"Com esta terrível
tensão sobre mim dia e noite, se eu não risse, morreria."
Abraham
Lincoln
Quando éramos
crianças, sempre admirei Heshy Greenblat. Ele estava em minha classe
no jardim de infância, e estudamos juntos até a sexta série.
Porém ele mudou-se para algumas quadras de distância, e finalmente,
após o segundo grau, perdemos contato.
Ora, então porque menciono Heshy assim de repente? Semana passada,
enquanto eu ia ao centro da cidade, quem entra no trem e se senta ao meu
lado? Claro, Heshy Greenblatt! Jamais esquecerei seu rosto.
Trocamos lembranças, e então ele suspirou. "Amigo,
se soubesse o que tenho passado nesses últimos meses, um verdadeiro
pesadelo!"
"Bem, conte-me, então" – pedi.
Heshy suspirou e começou. "Casei-me com uma moça maravilhosa.
Tivemos quatro filhos lindos, três dos quais terminaram a faculdade,
e um é motorista de táxi. Ora, é um meio de vida.
Porém, com uma bela esposa, você ganha também uma
sogra, e uma sogra-avó."
Heshy suspirou. "Veja só, a avó de minha mulher tinha
oitenta e tantos anos. Era uma leitora fanática e gostava de aventuras
baratas e histórias de mistério. Então ela colocou
na cabeça que muitas pessoas, quando são legalmente declaradas
mortas, às vezes não estão realmente mortas. Acrescentou
uma cláusula em seu testamento, dizendo que quando ela morresse,
a família deveria pôr um telefone no caixão junto
com ela, só para garantir, caso estivesse viva e acordasse. Pelo
menos poderia chamar alguém, acreditava ela.
"Então, consultou um rabino e ele brincou com ela, dizendo
que tudo bem, desde que o telefone não estivesse preso no caixão
e não fosse usados parafusos na instalação."
Olhei para ele como se estivesse louco. "Um telefone no caixão?"
"Sim, sim." Heshy continuou. "Veja bem, ela era uma adorável
velhinha, o que podíamos fazer? Então fomos em frente com
a palhaçada. Ora, talvez ela tivesse tido uma premonição
ou algo semelhante, mas o fato é que morreu há seis meses.
Não ria, quando fomos à casa funerária havia um caminhão
da companhia telefônica em frente do lugar. Sério! Minha
sogra tinha notificado um advogado, este notificara a companhia, e eles
realmente enviaram um homem à funerária para instalar um
telefone no caixão e passar os fios para fora através de
um minúsculo buraco na lateral.
"Olhei-o como se estivesse louco, mas ele não estava sorrindo.
Balançou a cabeça, sentido. É verdade! Então
o homem instalou um pequeno telefone de parede, desses usados na cozinha,
no interior do caixão, com um pedaço de fio para fora.
"Nosso rabino quase teve um ataque. Havia a questão da halachá,
mas ele decretou que, se era esta a vontade dela, tudo bem, desde que
o aparelho não estivesse pregado no caixão.
"Fomos ao cemitério" – suspirou Heshy – "e
eles tiveram de cavar o túmulo perto da rua, para que houvesse
um poste telefônico. Um instalador estava nos esperando. O rabino
então recitou as preces e isso foi tudo. Todos choravam, até
o homem da telefônica.
"Minha mulher não estava se sentindo bem, então mandei-a
para casa no carro do agente funerário, e fiquei para trás
com meu primo enquanto os coveiros cuidavam do túmulo.
"De repente, um dos trabalhadores agachou-se num joelho e colocou
o ouvido no solo. Gritou: 'Está tocando!' Com toda a certeza, havia
um som de tilintar que todos nós podíamos ouvir. Cada qual
agarrou uma pá e começou a cavar como louco para chegar
ao caixão. Talvez fosse um sinal. Quem poderia saber?
"O coveiro amarrou algumas cordas no caixão. Conforme o ajudávamos
a puxar para cima, o telefone continuava a tocar. O coveiro abriu a tampa
do caixão, pôs a mão para dentro, perto da boca da
velha senhora, mas ela estava bem morta. Ele alcançou o telefone,
colocou-o próximo do ouvido, esperou um minuto e depois proferiu
um solene 'Não,' Pôs então o aparelho de volta no
caixão e recolocou a tampa.
"Meu primo e eu simplesmente ficamos ali. 'Quem era?' gritei. Ele
olhou-me vagamente e disse: 'A companhia chamou para saber se o telefone
estava funcionando.'"
Olhei para Heshy, que disse: "Sim, sim, é verdade."
"E o que mais aconteceu?" implorei.
"O que mais?" gritou ele. "A velhinha, antes de morrer,
pagou um ano adiantado à companhia por serviços telefônicos
básicos. Ela até mesmo conseguiu um desconto. Escuta, era
o telefone dela."
Heshy olhou para mim e suspirou. "Há dois meses, minha sogra
recebeu um chamado da companhia telefônica. O telefone estava registrando
quatro interurbanos – para a Flórida e Califórnia!"
Engoli em seco. "Você deve estar brincando."
"Verdade" – Heshy suspirou. "Ora, liguei para a companhia
e disse-lhes: 'Vocês estão brincando!' Então o cara
começa a ficar grosseiro e diz: 'Olhe aqui, meu senhor, temos três
telefonemas para a Flórida e um para a Califórnia, feitos
a partir desse número.'
"Tentei fazer-me de bobo, mas o cara não me deu atenção.
Disse-lhe para onde eu queria que ele fosse e desliguei. No dia seguinte,
outro funcionário da companhia ligou e disse que removeriam o serviço
e pegariam de volta o aparelho. Eu respondi: 'Boa sorte!' Tinha minhas
dúvidas sobre se eles teriam permissão legal para tocar
no túmulo! Então ele responde que, se não conseguirem
o telefone de volta, teremos de pagar por ele. De qualquer modo, ele disse
que cancelariam imediatamente o serviço.
"Ora, agora é minha mulher que entra em pânico. Ela
chama o advogado, que recebera um bom dinheiro da velhinha, então,
claro, ele lealmente acha que a velha senhora tem direito a manter o telefone
seis palmos abaixo da terra pelo ano inteiro, já que pagou por
isso.
"Ele telefona para a companhia e faz um espalhafato, ameaçando-os
com todo tipo de procedimento legal, até que a firma por fim concorda
em continuar com o serviço. Eles disseram que os interurbanos ocorreram
devido a linhas cruzadas, e que não receberíamos a cobrança."
Perguntei: "Então tudo deu certo com a companhia telefônica?"
Heshy sorriu constrangido. O trem chegou à estação,
e ele começou a descer.
"Olha, é como eu te disse – um pesadelo após
o outro. Aquela velha senhora me deixava louco quando estava viva e agora,
mesmo morta, não consigo livrar-me dela. Então, domingo
passado foi a gota d'água!"
O trem parou e Heshy começou a se despedir. Mas eu tinha de ouvir
o fim de sua saga, então desci do trem com ele.
Heshy continuou. "Semana passada, as pessoas que estão trabalhando
na lápide perguntaram se eu poderia ir a Staten Island, onde eles
a estavam preparando. Aparentemente havia um problema com a pedra que
a velhinha comprara antes de morrer.
"'Qual o motivo da pressa?' perguntei. 'Ainda temos alguns meses
antes da inauguração.'
"O homem que fazia a lápide mostrou-me uma carta do advogado.
Acredita que a velhinha queria seu número de telefone gravado na
pedra acima do nome, para que seus filhos pudessem ligar se estivessem
precisando de consolo? Acredita nisso!?!"
Olhei para ele, perplexo. "Bem, então o que o homem queria?"
"Ele desejava saber se queríamos também o código
de área gravado na pedra! Sério! Então eu lhe disse:
'Faça o que diz a carta e deixe-me fora disso.'
"'Não posso' – disse o homem. 'A carta diz para checar
com o senhor se o código da área é necessário.
Então, estamos checando!'
"Eu disse a ele para colocar o código de área na pedra.
O motivo pelo qual o homem queria começar tão cedo o trabalho
na pedra era porque desejava usá-la como amostra em frente à
sua oficina, pois as pessoas parariam para ver a coisa. Era uma curiosidade!
Poderia dar início a uma nova moda.
"Então, achei que tudo estava terminado" – explicou
Heshy. "Porém, quando cheguei em casa recebi um telefonema
do administrador do cemitério, pedindo que eu fosse lá no
domingo seguinte. Disse que era um problema delicado.
"Então, lá vou eu para Long Island. Ali chegando, ele
me diz que tem uma ótima idéia. O cemitério deseja
colocar anúncios nos jornais da região, e ele queria saber
se eu punha objeções ao slogan 'O único cemitério
com uma Linha Direta com o Céu', com uma foto do túmulo
da avó de minha mulher, com os fios saindo do chão!
"Eu disse ao cara: 'Você está louco! A velhinha era
louca, mas você ganha a taça! Deixe que a garota descanse
em paz!' Então, ele me diz que ela, na verdade, não está
descansando. Os trabalhadores do cemitério escutam o telefone tocar
o dia inteiro. Aparentemente, alguém da companhia telefônica
passou o número aos filhos e amigos. As crianças devem ter
passado o número a seus próprios amigos para um grande trote,
especialmente antes dos exames do final do ano. Eles acreditam que a velhinha
possa estar 'em bons termos' com o Senhor. Não lhes custa nada,
porque ninguém atende o telefone, então eles ligam e ligam
de novo!"
"Ora" – brinco eu – "o que você quer
que eles façam, tirem o número da lista?"
Heshy não riu. "É exatamente isso. O número
antigo já está gravado na pedra e para mudá-lo, custará
duzentos dólares. Eu nem mesmo quis pagar quando a companhia telefônica
mudou o código de área dela."
Contemplei-o estranhamente. "E agora, o que vai fazer?"
"Nada" – respondeu suavemente. "No fim do ano, o
serviço telefônico expirará, e a confusão toda
terá um fim – assim espero."