma pequeno ladrão passou por ali, e começou a pegar suas maçãs. A menina pôs-se a chorar, imóvel. Então, os outros vendedores disseram a ela: "Por que é que você está aí parada? Está certo que o ladrão está agarrando as suas maçãs, porém, mexa-se e agarre tudo o que você puder. Tudo o que você conseguir pegar, será lucro."

Nas mitsvot, vale a mesma idéia. Não é porque o Yêtser Hara (má inclinação) muitas vezes se apodera de nós em certos aspectos, que vamos ficar imóveis e não cumprir mais nada. Toda mitsvá cumprida é um grande lucro.

Podemos comparar a ascensão espiritual a um campo de batalha. Imagine o lado A - o Yêtser Hara, ou má inclinação, e o lado C, o Yêtser Tov, a boa inclinação. Entre eles existe o campo B - este é o campo de batalha. Os soldados vão saindo do campo A para o campo B. Este campo de batalha é o espaço onde nós devemos atuar. Devemos lutar para que este soldado seja vencido pelo campo C - o Yêtser Tov, e permaneça lá. Assim, os soldados são conquistados pelo Yêtser Tov.

Nós não somos julgados pelo que está no espaço do Yêtser Hara, afinal, ninguém é capaz de cumprir tudo de uma vez, e não somos responsáveis pelo nível no qual começamos. No momento que o soldado está bem acomodado no lado do Yêtser Tov, também não devemos contentar-nos com ele, pois com o tempo o cumprimento desta mitsvá passa a ser natural, não é um desafio tão grande a cada vez. Somos realmente julgados pelo que está acontecendo no campo de batalha. Não importa se a disputa é por uma mitsvá básica, ou por uma certa nuance muito refinada no caráter de uma pessoa. Não importa o nível em que a pessoa está, o importante é que ela esteja lutando para conquistar seus soldados.