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Uma
vez ao ano, o universo entra em um estado de animação suspensa
D’us reconsidera Sua criação. Está dando lucro?
Está atingindo Minhas metas? Ainda desejo investir-Me no papel
de "Criador"?
O sol ainda se levanta, o vento sopra, a chuva cai, as sementes germinam
os frutos amadurecem. O desejo de D’us por um mundo continua a sustentar
e dirigir o universo. Mas o desejo de D’us por um mundo é
a camada mais externa da alma do universo.
Por que D’us deseja um mundo? Há um motivo mais profundo
sob esta membrana de vontade, e um motivo ainda mais profundo sob ela,
e assim por diante. As obras cabalistas abundam com vários motivos
Divinos para a Criação do universo: o desejo de expressar
Seu infinito potencial; o desejo de que Ele fosse conhecido por Suas criações;
o desejo de conceder bondade; entre outros. Cada um desses "motivos"
se relaciona com uma outra camada da vontade Divina, descrevendo a alma
do universo como manifestada em outro nível da realidade.
No âmago disso tudo está a própria essência
da vontade Divina de criar: D’us criou um mundo porque Ele desejava
ser Rei.
Definindo Soberania
D’us é totalmente capaz e totalmente poderoso. Portanto,
pareceria uma questão relativamente simples para Ele tornar-Se
Rei: tudo que Ele precisa fazer é criar um mundo, povoá-lo
com criaturas, e governar sobre elas. Mas isso por si só não
faria d'Ele um Rei, pelo menos não no supremo sentido da palavra.
Um pastor que conduz um rebanho com um milhão de ovelhas não
é um rei. Um tirano que governa um império de um bilhão
de súditos aterrorizados não é um rei. Um patriarca
benevolente que estende sua autoridade sobre dezenas de seus descendentes
não é um rei. Um professor com mil alunos devotados não
é um rei. Todos esses têm algo em comum: seus súditos
são forçados a se submeter a ele. Eles podem ser compelidos
pela sua confiança na devoção do pastor a suas necessidades,
pelo poder do governante sobre eles, por seu vínculo filial ao
pai ou então pelo seu reconhecimento à sabedoria de seu
mestre – o ponto principal é que eles são compelidos.
E a verdadeira soberania não pode ser forçada.
Um
verdadeiro soberano é aquele cujos súditos escolhem
livremente submeter-se a ele. Não porque precisam dele, não
porque temem seu poder, não porque o amam, nem mesmo porque
avaliam sua grandeza, mas porque o escolheram como rei. |
Um verdadeiro soberano
é aquele cujos súditos escolhem livremente submeter-se a
ele. Não porque precisam dele, não porque temem seu poder,
não porque o amam, nem mesmo porque avaliam sua grandeza, mas porque
o escolheram como rei.
Portanto, para tornar-Se
Rei do universo, D’us criou o homem – uma criatura dotada
de livre arbítrio. Ele criou um ser que é tanto o mais afastado
d'Ele, quanto o mais próximo d'Ele em toda Sua criação.
O mais afastado d'Ele no aspecto que o homem é um ser livre e independente
– livre até para rebelar-se contra Quem o fez. Mais próximo
d'Ele no sentido que o homem é um ser livre e independente –
como somente Ele é livre e independente. Nas palavras do primeiro
homem, Adam, "Primeiro e último, Tu me criastes." D’us
criou o homem "do pó da terra," a última e mais
baixa de suas criaturas, e "soprou em suas narinas um sopro de vida"
que é a própria "Imagem de D’us."
Existem muitos
aspectos em nosso relacionamento com D’us.
Relacionamo-nos com D’us como nosso pastor, expressando nossa gratidão
por Sua providência e sustento de nossa vida. Nós O tememos
e reverenciamos, sempre conscientes de Sua majestade e poder. Nós
O amamos com o amor ilimitado de um filho, reconhecendo nosso vínculo
intrínseco. Nós ganhamos a apreciação ímpar
de um aluno a seu mestre ao estudarmos Sua sabedoria, implícita
e Sua criação é revelada a nós em Sua Torá.
Cada um destes relacionamentos efetiva um outro aspecto ou "camada"
no Divino motivo para a criação, intensificando e vivificando
o envolvimento de D’us com Seu mundo.
Porém uma vez ao ano, "todas as coisas revertem a seu estado
primordial" quando D’us reavalia o próprio âmago
de Seu desejo por um mundo, o "por quê" subjacente de
Seu envolvimento conosco como pastor, governante, pai e mestre. Uma vez
ao ano, D’us pergunta a Si mesmo: Por que criar um mundo?
A primeira coroação
A hora deste ajuste de contas não é arbitrária: Rosh
Hashaná é o dia no qual a soberania de D’us no mundo
foi primeiro realizada. Rosh Hashaná é o sexto dia da criação,
o dia no qual o homem foi criado. D’us já tinha criado os
céus e a terra, os animais e os anjos; já presidia um mundo
que se submetia a Seu governo, sobre criaturas que o temiam e amavam,
e que apreciavam Sua sabedoria. Então D’us criou o homem,
a única de Suas criações com a liberdade de escolher
ou rejeitar seu criador.
Momentos depois, D’us era rei. "Quando Adam ficou de pé,"
diz-nos o Zohar, "ele viu que todas as criaturas o temiam e o seguiam
como os servos fazem com o amo. Ele então lhes disse: 'Vocês
e eu, vamos, adoremos e nos inclinemos, ajoelhemos perante D’us
nosso criador.'" Quando o primeiro homem escolheu D’us como
seu rei, o propósito primordial na criação tornou-se
realidade, infundindo a obra de D’us com vitalidade.
Todo ano, "todas as coisas revertem a seu estado primordial"
conforme D’us novamente Se relaciona com Sua criação
como fez antes de Adam coroá-Lo rei.
Na véspera de Rosh Hashaná, a "vontade interior"
Divina para a criação é retraída e o mundo
fica num estado de "sonolência."
Então, um som penetrante ergue-se da terra e reverbera através
dos céus. O grito do shofar ressoa: um grito totalmente simples,
refletindo não o temor do súdito, não o amor do filho
ou a sofisticação do entendimento do aluno, mas o simples
toque da trombeta de um povo coroando seu rei. Um grito que reflete a
simplicidade da escolha – verdadeira escolha, uma opção
livre de todos os motivos e influências externas.
Um grito que desperta a alma da criação a um total compromisso
e envolvimento na renovação da vida.
Baseado nos ensinamentos
de Rabi Schneur Zalman de Liadi e seus gerações sucessivas
de Rebes de Chabad; cedido por Yanki Tauber (www.chabad.org) |