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Imagine que você
está participando de um serviço completo, desde a Keriá
HaTorá (leitura da Torá), no momento em que o rolo é
tirado do Aron Hacôdesh (Arca Sagrada) até que seja restituído
à Arca.
Nos Serviços Matinais de Shabat e Yom Tov, isto acontece geralmente
no meio do serviço, entre Shacharit (Serviço Matinal) e
Mussaf (Serviço Adicional).
Imaginemos que é Shabat e o serviço chegou a este estágio.
O chazan, cantor, coloca-se ao lado da Arca. As preces apropriadas foram
recitadas. A Torá foi tirada da Arca e entregue ao chazan. Ele
recita o primeiro versículo de Shemá e alguns determinados
versos, que a congregação repete, e então carrega
a Torá em direção à Bimá (mesa onde
será aberta para a leitura).
À sua passagem, curvamo-nos e beijamos o manto do Sêfer Torá.
O manto cobre completamente o rolo; apenas os dois braços são
visíveis na base e na parte superior. Muitas vezes o topo dos braços
está colocado numa coroa prateada especial, e o Sêfer Torá
é ainda decorado com uma bandeja de prata pendente na parte frontal,
um lembrete do Peitoral vestido pelo Sumo Sacerdote no Templo sagrado.
Um ponteiro de prata é também pendurado freqüentemente,
para ser usado pelo leitor para marcar o trecho de leitura.
O manto é feito de fino material bordado com símbolos. Na
Bimá, o Sêfer Torá é despido de seus ornamentos
e de seu manto. Sob este manto há um cinturão de seda ou
outro material fino que segura o rolo. Este é desatado, e o Sêfer
aberto.
Depois que o chazan se assegura do local onde deve começar a leitura,
isto é, o início da porção semanal relativa
a este Shabat em particular (ou a porção que deve ser lida,
se for Yom Tov), ele enrola o rolo novamente, e o cobre com o manto. O
primeiro a ser convocado para a leitura da Torá é sempre
um cohen. Ele recita as bênçãos e lê a primeira
seção, e fala a bênção sobre ela.
Em seguida, chama-se o segundo, que é um levi. Após este
vem um terceiro, que não é nem cohen nem levi, mas um Israel.
Sete homens são chamados no Shabat, e um oitavo, chamado maftir
(que também lê um capítulo dos Profetas).
Quando a leitura da porção semanal é concluída,
dois homens são chamados. Um para erguer a Torá para que
toda a congregação a veja, e o outro para enrolá-la
e atar o Sêfer Torá, e vesti-lo antes que seja recolocado
na Arca. Quando é erguido o Sêfer Torá, toda a congregação
se levanta e diz: "Esta é a Torá que Moshê colocou
diante dos Filhos de Israel," etc.
Os rolos da Torá são feitos de pergaminho, isto é,
a pele de um animal casher, especialmente tratada para esta finalidade.
É desnecessário dizer que não há peles grandes
o suficiente para escrever toda a Torá em uma só peça,
por este motivo, vários rolos são costurados juntos, cada
um de forma quadrada.
Como linha para costurá-los, não são usados algodão
ou lã, e sim tendões de animal. A tinta usada para escrever
a Torá não é do tipo comum, mas uma especial, muito
durável. Apenas tinta preta pode ser usada, e nem uma outra cor,
mesmo dourada.
O instrumento com o qual se faz a escrita não é uma pena
comum, mas uma pena bem afiada, de forma a escrever tanto linhas muito
finas como as muito grossas, se necessário.
O pergaminho deve ser acertado com um estilete, que deixa uma marca sobre
ele, mas nenhum traço de cor. Isto assegura linhas retas.
A escrita deve ser feita usando-se caracteres hebraicos quadrados, utilizados
tradicionalmente na escrita de Sifrê Torá desde tempos imemoriais.
Nenhum outro tipo de escrita, mesmo artística, pode ser usado.
Algumas das letras são adornadas com coroas formadas por linhas
curtas. Porém nada pode ser deixado ao gosto artístico do
escriba, pois tudo deve ser copiado estritamente da maneira tradicional
passada a nós de geração a geração,
desde os dias de Moshê. O escriba é chamado sofêr,
em hebraico. A palavra é derivada de sêfer, livro.
Antes de iniciar a sagrada tarefa de escrever o Sêfer Torá,
o escriba prepara-se apropriadamente. Vai ao micvê, uma imersão
ritual, para ficar puro tanto de corpo como de mente. Deve passar algum
tempo em meditação e busca interior, e dirigir todos seus
pensamentos à sua sagrada tarefa.
Cada palavra que o sofêr escreve deve ser copiada de um texto perfeito.
Não pode escrever de memória. O texto (a escrita) deve ser
claro e simples, e uma letra não deve tocar a outra. Deve ser tão
claro que qualquer criança que saiba ler possa ser capaz de entendê-lo.
A escrita não contém nekudot, vogais, ao contrário
do Chumash ou Sidur, quando a leitura é facilitada pelas vogais
e pela pontuação. As porções são divididas
por espaços em branco, e estes espaços devem ser por sua
vez medidos em determinado tamanho, de acordo com a tradição.
Como a Torá não tem pontuação de nenhum tipo,
não é fácil de ser lida por um leitor não
treinado, principalmente por ter de ser lida de acordo com algumas notas.
Todo garoto Bar-Mitsvá, que completa treze anos, sente as dificuldades
de aprender a ler sua porção na Torá. Mesmo assim,
há muitos meninos que lêem não apenas uma porção
breve, mas toda a Porção Semanal na Torá.
Seria impossível enumerar aqui todas as leis e regras que devem
ser observadas ao escrever o Sêfer Torá, pois existem muitas,
e são na maioria destinadas ao Sofêr, e não ao leigo.
Quando a Torá está quase completa, uma celebração
solene é realizada, chamada "Siyum Hatorá," compleição
da Torá. Algumas poucas letras são escritas à tinta,
e estas são completadas no Siyum."
É uma mitsvá para todo judeu escrever um Sêfer Torá,
ou ter um escrito para ele.
Os rolos são presos a carretéis de madeira, chamados "Etz
Chaim" (Árvore da Vida), pois refere-se à Torá
como "árvore da vida para aqueles que a seguram firmemente."
São rolos de madeira especialmente preparados com discos planos,
um em cada extremidade. Estes discos são muitas vezes ornamentais,
com pequenos espelhos inseridos na madeira, etc. Cada Sêfer Torá,
tem, naturalmente, dois Etz-Chaims. Ao fazer guelilá, o Etz Chaim
direito deve ser colocado sobre o esquerdo, pois o direito segura o rolo
sobre o qual o começo da Torá (Bereshit) está escrito.
O Sêfer Torá é o bem mais sagrado do judeu. Os judeus
freqüentemente arriscam a vida para salvar um Sêfer Torá
em caso de fogo. O rolo da Torá não deve ser tocado com
a mão nua, mas com um Talit ou outro objeto sagrado. Quando é
colocado sobre uma mesa para leitura, a mesa deve ser coberta com um tecido
ou Talit.
Através do respeito devido ao Sêfer Torá, pode-se
entender o respeito que devemos ter a um erudito da Torá, pois
ele é como um Sêfer Torá vivo!
Existem algumas dúvidas a serem esclarecidas a respeito do número
de pessoas convocadas para a leitura da Torá em várias ocasiões,
e por que são tirados muitos Sifrei Torá ocasionalmente.
Já mencionamos que no Shabat, sete homens são chamados,
e um para Maftir. Nas três festas (Pêssach, Shavuot e Sucot),
cinco homens são chamados, e um para Maftir. Se a festa coincide
com Shabat, então são convocados oito homens no total, como
num Shabat comum. Em Rosh Chôdesh e emChol Hamoed), quatro pessoas
são chamadas. Em Yom Kipur – seis, e uma para Maftir. Em
todas as outras ocasiões – três.
A seguinte tabela será útil:
- Shabat
– 7 e Maftir
-
Yom Kipur – (se não é Shabat) – 6 e Maftir
-
Festas (se não é Shabat) – 5 e Maftir
-
Chol Hamoed (se não é Shabat ) – 4
- Rosh
Chôdesh (se não é Shabat) – 4
-
Chanucá, Purim, Dias de Jejum, Segundas e Quintas, e Shabat-Minchá
– 3
Há ocasiões
quando uma porção especial deve ser lida, como aquela da
Lua Nova (se ocorrer num Shabat), ou qualquer uma das quatro Parshiyot:
Shekalim, Zachor, Pará, Hachôdesh). Naquele evento, não
apenas um, mas dois Sifrei Torá são tirados da Arca, para
que não seja preciso manejar o rolo para frente a para trás
a fim de se encontrar a segunda porção, mantendo a congregação
à espera neste meio-tempo. Por esta razão, tiramos dois
rolos em um Yom Tov, porque Maftir é invariavelmente lido numa
porção diferente (Pinechás). Há ocasiões
em que três Sifrei Torá devem ser tirados, como por exemplo
em Shabat Rosh Chôdesh-Chanucá.
É notável, de fato, que em qualquer Shabat ou festa, ou
mesmo segunda ou quinta, a mesma porção seja lida em todas
as congregações por todo o mundo! A Porção
Semanal da Torá está presente na grande maioria dos calendários
judaicos.
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