Mágoa e rancor  
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  Como dominá-los
     
 

Qual a visão da Torá sobre guardar mágoa ou rancor de alguém que nos prejudicou anteriormente?

     
 

RESPOSTA:

Esta pergunta é fácil de ser respondida, porém é algo muito difícil de ser cumprida e por isto achamos interessante acrescentar alguns esclarecimentos, além da resposta direta que consta na Torá (Vayicrá19:18): "Não se vingue nem guarde rancor... ame a teu próximo como a si mesmo."

Como pode uma pessoa realmente não guardar mágoa ou rancor? A primeira reação natural depois de ser prejudicado, ofendido ou envergonhado por alguém é de querer devolver na mesma medida para o outro provar o que acabamos de sentir, na melhor das hipóteses; ou querer se vingar e machucá-lo, na pior das hipóteses. Mesmo assim a Torá exige um comportamento ideal e exemplar - não somente não se vingar mas também não guardar rancor, nem sentir raiva, desejo de vingança, etc. no coração. E todo mundo acha que isto é algo impossível!

Basicamente a explicação vem de nossos Sábios no Talmud que fazem a seguinte afirmação: "Todo aquele que fica com raiva é considerado como que estivesse servindo ídolos."

Este dito é muito difícil de entender. Como se pode comparar os dois assuntos? Servir ídolos significa não acreditar em D'us Único, enquanto que ficar irado ou bravo é apenas uma emoção negativa.

O assunto foi explicado pelo Báal Shem Tov (fundador do Movimento Chassídico) e a explicação encontra-se no sagrado livro Tanya (Parte 4, cap. 25) do qual citaremos alguns trechos.

A pessoa que acredita que tudo vem de D'us sabe que Ele está ciente de tudo que ocorre no mundo. Estar ciente não significa que Ele é apenas um espectador, observando as coisas de longe ou de perto. Significa que o que acontece é porque assim D'us quis.

Embora o indivíduo que amaldiçoou, machucou ou prejudicou tem o livre arbítrio (opção de fazer o bem ou o mal), e optou pelo pecado de machucar seu semelhante, por causa desta escolha (errada) será punido pela justiça (humana e/ou celestial). Porém, aquele que apanhou foi prejudicado, porque assim foi decretado nos Céus. E se o primeiro tivesse usado seu livre arbítrio de maneira correta (declarando para D'us: "Não quero fazer este ato negativo"), D'us teria muitos outros meios e "emissários" pelos quais poderia trazer o que foi decretado para o segundo.

Em outras palavras, na hora que alguém nos prejudica devemos saber e acreditar que ele é apenas um "mensageiro", um office-boy Divino. Se a pessoa não pensa assim, na verdade não acredita em D'us! Pois se D'us não quisesse que tal coisa nos atingisse, aquele que quer nos machucar ou danificar não conseguiria atingir seu intento. E se ele conseguiu é porque esta é a vontade de D'us. Logicamente ele não poderá alegar que "merece uma recompensa por cumprir a vontade de D'us", porque como explicado acima, ele poderia muito bem dizer: "Não quero fazer isso".

Se a pessoa que foi prejudicada não pensa desta maneira (que isso foi decretado para ela e aquele que "executou" o decreto foi "usado") então esta pessoa realmente não acredita em D'us. E não acreditar em D'us é semelhante a servir ídolos. Agora é possível entender o dito dos nossos Sábios já mencionado.

Tudo isso é ótimo na teoria; na prática é muito difícil. Por isso exige um treino constante e um estudo profundo para poder assimilar este tipo de pensamento até que finalmente será possível aceitá-lo e incorporá-lo em nossas relações diárias.

Mesmo uma pessoa que já tenha estudado muito e tenha adquirido muito conhecimento de Torá também é apenas um ser humano com sentimentos, instintos e reações naturais que dificultam acatar este raciocínio. Porém "malhando" pode-se chegar lá. Não falamos que é fácil, mas tampouco impossível.

 
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