Preciso ser perfeito para me arrepender?
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  Por Baruch Epstein  
 

D'us espera que eu seja perfeito? Certamente parece que sim. No decorrer da vida, o tempo todo, espera-se que façamos o bem e evitemos o mal, sejamos justos e não perversos. Nada de desculpas!
Mas e se eu cometer um erro? Se eu for preguiçoso e auto-indulgente por um instante, um minuto ou um mês?
Bem, então precisamos “nos tornar perfeitos” para consertar isso.
O mestre chassídico Rabi Zusia de Anipoli explica que a própria palavra teshuvá, comumente traduzida como “arrependimento”, mas que literalmente significa “retorno” – menciona um padrão sequencial que atinge um retorno apropriado e conserta relacionamentos desfeitos. Cada uma das cinco letras hebraicas da palavra alude a mais um passo no processo de teshuvá.
A primeira letra, o tav, fala sobre um versículo(1) que começa com um tav: Tamim tihiyeh im Hashem Elokecha (“Seja tamim com D'us, seu D'us”). Tamim comumente se traduz como perfeito ou íntegro. Já vimos a palavra tamim antes: Nôach é descrito como tamim, Avraham é ordenado a ser tamim, e todas as oferendas levadas ao Templo deveriam ser tamim.
Simplificando – você quer consertar aquilo que quebrou? O primeiro passo é ficar “tamim”. (Para elaboração das quatro etapas seguintes em teshuvá, veja Hayom Yom para Tishrei 5-8). Faz sentido para mim. Se um aluno deseja não ser punido por seu atraso, o professor exigirá pontualidade constante. “Não me diga quanto remorso sente e o que resolveu fazer. Demonstre comportamento exemplar, esteja aqui sempre antes do sinal tocar, e então perdoarei sua falha.”
Aqui está um ângulo diferente, graças a Rashi, o grande comentarista da Torá. Ele explica que a palavra tamim neste versículo tem um significado diferente do tamim usado em outros locais da Torá. Substitua “completo” por “sincero”, “confiante” ou “aceitador”. O contexto desse versículo é a proibição contra empregar bruxaria ou necromancia num esforço para saber o futuro, na esperança de apaziguar o medo do desconhecido. Há duvidas sobre se essas maquinações têm qualquer valor, porém a compulsão íntima de buscar esses caminhos é o desejo de ficar no controle, de saber hoje as notícias de amanhã, para que me sinta seguro.
E D'us nos pede simplesmente para confiarmos Nele. Seja tamim. Não saia procurando em outro lugar a seguranca e a paz de espírito. Em vez disso, receba calmamente tudo aquilo que Ele coloca em seu caminho, confiante de que é para seu próprio bem. Demonstre seu amor por D'us, aceitando-O com todo seu coração.
Quando eu retenho amor, confiança e comprometimento, “só por garantia”, danifico a capacidade de forjar um relacionamento “perfeito” com D'us, com meu cônjuge, com meu irmão ou com meu amigo. Quando digo que aceito você incondicionalmente, estou aqui para ficar, sem reservas, tamim, apesar de minha propensão a errar, que é um alicerce – a primeira letra – de retorno/arrependimento/reparo. Estou aqui e aceito tudo que você traz sem um olho procurando uma grama mais verde.
Quando deixamos isso bem claro, mesmo antes que nosso comportamento tenha sido consertado, retornamos. Jea iniciamos a teshuvá.

Notas:
1 – Devarim 18:13.


Rabino Baruch Epstein é emissário Chabad-Lubavitch em Illinois, e atua como rabino da Congregação Bais Menachem. Ele e sua mulher, Chaya, são os orgulhosos pais de três filhas.

     
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