Leituras da Torá em Rosh Hashaná
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  A leitura da Torá de Rosh Hashaná (bem como Yom Kipur) é recitada com uma melodia especial.

A leitura contém um relato emocionante: o nascimento de Yitschac (Isaac) aos idosos pais, Avraham (Abraão) e Sara. É a primeira ocasião em que se inicia um menino judeu no pacto de Avraham com D'us, no Berit Milá (circuncisão). Avraham sente-se compelido a mandar Hagar e Yishmael (Ismael) embora; há uma descrição sobre o perigo e a salvação de Yishmael; seu estabelecimento no deserto como caçador e arqueiro de profissão, enquanto Yitschac devota sua vida ao estudo da Torá e a D'us.

O poderoso rei Avimelech, de Guerar, procura a amizade de Avraham e este ergue uma pousada gratuita em Beer Sheva e ensina os viajantes a rezar ao único D'us, o Criador do Universo.

Há uma inspiradora leitura da Torá no segundo dia de Rosh Hashaná. É a história da Akedá (amarração de Yitschac) - o teste mais severo que um pai e um filho tiveram que se submeter e pelo qual ambos passaram sem vacilar, com igual devoção e lealdade a D'us.

Após a leitura da Torá, ocorre uma das mais impressionantes e emocionantes partes do serviço quando o shofar é tocado. É proibido conversar desde as bênçãos do shofar até depois dos toques finais, na prece de Mussaf (que ocorre após ser guardada a Torá).

Por um breve período de tempo, faz-se silêncio completo na sinagoga. Cada um concentra-se consigo mesmo, pois este é o momento mais propício para uma auto-avaliação e arrependimento antes do toque do shofar.

 
 

 

  Primeiro dia    
  Porção: Bereshit, XXI
Haftará: Shemuel I, I
 
     
 

Cinco homens são chamados para a leitura da Torá em Rosh Hashaná, se cair num dia de semana; sete - se o primeiro dia cai no Shabat; em ambos os casos - exceto aquele chamado a ler o Maftir. Dois rolos são tirados; o segundo é para o Maftir.

O nascimento de Yitschac (Isaac) é o tema da leitura da Torá no primeiro dia de Rosh Hashaná. A mensagem da porção pode ser encontrada em muitas lições. Primeiro, há a lição da Divina Providência e Onipotência. Sara, aos noventa anos, dá à luz ao seu primeiro e único filho, Yitschac, o segundo de nossos Patriarcas, quando Avraham (Abraão) já contava cem anos de idade. Yitschac é introduzido na Aliança de Avraham, no Berit Milá, à idade de oito dias, como D'us havia ordenado.

A importância da criação e da educação é também enfatizada nesta porção. Ao ver que Yishmael (Ismael), o meio-irmão mais velho de Yitschac, filho de Hagar, exerce má influência sobre o jovem Yitschac, Sara insiste em mandar embora Hagar e o filho. Perdidos no deserto de Beer Sheva e à beira de uma morte dolorosa pela sede, a Divina Providência salva Yishmael pela revelação miraculosa de um poço.

A porção conclui com um episódio ilustrando a elevação de Avraham aos olhos dos vizinhos que o cercam, quando Avimelech, rei dos Filisteus, vai visitar Avraham para estabelecer com ele uma aliança de paz.

O nascimento de Shemuel (Samuel) é o tema da Haftará, leitura dos Profetas. Tanto Sara como Chana (mãe de Shemuel) haviam sido estéreis e sem filhos, mas D'us por fim as abençoou cada uma com um filho. Tanto Yitschac como Shemuel foram consagrados ao serviço de D'us: Yitschac através do Sacrifício, e Shemuel como profeta.

A Haftará conclui com estas palavras significativas:

"Ó Senhor! Os adversários de D'us serão destruídos quando dos céus D'us trovejar sobre eles e julgar os confins do mundo; Ele dará força a Seu rei e levantará a taça de Seu ungido." Aqui a profetisa Chana refere-se ao último Dia do Julgamento e a "taça do Mashiach" - um tema muitas vezes mencionado nas preces deste dia.

     
  Segundo dia  
  Porção: Bereshit, XXII
Haftará: Yirmeyáhu, XXXI
 
     
 

O sacrifício de Yitschac é o tema da leitura da Torá, no segundo dia de Rosh Hashaná, que segue diretamente a porção do dia anterior. É o símbolo de auto-sacrifício com o qual nós, filhos de Avraham, estamos sempre prontos a obedecer as ordens de D'us, e pelos quais D'us nos prometeu Suas bênçãos.

A Haftará apropriadamente fala da reconstrução final e redenção de Israel: "Pois o Senhor redimiu Yaacov (Jacó), e o resgatou de uma mão forte demais para ele... Assim disse o Senhor: Refreia tua voz do choro, e teus olhos das lágrimas, pois teu trabalho será recompensado... e retornarás da terra do inimigo. E há esperança para teu futuro... e teus filhos retornarão à sua própria fronteira." A Haftará conclui com a tocante declaração por parte de D'us, de Seu infinito amor e misericórdia por Israel: "Certamente Efraim é Meu próprio filho querido! Pois sempre que Eu falo sobre ele, ainda dele Me lembro fielmente... Certamente terei misericórdia dele, disse o Senhor."

 
     
  Chana  
     
 

Chana foi uma das sete mulheres a quem D'us deu o poder da profecia. Ao todo tivemos sete mulheres profetisas, e quarenta e oito profetas, cujas profecias são mencionadas nas Escrituras.

A história, como a lemos em Rosh Hashaná do primeiro capítulo do Livro de Samuel I, começa nos apresentando Elkana, o marido de Chana. Ele era um levita (pertencendo à tribo de Levi). Elkana foi um homem de caráter nobre e grande piedade. Observava com pena que muitos de seus irmãos judeus estavam aos poucos se afastando de D'us, e tomou sobre si a tarefa de incrementar um vivo interesse no centro espiritual de Shiló, onde Eli, o Sumo Sacerdote era o juiz de Israel naqueles dias. Como prescrito na Torá, Elkana fez uma peregrinação à Shiló durante cada estação dos Três Festivais. Juntamente com ele, sua família passava os feriados numa atmosfera religiosa na cidade sagrada do Santuário.

Quando o povo viu a caravana de Elkana chegando a Shiló num espírito feliz e animado, muitas pessoas se juntaram a eles. Um vínculo forte desenvolveu-se então entre o povo judeu e seu centro espiritual em Shiló, graças à influência de Elkana.

Chana era uma das duas esposas de Elkana, e não tinha filhos. Sofria em silêncio muitas humilhações nas mãos de Penina, mais afortunada por ter filhos. Em uma das peregrinações anuais a Shiló, Chana ficou no Santuário e abriu o coração a D'us. Pediu que D'us a abençoasse com um filho, prometendo que o consagraria por toda a vida a D'us. Rezou em silêncio, balançando suavemente. Eli a viu e pensou que estivesse embriagada. Repreendeu-a por entrar no Templo Sagrado em estado de embriaguez, porém Chana respondeu com dignidade: "Não, meu senhor, sou uma mulher triste; não bebi vinho ou algo forte, mas abri minha alma perante D'us." Eli entendeu a profunda piedade e tristeza que haviam movido esta mulher, dizendo a ela: "Vá em paz, e que o D'us de Israel te conceda o pedido que Lhe fez." Chana agradeceu-lhe gentilmente e foi embora, com felicidade no coração, na certeza de que sua prece seria atendida.

No devido tempo nasceu-lhe um filho, a quem chamou Shemuel, significando, como ela disse: "Eu o pedi (emprestei) de D'us." A alegria de Chana não tinha limites. Pelos primeiros anos, manteve-o em casa. Então, fiel à sua promessa, levou o menino à Shiló como uma oferenda de gratidão a D'us. Entregando o menino a Eli, o Sumo Sacerdote, Chana disse: "Meu senhor, sou a mulher que aqui esteve rezando a D'us. Rezei por esta criança, e D'us atendeu meu pedido." Disse a Eli do seu voto, e deixou o filho amado aos cuidados de Eli, para ser criado na atmosfera totalmente religiosa do Santuário.

Poderíamos achar que Chana ficou com o coração partido por separar-se do filho, pelo qual havia rezado por tantos anos, mas Chana estava cheia de alegria ao rezar a D'us e dizer: "Meu coração se rejubila em D'us." Estas foram as primeiras palavras da famosa profecia de Chana que assemelha-se a um maravilhoso hino:

"Não há ninguém santo como D'us, pois não há ninguém além d'Ele; nem há rocha nenhuma como nosso D'us.
"Não fales mais tão orgulhosamente; que a arrogância não saia de sua boca;
"Pois D'us é um D'us Onisciente; e d'Ele todas as ações são conhecidas.
"D'us enviou a morte e fez a vida; Ele mandou para o túmulo, e Ele elevou.
"D'us fez os pobre e os ricos; Ele rebaixou, e Ele elevou.
"Ele elevou os pobres do pó, e tirou os mendigos da imundície, e colocou-os entre príncipes, para fazê-los herdar o assento da glória..."

Ao lermos estas palavras inspiradoras da profetisa, podemos logo ver como são apropriadas para o Dia do Julgamento, Rosh Hashaná, quando D'us decide o destino de cada pessoa: quem viverá, quem será rico, quem receberá honrarias - ou o contrário.

 
     
  A origem da prece da Amidá  
     

Nossos sábios dizem que a profetisa Chana nos ensinou muitas coisas importantes. Uma delas é a importância de recitar uma prece sussurrando. Temos a Amidá "silenciosa", que é então repetida em voz alta pelo chazan (cantor).

A Amidá, que recitamos apenas movendo os lábios, mas com a voz quase inaudível, da maneira que Chana rezava, é a parte mais importante de nossa prece. Quando o coração está repleto e dominado pela presença do Todo Poderoso, então a oração é melhor expressa num sussurro.

Chana introduziu também o sagrado nome de D'us, como "D'us das Hostes", i.e., o Senhor de todo o universo, as hostes do céu e da terra. Isto é mais apropriado em Rosh Hashaná, quando proclamamos o domínio de D'us sobre o mundo inteiro.

 
     
  As profecias de Chana  
     
 

Conforme o Targum (que revela muitos segredos ocultos nas Sagradas Escrituras), o primeiro verso da prece de Chana contém a profecia de que seu filho Shemuel seria um profeta em Israel; de que em seus dias o povo de Israel seria libertado dos Filisteus; de que realizaria muitos milagres e maravilhas; e que seu neto Heman, com seus quatorze filhos, iria cantar e recitar os Salmos no Bet Hamicdash, juntamente com outros Levitas.

No segundo verso, Chana prediz a derrota de Sancheriv nos portões de Jerusalém. Continuando, ela faz profecias sobre Nevuchadnetsar e outros inimigos de Israel, que seriam castigados pela sua maldade; entre eles os Macedônios (Gregos) que seriam derrotados pelos Hasmoneanos; o perverso Haman e seus filhos e sua derrota nas mãos de Mordechai e Esther.

Finalmente, Chana profetizou a Grande Guerra Mundial, quando todo o mundo será engolfado numa guerra desesperada de auto-extermínio, e então Mashiach virá trazendo total redenção ao Povo de Israel. Haverá um novo mundo no qual não existirá o mal, a destruição, pois todo o mundo será repleto da sabedoria de D'us.

 
     
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