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Não é aquilo que você chamaria de um dos momentos
mais dramáticos da Bíblia. Não faz parte de nenhuma
lista de idéias que mudaram o mundo. Mesmo assim, merece mais consideração
do que tem recebido. Refiro-me àquela ordem em que estamos atualmente
engajados, a "Contagem do Ômer", os quarenta e nove dias
entre Pêssach e Shavuot.
Sob a superfície desta ordem estranha, aparentemente menos importante,
está uma das verdades mais difíceis de conquistar, e mais
facilmente esquecidas, da política.
O que a contagem faz é forjar uma conexão inquebrável
entre dois notáveis momentos na História Judaica; o Êxodo
do Egito, narrado em Pêssach, e a revelação no Monte
Sinai, sete semanas depois, quando D’us entregou os Mandamentos
aos judeus que estavam todos reunidos. Foi então que eles se tornaram
um povo, não apenas uma massa de escravos fugitivos. O Sinai foi
um ato político, um dos mais revolucionários na história.
Estabeleceu os israelitas como uma nação cujo soberano era
D’us, e cuja constituição escrita era a Torá.
Foi o nascimento da idéia de uma sociedade livre, baseada na justiça,
igualdade e a inalienável dignidade de cada pessoa como a imagem
de D’us.
Foi como se D’us estivesse dizendo aos judeus: "Não
pensem que a liberdade é fácil. Não é. Precisa
de disciplinas de restrição cuidadosamente sustentadas,
'hábitos do coração'. Sem isso, a liberdade será
para o forte e não para o fraco, para o poderoso e não para
o vulnerável. Uma sociedade livre não é aquela onde
todos são livres para fazer o que desejam. Ao contrário,
está onde minha liberdade respeita a sua, onde ouvimos o grito
de pessoas às margens e as trazemos para o centro de nossa preocupação.
Uma sociedade livre é uma sociedade responsável. É,
e sempre será, uma conquista moral."
Uma
sociedade livre não é aquela onde todos são
livres para fazer o que desejam. Ao contrário, está
onde minha liberdade respeita a sua, onde ouvimos o grito de pessoas
às margens e as trazemos para o centro de nossa preocupação.
Uma sociedade livre é uma sociedade responsável. É,
e sempre será, uma conquista moral. |
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Em algum ponto ao
longo do caminho, esquecemos esta verdade e começamos a crer que
a liberdade é realmente a ausência de restrições.
Faça o que quiser, desde que isso não prejudique os outros
de maneira óbvia. Sexo sem complicações. Drogas sem
conseqüências. Relacionamentos sem compromisso. Direitos sem
obrigações. Uma sociedade livre quer dizer milhões
de pessoas fazendo o que desejam.
Parecia funcionar a princípio. Talvez ainda funcione. Mas o que
acontece quando descobrirmos que são na verdade, vítimas.
Crianças que jamais conheceram uma família estável
e portanto, o que é fazer um pacto de amor? Adultos que passaram
pela vida sem jamais se aventurarem pelo risco do compromisso? Uma cultura
na qual palavras como discrição, honra, fidelidade, confiança,
são destituídas de qualquer significado? Um ambiente que
nos encoraja a comprar alguma coisa, ao invés de ser alguma coisa?
Um mundo que, nas palavras imortais de Freddy Mercury, "não
tem tempo para fracassados?"
Estes não são os elementos dos quais a liberdade duradoura
é feita. Ao contrário, são os sintomas reconhecíveis
de uma cultura no início de seu declínio e queda. É
por isso que as grandes fés perduraram, ao passo que as civilizações
seculares em volta delas terminaram por se desintegrar. Elas falaram de
temas maiores que o eu. Favoreceram relacionamentos de amor e confiança.
Ensinaram às pessoas como ser mais que eleitores e consumidores.
Exibiram para nós a visão de uma sociedade mais graciosa
que devemos construir juntos, se quisermos construí-la.
É por isso que ainda contamos os dias que vão do Êxodo
ao Sinai, para lembrarmo-nos que a liberdade vem com responsabilidades;
com os outros, com o passado e o futuro, e com o bem comum.
Sem um código moral, a liberdade é frágil demais
para sobreviver. |
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