Bênçãos Matinais  
     
  Seu real significado
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  Gostaria de saber se é verdade que os judeus já oraram a D`us assim: "Oh, Senhor muito obrigado por não ter nascido gentio, escravo e nem mulher"?
     
 

RESPOSTA:

O conteúdo do Sidur, livro de Preces, e seu significado não devem ser simplesmente interpretados apenas em seu sentido literal. Há estudos que explicam o significado de cada prece, quem compilou, de onde foi retirado e qual seu real sentido.

Estas três bênçãos, recitadas pela manhã fazem parte do Sidur e encerram em si um significado profundo.

O homem agradece por não se encontrar em nenhuma destas situações pelos seguintes motivos:

Sobre o gentil:

Se fosse gentil precisaria cumprir apenas as Sete Leis de Nôach, ao invés das 613 mitsvot, preceitos; longe de invejar seu vizinho não-judeu, o judeu pronuncia uma bênção toda manhã em gratidão de que ser judeu significa ser membro da nação que foi eleita por D'us para receber a Torá com seus 613 mandamentos Divinos (foi eleito após D'us tê-la oferecido a todas outras nações que a rejeitaram), o que assegura uma vida altamente moral e santificada.

A pergunta que poderia ser feita aqui é: por que não fazer a bênção de um modo positivo, ou seja, "que me fez judeu" em vez de "que não me fez não-judeu"? A resposta é: fazer-se judeu não é mero acidente de nascimento; a pessoa tem que viver como judeu no dia-a-dia e isto depende de nós. D'us nos concedeu o livre arbítrio; de obedecer ou não Seus mandamentos, de sermos fiéis a nós mesmos ou de trair nossa herança e responsabilidade, de viver de acordo com a Torá e as mitsvot ou de negligenciá-los. Assim, cabe a nós sermos judeus, não somente por nascimento, mas também na prática e na conduta diária. É por isto que não agradecemos a D'us por nos ter feito judeus. Fazer-se judeu diz respeito à vontade e determinação do próprio judeu.

Sobre o escravo:

D'us é nosso único Senhor e somente a Ele servimos.

Escravos são mencionados pela primeira vez na Torá logo após o Dilúvio. Noach amaldiçoou seu neto Canaã, dizendo que os canaanitas seriam escravos dos seus próprios irmãos. Nos tempos de Avraham, a escravidão era comum. Mesmo Avraham tinha escravos, mas eram "escravos" somente no nome; eram tratados mais como membros da casa.

Os filhos de Israel haviam provado a amarga experiência da servidão quando foram escravizados pelos faraós do Egito por vários séculos. Jamais imporiam semelhante destino a qualquer outro ser humano. Aliás, a Torá prescreveu severas leis para a proteção dos escravos. Tantas eram as obrigações impostas ao amo, que havia entre os judeus o dito: "Aquele que compra um escravo, adquire um amo sobre si mesmo".

Um escravo fugitivo, por exemplo, que viesse a um judeu procurar asilo não deveria ser entregue ao seu senhor, mas sim receber refúgio e proteção, ao contrário de qualquer outra propriedade que um judeu tem a obrigação de devolver ao seu legítimo dono.

Teoricamente falando, podiam existir dois tipos de escravos na Terra de Israel: o canaanita e o judeu. O canaanita era protegido pela Torá contra dano corporal. Por sua parte, o escravo tinha a obrigação de cumprir um número limitado dos preceitos da Torá.

A possibilidade do judeu tornar-se escravo surgia no caso de roubo, quando o ladrão não pudesse restituir o bem roubado. O tribunal podia então vendê-lo como escravo. Mas quem iria querer um ladrão em casa?

Outra possibilidade podia ocorrer quando um pobre se vendesse voluntariamente como escravo para pagar uma dívida com seu trabalho. Em cada um desses casos, quando chegava shemitá (o ano sabático, que ocorre a cada sete anos), o "escravo" tinha que ser libertado. A Torá, no entanto, garante ao escravo o direito de permanecer na servidão, se assim o desejasse caso estivesse muito afeiçoado ao seu senhor. Mesmo assim ele teria que sair livre no ano de jubileu. Desta forma, a Torá provê para que não exista nada semelhante a uma classe permanente de escravos na sociedade judaica, como era uma prática comum em todo o mundo e ainda persiste em alguns países. Até mesmo nos Estados Unidos, a escravidão foi abolida somente em 1865 (pela 13ª Emenda Constitucional).

A bênção "...que não me fez um servo" se refere ao escravo canaanita e a recitamos para agradecer a D'us pela liberdade de serví-Lo sem restrições e de cumprir todos os mandamentos da Torá, não apenas alguns, como é o caso do servo.

Num sentido mais profundo, essa bênção nos lembra que somos livres não só da servidão a outros, mas também da servidão à nosso própria natureza. Pois ninguém é mais escravo que aquele que é servo de suas próprias paixões e hábitos. Mas D'us nos concedeu a sabedoria e a capacidade de sermos verdadeiramente livres e isto depende somente da nossa própria vontade e determinação.

Sobre a mulher:

Qualquer um familiarizado com a alta estima na qual a mulher judia é tida na Torá e com o lugar que ocupa na vida judaica, não será tolo o bastante para pensar que esta bênção reflete algo negativo sobre a feminilidade judaica. Basta mencionar que durante a era da profecia houve sete profetisas mencionadas pelo nome no Tanach, e nota-se na Torá que Sara foi, em certos aspectos, até superior a Avraham, pois D'us disse a Avraham: "Tudo o que Sara te disser, ouve-a." Sem mencionar outros fatos ocorridos em nossa história que engrandecem e colocam a mulher em um nível superior e ímpar na vida judaica.

Por natureza, a tarefa do homem é ser provedor, enquanto a mulher tem que dividir seu dia entre cuidar do lar e dos filhos e administrar a vida de toda a família com paciência, compreensão e competência e muitas outras qualidades que a Divina Providência tão generosamente lhe conferiu. A Torá, justamente por este motivo, eximiu a mulher judia da obrigação de cumprir certas mitsvot.

Ela está igualmente obrigada, como o homem, a cumprir todas as proibições da Torá, os mandamentos proibitivos (e estes são a maioria - 365 "não faça" para 248 "faça"). Entretanto, no que se refere aos mandamentos positivos, a mulher judia está isenta do cumprimento de alguns deles (de modo algum, não todos), principalmente os que têm um fator tempo ou limite, em consideração aos seus importantes deveres conjugais e maternais, aos quais a Torá dá precedência. Neste aspecto, portanto, a mulher judia é antes "privilegiada" que "desprivilegiada".

Entretanto, o homem judeu, a quem não foram concedidos os privilégios especiais de que goza a mulher judia, tem a seu favor a oportunidade de estar em comunhão com D'us mais frequentemente pelo cumprimento daquelas mitsvot das quais a mulher está isenta. Esta não é uma compensação pequena e é por esta razão - pela oportunidade de servir a D'us com estes preceitos adicionais- que o homem recita a bênção "que não me fez mulher".

Destes pequenos exemplos podemos concluir que, todos nossos mandamentos possuem um sentido mais profundo e não devem ser jamais analisados na superfície, pelo que "possam estar querendo dizer".

O que deve ser sempre considerado é o verdadeiro conteúdo dentro da "embalagem".

 
     
 

 

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