Como Mudar o Passado
 

por Yanki Tauber

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“Eu não devia…” ou “Se pelo menos eu soubesse…” Seja algo obviamente errado, seja uma decisão infeliz ou uma oportunidade perdida, nós seres humanos tendemos a nos concentrar no passado, muitas vezes em detrimento de nossos esforços presentes e futuros potenciais.

Alguns nos aconselham a deixar o passado onde está, e seguir em frente com a vida. Somos seres físicos, e as leis da Física (pelo menos até o momento) ditam que o tempo corre apenas em uma direção. Então, por que não deixar simplesmente o passado para trás, especialmente porque o passado está atrás de nós, quer o deixemos ou não para trás?

Este é um conselho que não seguimos. Continuamos a nos sentir responsáveis pelo que ocorreu, continuamos a tentar reescrever nossa história, continuamos a considerar nosso passado como algo que ainda, de alguma forma “faz parte de nós”. Alguma coisa em nossa natureza se recusa a abrir mão, se recusa a reconciliar-se com o fluxo unidirecional do tempo.

Sim, somos seres físicos; porém existe algo em nós que transcende o físico. O homem é um amálgama de matéria e espírito, um casamento de corpo e alma. É nosso ser espiritual que persiste na crença de que o passado pode ser resgatado. É nossa conexão com a essência espiritual de nossa vida que nos concede a capacidade para teshuvá – a capacidade de “retornar” e transformar retroativamente o significado das ações e experiências passadas.

Qual é esta “essência espiritual” com a qual buscamos uma conexão? E como isso nos permite literalmente mudar o passado?

Não apenas o homem, mas todo objeto, força ou fenômeno tem tanto um “corpo” quanto uma “alma”. A alma de um objeto é seu significado mais profundo – as verdades que expressa, a função que desempenha, o propósito ao qual serve.

Como exemplo, consideremos as duas ações seguintes: numa viela escura, um bandido armado com faca ataca um membro de uma gangue rival; a uma centena de metros de distância, um cirurgião se inclina sobre um paciente sedado que está na mesa de operações. O “corpo” dessas duas ações é bastante similar: um ser humano usando um objeto afiado de metal que abre a barriga de outro ser humano. Porém um exame da “alma” desses dois eventos – os desejos que os motivam, os sentimentos que os inundam, os objetivos que procuram atingir – revelam que são ações bem diferentes.

Em outras palavras, o homem é uma criatura espiritual no sentido em que confere significado aos seus atos e experiências. As coisas não simplesmente acontecem – elas acontecem por uma razão, têm um significado, procuram um certo objetivo. O mesmo evento portanto pode significar coisas diferentes para pessoas diferentes; como prova disso, dois eventos muito diversos podem servir ao mesmo propósito e provocar sensações idênticas, imbuindo-as com almas análogas apesar da dessemelhança em seus corpos.

O corpo de nossas vidas está totalmente sujeito à tirania do tempo – os “fatos difíceis” não podem ser desfeitos. Um vôo perdido não pode ser retomado; uma palavra dura a um ente querido não pode ser desfalada. Porém a alma desses eventos pode ser mudada. Aqui podemos literalmente viajar de volta no tempo para redefinir a importância daquilo que aconteceu.

Você dormiu demais, perdeu aquele vôo, e não apareceu para a reunião importante. O significado inicial daquele evento; seu chefe está furioso, sua carreira sofre um sério revees, sua auto-estima despenca. Porém você se recusa a “deixar o passado para trás”. Você fica remoendo o que aconteceu. Pergunta a si mesmo: O que isso significa? O que isso me diz sobre mim mesmo? Percebe que não se importa realmente com seu emprego, que seu verdadeiro chamado está em outra parte. Você resolve começar de novo, num esforço menos rentável porém mais realizador. Você voltou no tempo para transformar aquela hora de cochilo num chamado para acordar.

Ou você teve uma discussão, perdeu a calma, e disse aquelas palavras imperdoeaveis. Na manhã seguinte faz as pazes, concordando em ‘esquecer o acontecido.” Porém você não esquece. Está horrorizado pelo grau da sua insensibilidade; você sofre pelas distância que as palavras colocaram entre vocês dois. Seu horror e agonia fazem você perceber como são sensíveis um ao outro, o quanto você deseja a proximidade com a pessoa que ama. Você voltou no tempo para transformar uma fonte de distiancia e desarmonia num catalisador para maior intimidade e amor.

Na superficie material de suas vidas, a lei do tempo é absoluta. Porém no interior, espiritual, o passado nada mais é que uma outra visão da vida, aberto a explorações e desenvolvimento com o poder transformador da teshuvá.

     
     
 

 

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