Eutanásia  
   
  O direito de morrer
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Se temos o direito a nascer e viver, por que não é permitido tirar a vida? Quando o corpo não reage, nem se sustenta, para que prolongar o sofrimento?

     
 

RESPOSTA:

Consta em Pirkê Avot (Ética dos Pais):

"Contra tua vontade foste criado, contra tua vontade nasceste, contra tua vontade vives, contra tua vontade morrerás e contra tua vontade terás que prestar contas perante o Rei dos reis, o Santo, bendito seja."

Os comentaristas perguntam: "Se é contra a vontade do ser humano nascer, viver e morrer, qual então é sua vontade?"

Antes de entrar no corpo humano, a alma se encontrava perante D'us, num constante sentimento de amor e temor. Quando chega o momento de encarnar num corpo, reluta em aceitar a missão pois, estando neste mundo cercada de prazeres mundanos e tendo todas as possibilidades de pecar, teme que falhará, decaindo de seu nível espiritual.

Porém D'us insiste em sua descida, pois foi criada para se incorporar fisicamente, passar por todas as provações e cumprir sua missão no mundo material. Na verdade, a descida para este mundo é muito intensa para a alma; mas, ao passar por isto, ela tem uma ascensão posterior infinitamente maior. A alma acaba descendo a este mundo, conforme o dito acima: "Contra tua vontade nasceste."

Na vida, passamos por várias provas. Às vezes, estas são tão difíceis que preferimos não mais viver. Porém, antes de chegar sua hora, a pessoa não pode deixar este mundo voluntariamente, pois tem uma missão a cumprir. Maimônides escreve em seu Livro de Leis que o ser humano não é dono de seu corpo e não tem o direito de prejudicá-lo.

O suicídio é considerado um dos pecados mais graves, equiparado ao homicídio ou até mesmo pior, porque enquanto a pessoa vive D'us lhe dá a possibilidade de retocar seus erros por mais graves que tenham sido; porém, ao cometer um erro que a tira deste mundo, não tem como corrigí-lo. Por isso, a Lei Judaica é muito rigorosa para com um suicida. Devemos saber que, por mais difíceis que sejam as provações, temos força espiritual suficiente para agüentá-las e, ao passarmos por isso, mereceremos ser presenteados com uma ascensão espiritual muito intensa. Sobre isto disseram nossos sábios: "Contra tua vontade vives."

A alma estando dentro do corpo, cumprindo sua missão para a qual foi criada, sente a grande elevação espiritual decorrente. Cada minuto que passa neste mundo, cada boa ação praticada, aumenta ainda mais esta ascensão. A Cabalá explica que cada ação feita aqui na Terra tem o poder de causar grande impacto nos mundos superiores, recompensando quem a fez, a exemplo da sombra que se movimenta alguns centímetros na Terra, enquanto o Sol avança milhares de quilômetros. Por mais que pensemos que a vida não tem motivo e que não vale a pena o sofrimento, devemos saber que nada neste mundo existe por acaso.

A Chassidut ensina que, às vezes, uma pessoa vive sessenta ou setenta anos apenas para prestar uma ajuda física ou espiritual ao próximo. A Lei Judaica ordena profanar o Shabat para salvar uma vida, mesmo que a pessoa viva por apenas poucos minutos, pois cada minuto é importante. A alma sente esta missão e conhece sua importância. Quando chega o momento de deixar este mundo, reluta em abandonar o corpo, sabendo que aqui termina sua missão tão especial. E assim disseram os sábios: "Contra tua vontade morrerás."

A eutanásia ativa, além de ser um delito grave, por ser considerada homicídio pela Lei Judaica, ainda causa grande prejuízo à alma do falecido, impedindo-a de concluir sua missão neste mundo, conforme disseram os sábios: "Contra tua vontade terás que prestar contas perante o Rei dos reis."

No entanto, em casos extremos, por exemplo, quando a pessoa está ligada a aparelhos cuja falta causaria sua morte imediata, às vezes estas máquinas podem ser desligadas. Antes de assim proceder, uma autoridade rabínica competente deve ser consultada e jamais se deve tomar esta decisão sozinho.

 
   
   
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