Nós… no banco dos réus
 

por Michael Alterman

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O tribunal está em sessão. Os livros celestiais de julgamento estão abertos e nossas ações do ano que passou estão sendo examinadas pelo Juiz. Além de uma avaliação do povo judeu como um todo, em Rosh Hashaná cada um de nós passará individualmente perante D’us, como descrevem os rabis, como ovelhas sendo levadas através de uma pequena abertura no portão do curral, uma a uma, para ser contada (Talmud Tratado Rosh Hashaná 18a, Netane Tokef (prece). Não poderemos mais nos esconder confortavelmente no meio da multidão, ocultando-nos do penetrante escrutínio Divino. Hoje devemos encarar-nos de frente, perante nosso Criador.

Enquanto ocorre este processo nos Altos, estaremos também olhando para dentro de nós, julgando a nós mesmos, determinando se estamos viajando pelo caminho correto na vida, ou talvez vagando em uma estrada secundária que não leva a lugar nenhum.

Estamos correspondendo a nosso vasto potencial em nosso relacionamento com aqueles ao nosso redor; em nosso relacionamento com D’us; e quanto àquilo que podemos conseguir com nossos talentos, forças e virtudes? Estas são as questões que fazem parte de nossa auto-avaliação. É como alguém que se contempla em um espelho perfeitamente polido, tentando desesperadamente achar mesmo a menor mancha facial ou imperfeição para que possa ser corrigida com cuidado, examinaremos nosso íntimo para comparar nossas conclusões desejadas com nossa presente realidade, para que possamos fazer os melhoramentos necessários.

Ao contrário de muitas outras espécies, a raça humana foi criada como um indivíduo – Adam. Com este singular ato de criação, D’us nos ensinou uma enorme lição – que tudo na criação, um mundo inteiro de vida e beleza vibrantes, valia a pena mesmo que fosse para uma única pessoa. Similarmente, a Mishná (Tratado Sanhedrin 4:5) declara que cada um de nós é requisitado para enxergar a si mesmo como aquele único indivíduo, para inculcar o princípio "por meu mérito o mundo inteiro foi criado" no âmago de nosso ser.

Imediatamente, apresenta-se uma questão: O que os rabis estão tentando transmitir? Isso é para nos dar uma visão inflada, convencida e egoísta sobre nós mesmos?

Tentam transmitir a mensagem de que cada pessoa vem a este mundo com um único propósito, preencher uma necessidade que não pode ser cumprida por ninguém mais. Cada um de nós é imbuído por D’us com a perfeita combinação de talentos e traços de personalidade com os quais cumpriremos nosso papel. Espera-se de nós que façamos nada menos que isso. Quando desenvolvemos nossos talentos e os usamos da maneira adequada, justificamos toda a criação; quando não o fazemos, é como se tivéssemos causado a destruição de todo um mundo. A vida é uma oportunidade maravilhosa… e uma tremenda responsabilidade.

Mesmo antes de nascermos, afirma o Midrash, D’us forma uma imagem celestial representando aquilo que pode ser conseguido ao final de nossa vida. Ao entrarmos neste mundo, embarcamos numa missão para atingir aquele nível de realizações, para fazer nosso ser terreno físico igual àquela elevada imagem celestial. Talvez esta idéia seja mais bem transmitida pelos eventos que ocorreram em Rosh Hashaná há mais de 3500 anos. Quando nosso Patriarca Avraham levantou sua faca para abater seu amado filho Yitschac, cumprindo a difícil ordem de D’us e passando assim pelo seu décimo e último teste, um anjo de D’us chamou seu nome duas vezes: "Avraham Avraham" (Bereshit 22:11).

Naquele momento, comenta o Midrash, Avraham finalmente havia conseguido, pois após 137 anos de conflitos, as duas versões de Avraham – sua verdadeira personalidade mundana e sua imagem celestial – foram perfeitamente iguais. Por fim, Avraham atingira seu propósito na terra.

Rosh Hashaná nos proporciona uma oportunidade especial de começar novamente, ao focalizarmos nossos olhos no cumprimento de nossa missão singular. Entretanto, a fim de continuar efetivamente nossa jornada, devemos usar algum tempo para avaliar nossos talentos e fazer um julgamento sobre nós mesmos. Não devemos nos esquecer que nosso potencial é imensurável; não devemos nos menosprezar. Que este Dia do Julgamento, trazendo um novo ano, sirva para nos elevar a um degrau mais perto de nossa imagem Divina no céu.

     
     
 

 

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