As crianças em 1º lugar!
 

por Rabino-chefe da Inglaterra – Professor Jonathan Sacks

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Reflexão

Há pouco celebramos Rosh Hashaná, o Ano Novo Judaico. E há algo sobre isso que acho fascinante. O Ano Novo é, por tradição, o aniversário da Criação – e você teria pensado que escolheríamos como nossa leitura da Torá a abertura de Bereshit, "No princípio D’us criou", e de Yeshayáhu, "Vejam, Eu estou criando um novo céu e terra."


Uma cultura que se preocupa com as crianças pensa mais sobre o futuro que o passado; gasta dinheiro com escolas, não com armas; consagra famílias, não feudos. E jamais ensina seus filhos a odiarem.

Mas não o fizemos. Em vez disso, lemos sobre a prece de Sarah por um filho, a prece de Chana por um filho, e como aquelas preces foram respondidas. Em vez de falar sobre a grandeza do universo, falamos sobre o nascimento de uma criança. Por quê?
Porque acreditamos que uma única vida humana é como um universo. Se você quer entender o milagre da criação, olhe para o rosto de uma criança.

Acho comovente que neste "dia dos dias" nós coloquemos crianças no centro de nossas preces. As crianças são as vítimas do século 21. São 30.000 que morrem todos os dias de doenças evitáveis. Em 88 países há crianças privadas de qualquer tipo de educação. No Oriente Médio, crianças foram transformadas em atiradores de pedras e terroristas suicidas. Em Beslan, foram vítimas no altar do ódio. Até na Grã-Bretanha, transformamos as crianças em mini-consumidores, adultos prematuros. Estamos testemunhando a morte da inocência, o desencanto da infância. E quem protesta?

Às vezes, depois de uma tragédia, nossa preocupação é despertada por um dia ou dois; depois nos esquecemos e seguimos em frente com outras coisas. Fale sobre crianças com os políticos e eles desviam o olhar. Quanto a mim, creio que nossa negligência com as crianças é o escândalo da nossa era.

Atualmente, em todo o mundo, grupos étnicos rivais estão repetindo batalhas com séculos de idade, mas uma cultura que se preocupa com as crianças pensa mais sobre o futuro que sobre o passado. Gasta dinheiro com escolas, não com armas; consagra famílias, não feudos. E jamais ensina seus filhos a odiarem.

As pessoas às vezes perguntam, que bem faz uma religião?

Uma das respostas é que a religião ritualiza as coisas que jamais chegam às manchetes; ela nos lembra dos valores que a cultura contemporânea nos faz esquecer.

A maior pergunta que o futuro fará a nosso respeito: Nós fizemos o mundo um lugar melhor para nossas crianças? E a resposta é: ainda não.

As crianças não têm poder, riqueza, não têm voz, não votam. Mas nós somos seus guardiães, e se puséssemos as crianças em primeiro lugar, criaríamos um mundo diferente e melhor.

     
     
 

 

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