Um projeto arquitetônico
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  Por Rabino Chefe da Inglaterra, Professor Jonathan Sacks – 10 de outubro de 2007  
 

Quando os ventos da tempestade sopram através dos centros financeiros do mundo, existe um pensamento que podemos levar conosco para os tempos difíceis? Aqui está o meu. É sobre a festa judaica que celebramos em Tishrei: Sucot, tabernáculos, quando por oito dias deixamos o conforto de nossas casas e nos sentamos em cabanas, barracas, tabernáculos, tendo apenas folhas como telhado em memória da jornada de nossos ancestrais pelo deserto.

Chamo isso de a festa da insegurança, porque estamos expostos ao vento, chuva e ao frio.

Quando Elaine e eu éramos recém-casados, passamos pelo desafio de construir nossa primeira sucá. Eu não sabia como fazê-la, porque não possuíamos um carro. Eu não tinha como transportar os materiais. Então um amigo disse: “Estou indo ao depósito de madeira. Há lugar no meu carro, venha comigo.”

Portanto no dia seguite fui procurá-lo, e meu coração teve um baque. Ali, sobre a mesa, havia projetos arquitetônicos para a sucá que ele planejava construir. Era magnífica, o Taj Mahal dos tabernáculos, enquanto eu mal conseguiria pegar num martelo. Lá fomos nós para o depósito de madeiras, e ele produziu uma longa lista daquilo que precisava, com medidas e tudo, enquanto eu estava reduzido a pedir um pouco disso e um pouco daquilo, como a receita de canja da minha mãe.

Levamos a madeira, passamos o dia construindo nossos barracões, e então visitamos um ao outro para conferir o que tínhamos feito. A dele era espetacular; a minha parecia uma caixa de papelão torta e grande demais. Mesmo assim, era uma sucá, e dias depois celebramos a festa.

No segundo dia, na sinagoga, meu amigo parecia desanimado. O que aconteceu, perguntei a ele. “A tempestade da noite passada destruiu minha sucá,” disse ele. “E a sua?”

“Oh,” disse eu, “a minha ainda está lá.”

“Impossível,” disse ele, “preciso ir até lá para ver.”

E assim o fez. Ele não conseguia entender como a sucá ainda estava de pé apesar dos ventos. Então ele descobriu por quê. Para mantê-la estável, eu a tinha pregado nos lados da casa com um único prego. Ele deu-me um sorriso e disse: “Agora eu sei que se pode construir a estrutura mais elaborada, porém se estiver solta, os ventos virão e a levarão embora. Porém se em algum ponto você a prender em algo sólido, preso ao chão, você passará pela tempestade.”

Então ele acrescentou essas palavras: “O nome do prego é fé.”

     
   
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