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O Golfista Cego
Charles Boswell foi um grande atleta que ficou cego durante a Segunda
Guerra Mundial, quando resgatava seu amigo de um tanque que estava sob
bombardeio. Quando retornou ao seu país após a Guerra, decidiu
praticar um esporte que jamais tinha tentado antes – o golfe.
Anos de prática e determinação o levaram a vencer
o Torneio Nacional de Golfe para Cegos nada menos que 13 vezes. Um de
seus heróis era o grande golfista Ben Hogan, portanto para Charlie
foi realmente uma honra vencer o torneio Ben Hogan em 1958.
Ao conhecer Hogan, Charlie ficou impressionado e disse ao lendário
golfista que seu maior desejo era jogar uma partida de golfe com o grande
Ben Hogan. Hogan ficou devidamente honrado, afinal, ele conhecia Charlie
como o grande jogador cego que era, e realmente admirava seu talento.
Porém de repente Boswell lançou um desafio inesperado.
“Gostaria de jogar por dinheiro, Sr. Hogan?”
“Charlie, você sabe que não posso jogar a dinheiro,
não seria justo!” disse o Sr. Hogan.
Boswell não esmoreceu. Em vez disso, elevou a aposta. “Ora,
vamos lá, 1.000 dólares por buraco!”
“Não posso. O que as pessoas pensariam de mim, levando vantagem
de você e da sua situação,” respondeu o golfista,
que na verdade podia enxergar.
“Está com medo, Sr. Hogan?”
“Tudo bem,” falou um frustrado Hogan. “Vou jogar. Mas
estou te avisando, vou jogar da melhor maneira que puder!”
“Eu não esperaria algo diferente,” disse o confiante
Boswell.
“Então estamos combinados, Charlie. Você escolhe o
local e a hora!”
Um Boswell muito confiante respondeu: “Certo. Hoje, às dez…
da noite!”
A Fruta Cítrica
“Vocês pegarão para si mesmos, no primeiro dia [de
Sucot]”, instrui a Torá no 23º capítulo de Vayicrá,
“o magnífico fruto de uma árvore, o ramo de uma tamareira,
galhos da árvore frondosa, e salgueiros do regato.” Estas
são as conhecidas “quatro espécies” –
o etrog (fruta cítrica), lulav (ramo de palmeira), hadassim (galhos
de murta) e aravot (ramos de salgueiro), que celebramos e balançamos
durante a Festa de Sucot.
A Torá, no entanto, não nomeia explicitamente as quatro
espécies, em vez disso identifica-as através de alusões
e duplo-significados1.Veja a fruta cítrica, por exemplo:
A Torá declara: “Vocês pegarão para si mesmos
o magnífico fruto de uma árvore,” ou no original hebraico:
“Pri etz Hadar”. Há muitas frutas lindas. Por que a
cítrica foi escolhida? Numa brilhante interpretação,
o Talmud lê a frase : “pri etz Hadar” (“o magnífico
fruto de uma árvore”) como uma referência ao etrog
(fruto cítrico), pois a palavra hebraica hadar (magnífico)
também pode ser lida como há-dar, “aquela que habita”,
portanto a frase também se traduz como “o fruto que habita
na sua árvore de ano a ano”. Ao contrário de outras
frutas, que amadurecem e caem após uma única estação,
o etrog continua a crescer na árvore durante o ano inteiro, permanecendo
e crescendo a cada mudança de estação. A cítrica
é a única fruta em nosso planeta “que habita em sua
árvore de ano a ano”.
É um fato fascinante: o etrog pode permanecer fresco e vivo numa
árvore durante cinco anos, e continua a crescer em cada estação
e cada ano, tornando-se cada vez maior. Isso destaca o etrog entre todas
as frutas, que apodrecem ou caem da árvore após sua estação
específica.
Mudança de Clima
Porém surge aqui uma questão relevante. Por que a Torá
se refere à fruta cítrica de maneira velada, como “o
fruto que habita”, em vez de citar diretamente o seu nome? A resposta
é esta qualidade da fruta cítrica – sua habilidade
de mudar com o clima e crescer com a mudança – que a Torá
está tentando nos ensinar a respeito de nossa própria vida.
O ano é um microcosmo da vida humana. O broto e a flor da juventude,
a frutificação da maturidade, o outono dos últimos
anos, e o definhar do inverno – todos se expressam nas estações
do ano. Um ano inclui dias mundanos e dias empolgantes, sucesso e fracasso,
bênçãos e desafios, bolas diretas e bolas em curva,
experiências cálidas e apaixonadas, bem como encontros frios
e gelados. Em resumo, o ano incorpora todo o espectro da experiência
e emoção humanas.
Este é o profundo significado da descrição que a
Torá faz do etrog ensinando-nos como o ser humano deveria se espelhar
no etrog. O etrog é aquele que “habita na árvore de
ano a ano”, que aceita todas as mudanças e flutuações,
cuja integridade, crescimento e conexão com sua fonte e núcleo
não estão comprometidos por nenhuma vacilação
da vida.
Muitas pessoas se saem melhor em “estações”
especificas. Para alguns, quando a vida é ensolarada e quente,
elas florescem; para outras, quando a vida está nublada e fria,
elas funcionam bem. Dias escuros trazem o que há de melhor nelas.
Apesar disso, elas estão totalmente vivas somente em uma estação;
quando você as tira da sua “zona de conforto”, quando
as remove de seu “habitat”, elas com frequência se encolhem
ou se separam da árvore, da sua fonte de vida. Quando as cachoeiras
da vida as transportam para situações novas e inesperadas
– elas muitas vezes perdem seu âmago, sua vitalidade, sua
sinceridade, firmeza e coragem.
A Torá nos ensina a sermos como um etrog: aprender como suportar
as diversas estações da vida. E ainda mais, como o etrog,
a aprender como crescer e desenvolver-se com cada estação
e mudança em nossa vida. Pois na verdade, toda nova experiência
nos proporciona a oportunidade de descobrir novos horizontes.
Notas:
1 “O magnífico fruto de uma árvore” é o
etrog conforme elaborado abaixo; a murta é identificada somente como
“a árvore frondosa” e embora a árvore do lulav
seja identificada diretamente, nem toda palmeira se qualifica como lulav;
nossos Sábios a extraem do versículo que se refere aos ramos
não abertos do topo da palmeira. Somente o salgueiro é identificado
explicitamente.
*** Este artigo é baseado num jornal diário do Rebe Reshimá
Chanuká 1935, publicado em Reshimot nº 3, pág. 17. |
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