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Steve estava caminhando rapidamente
na frente do grande edifício, sem prestar atenção,
seus pensamentos concentrados no dia ocupado que o esperava. Lá
de dentro veio uma suave melodia, que mal se podia escutar, passando por
uma janela aberta, e isso o apanhou totalmente desprevenido. Diminuiu
os passos e escutou. O que era aquilo? Por que parecia tão familiar?
Ele abriu a grande porta da frente e entrou lentamente no saguão
do prédio, seus ouvidos atentos aos sons. Onde estava? Era uma
sinagoga. A melodia, ele agora recordava, já tinha ouvido antes,
de pé ao lado do avô, muitos anos atrás.
As lembranças de Rosh Hashaná e Zeide vieram com um impacto
que ele jamais teria acreditado ser possível. Olhou em torno, um
tanto constrangido. O que deveria fazer? O certo seria sair como a lógica
ordenava, com seu trabalho esperando por ele? Ou deveria ficar, como seu
coração inexplicavelmente o mandava fazer? Mas, ele tinha
deixado seu estudo judaico para trás há tantos anos. Tinha
medo até de segurar um livro de orações,preocupado
achando que iria parecer tolo aos outros.
Estava abalado porque não queria parecer imperfeito ou inexperiente,
nem sem conhecimentos. Tinha medo de tomar a decisão de ficar porque
estava inseguro de si mesmo e do pouco que sabia, e se era apropriado.
O que quer que Steve decidiu fazer não é o mais importante
aqui. O que é importante é que podemos aprender uma lição
maravilhosa e singularmente judaica com essa história.
A lição é que tudo bem, se você for imperfeito.
Algo engraçado para se dizer, não é? Especialmente
quando nos aproximamos das Grandes Festas, a época do ano que é
mais intensa para todos os judeus, não importa seu grau de observância.
A época do ano em que devemos revisar nossos atos dos últimos
doze meses e olhar para a frente, com determinação e convicção,
para nos tornarmos melhores no ano que se inicia.
É uma ordem alta - uma ordem muito alta. “Tudo bem ser imperfeito”
é para nos reassegurar que devemos fazer o melhor, mesmo que não
atinjamos a perfeição em nossa primeira tentativa, ou até
na segunda ou terceira. Cada primeiro passo que damos leva a outro passo
e mais outro, até que antes de sabermos, chegamos mais longe do
que jamais pensamos ser possível.
Há aqueles que poderiam dizer a si mesmos como Steven na história
acima: Eu não rezo durante o ano inteiro, então por que
deveria ir à sinagoga em Rosh Hashaná? Como minhas preces
podem ser boas se não posso ler em hebraico? Creio realmente que
minhas súplicas imperfeitas podem fazer alguma diferença?
Todo ano, questões como essas perturbam muitos corações
judeus sinceros. Qualquer que seja o nosso nível de observância
- de um a dez - podemos facilmente sentir uma inconsistência desconfortável
entre o fervor das nossas preces durante as Grandes Festas e nossa conduta
menos inspirada durante o ano. Mas essas mesmas sensações
servem como uma chamado para nós - para decidir fazer o melhor
possível, independentemente do quanto possa ser imperfeito. O exigido
de nós é que demos o primeiro passo, não importa
quão pequeno, no sentido de melhorar a nós mesmos.
Sem duvida o maior judeu da história do mundo foi Moshê.
Ele liderou uma nação de escravos para fora do domínio
egípcio para se tornarem o povo escolhido. No esplendor da nossa
completa tradição, nenhum ser humano atingiu seu status
elevado.
A cada vez que concluímos nossa leitura da Torá, judeus
em todas as eras se levantam para celebrar o legado que Moshê deixou
conosco com as palavras “Vezot haTorá asher sám Moshê
lifnê Benê Yisrael” - Esta é a Torá que
Moshê colocou perante os Filhos de Israel.” (Devarim 4:44)
O comentarista bíblico Kli Yakar (Rabi Solomon Luntschitz, 1550-1619)
explica este versículo como sendo uma referência à
incapacidade de Moshê para estabelecer efetivamente três Cidades
de Refúgio como um abrigo para aqueles que precisavam. Somente
depois que Joshua conquistou Israel e designou três cidades adicionais
de refúgio as três Cidades de Refúgio que Moshê
designou na Transjordânia (como é discutido nos versículos
anteriores em Devarim) entraram em efeito. “Esta é a Torá
(i.e., lição) que Moshê colocou perante os filhos
de Israel.” - a importância de começar uma mitsvá
embora a pessoa possa não ser capaz de cumpri-la até o final.
Embora o currículo de Moshê estivesse saturado com efetivos
dons de liderança, a Torá refere-se ao seu maior presente
aos judeus como um projeto que somente foi completado pelo seu sucessor,
Joshua.
Segundo o Kli Yakar, apesar das nossas imperfeições e falta
de qualquer sucesso evidente, ainda continuamos a nos esforçar
para atingir um nível mais alto, para continuar aumentando nosso
estoque de boas ações. Esta é a coragem que D'us
e o povo judeu têm celebrado durante milhares de anos.
Quebrar os recordes do passado e superar as metas são de fato grandes
vitórias e oportunidade para o júbilo. O Judaísmo,
porém, nunca ficou obcecado com o estrelato de chegar em primeiro
lugar, mas sim de exercer o próprio melhor em termos pessoais.
A perfeição nunca se tornou o objetivo de todo o sucesso
judaico. Nosso barômetro do triunfo sempre foi medido pelo nosso
esforço em superar nossos desafios pessoais. Cruzar a linha de
chegada efetivamente significa superar nossos próprios padrões
fixados de desempenho e inibições.
O exemplo de Moshê nos ensina que na vida nossa atitude não
deveria ser de tudo ou nada. A pessoa mais perfeita na história,
que falou com D'us frente a frente, começou o projeto da Cidade
de Refúgio mas jamais testemunhou seu término. Ele foi invencível
em suas conquistas e a Torá reconhece sua sinceridade, não
pela sua falta de realizações ao não criar três
cidades perfeitas de refúgio durante sua vida, mas sim por fazer
tudo ao seu alcance para deixar o mundo num estado melhor.
Quando iniciamos uma maratona, temos a ideia de terminar a corrida. Mas
se não conseguirmos, ninguém nos despreza. O mais importante
é que pelo menos entramos na corrida e fazermos o melhor possível.
É isso que importa.
As Grandes Festas são um tempo excelente para começarmos
a dar os primeiros passos. Talvez não saibamos corretamente as
preces. Talvez não saibamos ler em hebraico. Temos apenas de começar.
Ninguém vai fazer pouco de nós. Porque todo judeu já
tem vínculos irrevogáveis com nosso nação
judaica. Cada um de nós já começou sua jornada, não
importa onde começou. Se completamos nossa tarefa na vida não
é algo que saibamos no início, mas cada passo adiante que
dermos é um elo precioso na cadeia pessoal de tradição
e continuidade que estamos criando individual e coletivamente.
Que esse Ano Novo seja repleto de bênçãos para você
e aqueles que lhe são caros. E que você tenha o privilégio
de dar o primeiro passo em sua jornada pessoal rumo ao melhor que você
pode ser.
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