Achashverosh
sobe ao trono da Pérsia
"E se passou
nos dias de Achasverosh..." (Meguilat Ester 1:1)
Há mais
de dois mil anos (no ano 3392 após a Criação
do mundo), o rei Achashverosh subiu ao trono da Pérsia. Apesar
de não ser o herdeiro legítimo da coroa, conseguiu
impressionar o povo pelas suas riquezas e poder, estabelecendo seu
reinado sobre todos os territórios persas. Guerreava muito
e conseguiu numerosas vitórias. Seu império se estendia
das índias até a Etíópia, comportando
127 países.
0 rei, que já
havia conquistado vivamente o povo persa pela sua opulência,
impressionou-o ainda mais com seu casamento com Vashti, filha de
Belshatsar, rei da Babilônia, e neta do poderoso Imperador
Nevuchadnetsar. 0 povo estava persuadido de que a dinastia babilônica
estava destinada a reinar para sempre.
Achashverosh
governava com mão de ferro e jamais hesitava em perseguir
aqueles que suspeitava de traição. Os inimigos de
Israel, bem conhecidos por sua astúcia, os samaritanos e
amonitas, que tinham organizado uma campanha para abolir o decreto
imperial do rei persa anterior, Ciro, autorizando os judeus a reconstruírem
o Templo de Jerusalém, aproveitaram-se da situação.
Corrompiam os governadores persas, nomeados para dominar o país
de Yehudá e os países vizinhos, para que revelassem
à corte imperial da Pérsia os rumores segundo os quais
os judeus, ao reconstruírem o Templo, teriam a intenção
de se revoltar e se libertar completamente do domínio persa.
Como bem sabiam, nenhuma lei poderia ser anulada sem o consentimento
do rei.
Estes samaritanos
inescrupulosos decidiram então, utilizar-se de falsas acusações
e declarar que os judeus, não somente reconstruiriam o Templo,
mas reedificariam ao mesmo tempo as fortificações
da cidade que foram destruídas pelo Imperador da Babilônia,
Nevuchadnetsar.
A reconstrução
das fortalezas ao redor de Jerusalém era proibida pelo império
real. Os samaritanos pensavam então ser isso motivo suficiente
para anular o decreto imperial do rei Ciro, autorizando os judeus
a reconstruírem o seu Templo.
Entretanto,
temiam proferir tais mentiras, facilmente esclarecidas, cujas conseqüências
poderiam ser perigosas. Tramavam então um plano astucioso
no qual não correriam o sério risco de serem responsabilizados
por falsas acusações. Pretendiam subornar com dinheiro
os secretários do rei encarregados de traduzir a acusação
original escrita na língua samaritana, para que fossem acrescidas
as palavras "Muro de Fortificação", na parte do texto
que se referia ao Templo. Esperavam assim poder justificar sua mentira,
invocando um simples erro de tradução.
Os dois secretários
designados a apresentar o documento ao rei eram Rachum e Shamshi,
sendo que o segundo era um dos filhos de Haman. Ambos possuíam
um ódio feroz dos judeus. A trama obteve sucesso e os judeus
receberam a ordem de parar a reconstrução do Templo
em Jerusalém.
top
0
trono do rei Salomão
"Naqueles
dias quando o rei Achashverosh sentou no trono real em Shushan..."
(Meguilat Ester 1:2)
Desde que Achashverosh
proclamou-se rei da Pérsia, decidiu utilizar o trono, pertencente
ao rei Shlomo (Salomão), encontrado junto a seus despojos.
Este trono era
o mais maravilhoso, sobre o qual um rei jamais se sentara. Era construído
de marfim recoberto de ouro, encrustado de rubis, safiras, esmeraldas
e demais pedras preciosas que lançavam faíscas multicoloridas.
Possuía
seis degraus, e cada um deveria recordar um dos seis mandamentos
especiais que um rei de Israel deveria cumprir. Estavam esculpidos,
em cada degrau, dois animais em ouro com a face voltada um ao outro.
No primeiro: um leão e um boi; no segundo: um lobo e um carneiro;
no terceiro: um tigre e um camelo; no quarto: uma águia e
um pavão; no quinto: um gato e um galo; no sexto, enfim:
um falcão e uma pomba. Na parte superior do trono, uma pomba
segurava em seu bico um falcão, ambos de ouro.
Na parte lateral,
sobre o trono encontrava-se uma esplêndida Menorá (candelabro),
ornamentada com taças, botões e pétalas de
flores, tudo em ouro puro. De cada lado da Menorá erguiam-se
sete braços. De um lado gravados os nomes dos sete pais do
mundo: Adam, Nôach, Shem, Avraham, Yitschac e Yaacov, com
Iyov no centro, e do outro os nomes dos homens mais pios: Levi,
Kehat, Amram, Moshê, Aharon, Eldad, e Medad com Chur no meio.
De cada lado
do trono havia uma cadeira especial em ouro, uma para o Cohen Gadol
(o Sumo Sacerdote) e outra para o Segan (Vice-Cohen Gadol), rodeados
de setenta cadeiras, também de ouro, para os membros do Sanhedrin
(a Corte da Suprema Justiça), com vinte e quatro vinhedos
de ouro formando uma cúpula sobre o trono.
Quando o rei
Shlomo subia ao trono, começava a funcionar um mecanismo
especial. No primeiro degrau, o boi e o leão estendiam suas
patas para sustentar e ajudá-lo a subir ao próximo
degrau. De cada lado e em cada degrau, os animais mantinham firmemente
o rei até que ele se sentasse no trono. Mal se sentava, vinha
a águia trazendo-lhe a grande coroa e a mantinha acima de
sua cabeça, para que não sentisse o seu peso.
Em seguida a
pomba sobrevoava por cima da Arca Sagrada, pegava um pequeno Sêfer
Torá e o colocava nos joelhos do rei, conforme o preceito
da Torá, segundo o qual um Rolo de Torá deveria sempre
acompanhar o rei a fim de servir-lhe como um guia para governar
Israel.
0 Cohen Gadol,
o Segan e os setenta membros do Sanhedrin levantavam-se e saudavam
o rei. Após esta cerimônia, se sentavam para estudar
e julgar os casos e situações do reino a eles apresentados.
Todos os reis
e príncipes daquela época falavam do trono do rei
Shlomo e vinham admirar sua beleza e engenhosidade. Posteriormente,
quando o Faraó Nechê, invadiu o país de Yehudá,
apossou-se do trono, mas ao colocar o pé no primeiro degrau,
o leão de ouro desfechou-lhe um violento golpe que o fez
cair, deixando-o enfermo durante o resto de sua vida. Este é
o motivo pelo qual ele recebeu o apelido de "nechê" - que
significa "o manco".
Mais tarde,
quando Nevuchadnetsar destruiu o Templo e subseqüentemente
conquistou o Egito, levou o trono consigo à Babilônia.
Mas na tentativa de subir, o leão o derrubou, e ele nunca
mais ousou intentar. Depois, o rei Dárius da Pérsía
conquistou a Babilônia e trouxe o trono para a Média.
Quando Achashverosh tentou por sua vez subir ao trono, recebeu um
golpe na parte inferior das costas.
Não repetiu
a façanha nunca mais, porém convocou alguns engenheiros
especialistas do Egito e lhes ordenou a construção
de um trono análogo ao do rei Shlomo. Estes, por sua vez,
trabalharam por quase três anos consecutívos para edificá-lo,
e foi para esta ocasião que o rei Achashverosh deu uma grande
festa.
top
A
festa real
"No terceiro
ano de seu reinado, ele ofereceu um banquete..." (Meguilat Ester
1:3)
O rei Achashverosh,
que era um usurpador, procurava constantemente novos métodos
pata reforçar seu poderio e ganhar os favores do povo, tanto
quanto dos poderosos homens de Estado que pertenciam à corte
real.
Para tanto,
transferiu a capital da Babilônia para Shushan, na Pérsia,
e o que mais impressionou a todos foi a festa real que ofereceu
com a duração de 180 dias. Todos os representantes
das nações do seu vasto império foram convidados
a participar. Após esses seis meses, ele organizou um festejo
especial para toda a população de Shushan, que durou
sete dias.
No decorrer
desta festa, cujo objetivo era ganhar a popularidade e simpatia
da grande massa, lugares de honra foram concedidos a simples cidadãos,
cujas mínimas exigências foram prontamente atendidas.
Existia um velho
costume persa que estabelecia que, durante uma refeição
importante, cada convidado deveria beber até o fim, uma grande
taça de vinho, de aproximadamente 5/8 de um tonel. Mas o
rei Achashverosh, procurando satisfazer a todos, não os obrigou
a tomar esta quantidade, pois não quis que seus convidados
fizessem algo que não os agradasse.
Naquele instante
D'us proclamou: "Tolo e vaidoso! Como você pode querer satisfazer
a todos? Quando dois navios seguem em rotas opostas, um em direção
ao sul, e o outro ao norte, como pode um ser humano fazer com que
um único vento seja capaz de empurrar os dois? Amanhã,
dois homens virão, Mordechai e Haman. Você não
poderá agradar a ambos; você será obrigado a
valorizar um e desprezar o outro. Somente D'us, pode satisfazer
a todos".
0 rei Achashverosh
ficou muito perturbado, porque dera ordem de parar a construção
do Templo de Jerusalém. Mas o medo verdadeiramente apoderou-se
dele com a aproximação do término dos setenta
anos de exílio previsto pelos profetas judeus. Temia que
a restauração do Estado judeu e a reconstrução
do Templo terminassem por abalar os fundamentos sobre os quais se
baseava seu vasto império. Era neste estado de angústia
que ele esperava o fim destes setenta anos.
Segundo seus
cálculos, os setenta anos deveriam terminar durante o terceiro
ano do seu reinado. Quando viu passar esta data sem nada ocorrer,
ficou jubiloso e acreditou finalmente que os judeus seriam para
sempre seus súditos, sem jamais recuperar o poderio e a independência.
Esta foi a outra
razão para tão pomposa festa. Sentia-se seguro e poderoso;
com efeito estava tão certo de seu poderio que não
hesitou em utilizar à sua mesa a preciosa e sagrada louça
do Templo, capturada pelo terrível Nevuchadnetsar.
Como todas as
outras nações, os judeus foram convidados a assistir
à festa real. Haman, simples funcionário, que ainda
não ocupava um cargo de prestígio, viu nisto uma chance
de lhes preparar uma armadilha, atraindo-os a comer alimentos não
casher. Em seguida, aproveitando-se da momentânea cólera
de D'us contra o seu povo, resolveu perseguir os judeus e colocar
em prática o seu projeto de exterminá-los.
Mordechai que,
na época era o grande líder de seu povo, tomou conhecimento
desse plano, e exortou os judeus a evitarem o palácio, a
fim de não incorrerem na ira Divina. A grande maioria seguiu
seu conselho, mas alguns não o obedeceram e foram ao palácio
para assistir a festa. Para sua consternação, descobriram
nas mesas os objetos sagrados do Templo e se retiraram. Mas o rei
apressou-se em ordenar a seus servos para colocar mesas especiais
para os judeus. Eles então abandonaram toda sua altivez,
comendo iguarias e bebendo vinho não casher, divertindo-se
tanto quanto os demais convidados.
0 Eterno, bastante
irritado pela desobediência de seu povo, ordenou que ele fosse
perseguido por Haman e decidiu que somente seria salvo quando retornasse
de todo coração a D'us.
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A
condenação à morte
"A rainha
Vashti recusou-se a obedecer a ordem do rei que lhe havia sido transmitida...
" (Meguilat Ester 1:12)
O sétimo
e último dia da grande festa realizada no palácio
real era um Shabat. Enquanto os judeus religiosos não trabalhavam,
mas recitavam preces e estudavam a Torá, as orgias no palácio
não cessavam. 0 rei, com a língua solta pelo vinho,
começou a gabar-se de suas riquezas, de seu grande império
e até mesmo de Vashti, a rainha, que pela sua beleza e extraordinário
charme superava a todas as outras mulheres. Um dos convidados, excitado
pelos licores e vinho ingeridos, desafiou o rei a provar a veracidade
de suas palavras, permitindo a Vashti exibir a sua beleza aos convivas.
0 rei imediatamente mandou procurar a rainha e ordená-la
a vir a sua presença.
No fundo do
coração Vashti possuía um ódio terrível
contra os judeus, ira que havia herdado do rei Nevuchadnetsar, seu
avô. Tinha o prazer de torturar meninas judias, mandando trazê-las
no Shabat e forçando-as a fazer todos os tipos de trabalho.
Quando o rei a chamou, falou indignada: "É possível
que me ordenaram buscar como a uma simples escrava?" E com muita
audácia - recusou-se a obedecer a ordem do rei de ir até
o salão onde se realizava o banquete.
0 rei ficou
irado. Reuniu sábios conselheiros de seu reino para julgar
e condenar Vashti por desobediência. Mas todos temiam falar,
menos Haman, que naquela época, era um funcionário
desconhecido chamado de Memuchan, e de todos estes homens era ele
quem ocupava o posto inferior. Aconselhou o rei a executar Vashti,
pois, dizia ele, seu atomafrontoso poderia trazer conseqüências
desastrosas de grande porte. Portanto Vashti foi morta por rebelar-se.
Entretanto,
não foi simples coincidência que a cruel Vashti foi
condenada à morte no Shabat. Ela estava pagando assim o sofrimento
que causou às crianças judias no sagrado dia de Sbabat.
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Mordechai
e Ester
"Havia em
Shushan, a capital, um judeu... " (Meguilat Ester 2:5)
Após
a morte de Vashti, buscas foram empreendidas em todo o reino para
achar uma esposa adequada para o rei. Todas as moças, as
mais belas do país foram levadas ao palácio para que
o rei pudesse escolher uma dentre elas, para substituir a Vashti.
Em Shushan,
habitava um judeu religioso e sábio, Mordechai, que tinha
uma gentil e charmosa prima, Ester ou Hadassa, órfã,
tendo sido criada por Mordechai.
A maioria dos
pais teria considerado o casamento de sua filha com o rei uma honra
rara e um grande privilégio. No entanto, Mordechai temia
o dia no qual Ester seria chamada a se apresentar à corte.
Ele sabia que não poderia escondê-la por muito tempo.
Finalmente as autoridades ouviram falar de Ester e vieram buscá-la
para conduzi-Ia ao palácio.
As buscas para
substituir Vashti perduraram por alguns anos. As moças mais
belas de todas as 127 províncias do império foram
reunidas no palácio do rei em Shushan, cada uma desejando
ser escolhida como rainha. Todas receberam o tratamento de beleza
exigido e os vestidos mais extraordinários que poderiam ambicionar.
Ester foi a
única a nada pedir. No entanto, desde sua chegada ao palácio,
todos foram cativados pela sua modéstia e ela foi tratada
com respeito e deferência. Sua beleza provinha da alma, o
que lhe conferia um charme e uma graça dos quais somente
ela possuía o segredo. Apesar de não ser a mais bela
das moças que tinham sido reunidas, o rei lhe deu preferência.
Quando soube que havia sido escolhida para se tornar rainha rodeou-se
de leais servos judeus que lhe providenciavam comida casher. Escondia
sua origem, pois Mordechai lhe havia dito para revelá-la
somente quando obrigada a fazê-lo. Portanto o rei não
conhecia sua nacionalidade; sabia somente que era órfã.
Todos os dias,
Mordechai ia ao palácio para obter notícias. Ele achava
que a jovem tivera um mau destino, mas consolava-se ao pensar que
havia sido escolhida por D'us pela sua devoção, para
ajudar o povo judeu em caso de necessidade. Mordechai sentia que
nuvens sombrias se levantavam no horizonte e previa dias difíceis
para seus irmãos judeus.
top
A
conspiração é descoberta
"Naqueles
dias... dois camareiros do rei... elaboraram um plano para destroná-lo...
" (Meguilat Ester 2:21)
Após
ter sido escolhida como rainha da Pérsía, Ester perguntou
ao rei a razão dele não possuir um conselheiro judeu,
como haviam feito os outros reis.
Ela lembrou-lhe
que, mesmo o poderoso Nevuchadnetsar tinha um conselheiro judeu,
o profeta Daniel. 0 rei respondeu que não conhecia nenhum
judeu digno de ser nomeado para o cargo. "Existe Mordechai", respondeu
Ester. "É um homem sábio, religioso e leal." Foi assim
que Mordechai tornou-se conselheiro do rei.
Um dia Mordechai
ouviu uma conversa entre dois servos do rei, Bigtan e Teresh. Descobriu
que tinham a intenção de envenenar o rei, pois ele
os havia destituído do seu cargo de camareiros-mor e os colocado
abaixo de Mordechai. Queriam que todos acreditassem que no longo
tempo que se ocupavam do rei, sua vida esteve em segurança,
mas bastou um judeu ser nomeado na corte, para que viesse a ser
vítima de um envenenamento. Apesar de serem tártaros
e falarem o idioma de seu país, Mordechai, que por ser membro
do Sanhedrin deveria conhecer todas as línguas, não
teve nenhuma dificuldade em entender esta conversa. Revelou a Ester
o complô que se tramava, e ela por sua vez, informou ao rei,
em nome de Mordechai.
Após
a sesta, o rei pediu sua bebida costumeira a seus dois criados,
Bigtan e Teresh que, ignorando serem suspeitos a trouxeram envenenada.
0 veneno foi imediatamente descoberto na taça e os dois homens
condenados à morte, enquanto que no livro de memórias
reais, foi relatado que Mordechai havia salvo a vida do rei.
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O
novo primeiro ministro
"Após
estes acontecimentos, o rei Achashverosh concedeu a Haman uma posição
acima de todos os ministros..." (Meguilat Ester 3:1)
O cruel Haman
descendia de Amalec, o inimigo implacável dos judeus. Era
o homem mais rico do seu tempo. Ele adquirira suas riquezas desonestamente,
apossando-se dos tesouros dos reis de Yehudá. 0 rei Achashverosh
fortemente impressionado pela sua fabulosa fortuna, nomeou-o Chefe
do Conselho de Ministros. Ele promulgou, em seguida, uma ordem determinando
a cada um na corte de se inclinar perante Haman, por deferência.
Haman trazia
em seu peito a imagem do deus que adorava. Mordechai recusava-se
a prostrar-se perante ele, apesar das numerosas advertências
que havia recebido dos diversos oficiais da corte. Quando o próprio
Haman o censurou por não lhe dar a honra que o rei lhe havia
conferido, Mordechai teve uma resposta muito justa, que era judeu
e que não se inclinaria jamais perante um ser humano com
um deus pagão por sobre o peito.
Mordechai e
Haman já haviam se encontrado anteriormente em outras circunstâncias.
Há muitos anos atrás, no tempo do rei Ciro, quando
os judeus haviam recomeçado a reconstrução
do Templo de Jerusalém, vivia na Samária uma tribo
que o rei Sancheriv tinha trazido após ter enviado ao exílio
muitos judeus. Estes samaritanos praticavam parcialmente a religião
judaica, mas não se identificavam totalmente com o povo judeu
e a Torá.
Quando o rei
Ciro concedeu aos judeus a autorização de construir
o Templo, os samaritanos teriam gostado muito de participar da sua
edificação, mas os judeus recusaram esta ajuda. É
por este motivo que os samaritanos faziam todo o possível
para impedi-los de realizar esse projeto tão caro a eles.
Apesar de seus
esforços, os samaritanos não alcançaram a sua
meta. Dirigiram-se então à corte real da Pérsia,
acusando os judeus de não se contentar com a reconstrução
do Templo, mas de organizar também uma rebelião contra
o domínio persa.
Os samaritanos,
juntamente com outros inimigos dos judeus escolheram Haman para
representá-los na corte do rei Ciro e apoiar suas acusações.
Os judeus, por sua vez, designaram Mordechai como seu advogado.
Os dois homens
partiram ao mesmo tempo rumo à Pérsia. Como eram obrigados
a atravessar o deserto, levaram víveres para a jornada. Haman,
que era glutão terminou rapidamente com suas provisões,
enquanto Mordechai conservara o suficiente para toda a viagem.
Haman que estava
faminto, pediu a Mordechai para dividir com ele os alimentos que
restavam. Inicialmente, Mordechai recusou-se, mas tomado pela piedade,
aceitou, com a condição de que Haman se tornasse seu
escravo.
Como não
encontraram nenhum papel para concretizar o contrato, Haman escreveu
este compromisso na sola de um dos sapatos de Mordechai: "Eu, Haman,
descendente de Agag, me vendi como escravo a Mordechai, em troca
de pão."
Desde então,
Haman não podia perdoar Mordechai por esta humilhação
e temia constantemente que Mordechai fizesse com que ele cumprisse
com seu compromisso. Naturalmente, Mordechai jamais sonhara em tirar
algum proveito disto.
Quando Haman
tornou-se Primeiro Ministro e exigiu que Mordechai se inclinasse
perante ele, este levantou seu sapato e o agitou no ar. Haman segurou
sua língua e se calou. Mas em sua ira, jurou destruir Mordechai
e todos os judeus.
top
A
trama de Haman
Não foi
preciso muito tempo para Haman descobrir um meio através
do qual esperava exterminar todos os judeus das 127 províncias
da Pérsia e, entre eles, seu pior inimigo - Mordechai.
Sem perder tempo,
fez uma longa lista de falsas acusações contra os
judeus. Para dar à elas uma maior aparência de veracidade
e abusar da ingenuidade do rei, algumas eram reais ou parcialmente
corretas. Haman aproximou-se do rei, dizendo-lhe que o povo estava
impaciente e para tanto era preciso encontrar uma diversão
apropriada. Acrescentou afirmando que havia chegado o tempo de perseguir
os judeus.
Mas o rei replicou
timidamente: "Seu D'us é poderoso e fará com que eu
tenha o mesmo destino de Nevuchadnesar e de outros monarcas que
injuriaram os judeus."
Haman disse-lhe
então: "Mas há muito tempo os judeus abandonaram seu
D'us."
"Mas não
há entre eles, homens religiosos e devotos?", perguntou o
rei.
"Eles são
todos iguais, um não vale mais do que o outro", respondeu
Haman.
O rei continuou
argumentando: "Mas isso poderá prejudicar o interesse do
meu reino."
Ao que Haman
respondeu que os judeus se encontravam espalhados por todo o território
e ninguém perceberia seu extermínio. Continuou a difamar
e a humilhar os judeus aos olhos do rei, insistindo em afirmar que
era um povo isolado, que vivia, comia e bebia entre si, não
se misturava e nem casava com moças do país, era pouco
desenvolvido e preguiçoso, pois constantemente observava
dias de descanso como Shabat, Pêssach, Shavuot, Sucot, etc.
D'us escutava
o que era proferido e disse: "Homem perverso! Tu estás reclamando
das festas que Meus filhos celebram. Pois bem, Eu lhes darei mais
outra, para que possam comemorar a tua queda."
Haman ofereceu
ao rei dez mil moedas de prata para compensar as despesas com a
perseguição aos judeus, mas o monarca sorriu e falou:
"Guarda o dinheiro e acossa os judeus com ele. Faz deles o que te
agradar."
Sobre esta transação,
nossos Sábios contam a seguinte parábola:
Havia dois colonos
cujos campos eram vizinhos. No primeiro existia um grande poço
que o proprietário queria preencher com terra, enquanto que
no segundo, uma colina cujo dono queria suprimi-la. Certo dia, estes
homens se encontraram. O primeiro disse: "Você quer me vender
tua colina, pois quero tampar o meu poço?" O outro respondeu:
"Você é o homem que procuro. Eu lhe dou a colina gratuitamente,
pois pensava em me livrar dela."
Como prova de
sinceridade, o rei Achashverosh tirou seu anel de sinete e o entregou
a Haman, dando-lhe poder absoluto. Haman tinha agora seus passos
livres. Podia publicar decretos e promulgar ordens, ficando os judeus
em suas mãos, o que o deixou imensamente feliz.
Imediatamente
começou a executar seu sombrio propósito. Chamou os
escribas do rei e ordenou-lhes que preparassem dois decretos reais
para enviar a todos os embaixadores e governadores das 127 províncias.
0 primeiro era
um edital aberto e ordenava a todos os governadores que fornecessem
armas ao povo para o dia 13 de Adar, a fim de que, neste dia massacrassem
um certo grupo prejudicial à nação. 0 segundo
decreto, lacrado, indicava o nome desse grupo, mas eles somente
tinham a permissão de abri-lo no dia 13 de Adar. Esta ordem
indicava em termos claros e inequívocos, que o povo persa
devia atacar e matar todos os judeus, jovens e velhos, mulheres
e crianças, em todo lugar onde estivessem.
Estes dois decretos
irrevogáveis, devidamente assinados e selados com o carimbo
do anel do rei, foram enviados de imediato a todos os dirigentes
do reino. O astuto Haman tinha tomado as devidas precauções
para que seu plano permanecesse secreto, para surpreender os judeus
sem lhes dar nenhuma escapatória. Ele saiu do palácio
exultante, para informar Zeresh, sua mulher, de seu engenhoso plano.
Mordechai que
se encontrava no portão do palácio real, percebeu
a exuberante alegria refletida na face de Haman, e deduziu que este
havia preparado alguma surpresa. Ele avistou três crianças
judias que saíam da escola e seguiu-as. Mordechai pediu a
uma delas:
"Diga-me o que
aprendeu hoje?"
O menino respondeu-lhe:
"Não temas um medo repentino e as catástrofes dos
perversos quando vierem." (Mishlê 3:25)
0 segundo abriu
conversa e falou: "Eu estudei hoje Torá e parei no versículo:
"Eles (os perversos) têm planos que serão anulados,
falam palavras que não se concretizarão, pois D'us
está conosco." (Yeshayáhu 7:10)
0 terceiro citou
o versículo: "Até a velhice Eu serei o mesmo; na idade
avançada Eu te guiarei; Eu já o fiz e Eu continuarei
a te sustentar; Eu te orientarei e Eu te redimirei." (Yeshayáhu
46:4)
A face de Mordechai
iluminou-se e ele abraçou as crianças com amor.
Haman que havia
testemunhado a cena, estava curioso por saber o significado do que
havia presenciado. Perguntou: "O que fizeram estas crianças,
para te deixar tão alegre?" E com um ar triunfante, Mordechai
respondeu: "Elas me trouxeram boas notícias, abençoadas
sejam, e me disseram que não preciso temer-te".
Haman, nervoso,
exclamou: "Serão as crianças as primeiras a sentirem
minha mão destrutiva."
top
Mordechai
entra em ação
"E Mordechai
soube do que estava ocorrendo..." (Meguilat Ester 4:1)
Na mesma noite
Mordechai teve um sonho estranho. Eliyáhu, o profeta, o maravilhoso
protetor que surge em tempos de aflição para avisar
o povo judeu de perigo iminente, apareceu-lhe, revelando o complô
de Haman. 0 profeta acrescentou que os judeus estavam ameaçados,
pois não haviam respeitado os mandamentos da Torá,
comendo alimentos não casher.
Somente um profundo
arrependimento poderia salvá-los.
Ao acordar,
Mordechai rasgou suas vestes e foi para as ruas da capital. Seus
gritos e choro despertaram todos os judeus de Shushan. A má
notícia se espalhou rapidamente pela cidade. Quando eles
souberam que, estavam condenados a morrer no dia 13 de Adar, sentiram
uma imensa dor. Vestido com um saco e com cinzas espalhadas pela
cabeça, Mordechai chegou aos portões do palácio.
Os fiéis servidores de Ester, avisaram-na do estado no qual
se encontrava Mordechai. Estas notícias a preocuparam muito.
Desejosa em
saber a razão da aflição de seu primo, Ester
enviou-lhe roupas para que pudesse trocá-las pelas suas,
com as quais ele não poderia adentrar no palácio.
Pediu-lhe para vir imediatamente contar o ocorrido. Mordechai recusou-se
a tirar o saco, mas, enviou à rainha através do seu
fiel servo Hatach, um pequeno bilhete, anexo à cópia
do decreto real publicado em Shushan. Ele pedia à rainha
para intervir junto ao rei a fim de salvar o povo judeu. Mordechai,
estava plenamente convencido de que Ester se tornara rainha somente
para permitir a ele, ajudar o seu povo em uma época tão
decisiva. Era chegada a hora dela revelar ao rei sua origem e solicitar
dele que não fosse feito mal algum aos judeus, a respeito
do que fora induzido erroneamente pelo arrogante Haman.
Ester escreveu
a Mordechai estas linhas:
"Caro primo,
estou pronta a fazer todo o possível, mas tu certamente conheces
as instruções rigorosas dadas pelo rei, influenciado
por Haman, segundo as quais qualquer pessoa que penetrar nos aposentos
do rei sem ter sido convidada, será condenada à morte,
a menos que o rei lhe estenda o cetro de ouro. 0 perverso Haman
deve ter pressentido que eu iria tentar ver o rei. Infelizmente,
eu não tive a chance de vê-lo nestes últimos
tempos. Já fazem trinta dias que ele não me convida.
Como posso estar segura de que ele aceitará me receber e
estenderá seu cetro? Claro que não tenho medo de morrer
pelo meu povo, mas o que ganharíamos se eu perecesse em vão?"
Sobre isto respondeu
Mordechai:
"Tuas palavras
são escritas de boa fé e sinceras, minha filha. Mas
tu acreditas poder assegurar tua saúde abrigada no palácio
real, enquanto teus irmãos morrerão? Não, os
judeus serão salvos, mas se não quiseres arriscar
tua vida por eles, estou certo de que somente tu perecerás.
Não é o momento de pensar na tua segurança
pessoal. É preciso que tentes e tenhas confiança em
D'us."
top
O
Jejum de Ester
"Então
Ester, respondeu a Mordechai: 'Vai e reúne todos os judeus...
e jejuai em meu favor... Da minha parte, também jejuarei
com minhas servas'" (Meguilat Ester 4:15-16)
Ester entendeu
então o grave perigo que ameaçava o povo judeu. Sim,
ela estava pronta, de todo coração, a arriscar sua
vida por seus irmãos. Mas que situação desesperadora!
Mesmo que ela salvasse sua vida e o rei aceitasse seu pedido, os
decretos com o selo real continuariam irrevogáveis; o próprio
rei não poderia anulá-los. Quão pequena era
a chance de sucesso! No entanto, Mordechai tinha razão: ela
não tinha escolha. Ester tomou portanto a resolução
de não abandonar seu povo nesse momento de aflição.
Novamente ela
se dirigiu a Mordechaí através do Hatach:
"Diga a todos
os judeus, jovens e velhos, para jejuar e rezar durante três
dias, até que D'us nos escute e tenha piedade. Aqui no palácio,
eu e minhas servas jejuaremos e recitaremos preces também,
pois somente um milagre Divino pode salvar nossos compatriotas.
Após estes três dias, apesar da proibição,
irei ver o rei; se tiver que morrer, morrerei."
Era difícil
para Mordechai aceitar este legítimo e sábio pedido
de Ester, pois o jejum coincidia com a festa de Pêssach. Porém,
como se tratava do futuro do povo inteiro, ele decidiu proclamá-lo
oficialmente.
Em todos os
lugares onde havia judeus, nas 127 províncias do império
persa, aceitaram o jejum e rezaram suplicando a D'us. Muitos dentre
eles se vestiram com sacos e cobriram-se de cinzas em sinal de luto.
Em Shushan,
Mordechai reuniu as crianças judias das escolas e das instituições
talmúdicas (Yeshivot). Vestidos com sacos e cinzas por sobre
a cabeça elas gritavam e rezavam dia e noite para que D'us
tivesse compaixão. Quando D'us viu estes pequenos inocentes
e ouviu suas preces aflitas, apiedou-se. Ele disse: "Por causa das
crianças Eu salvarei o Meu povo".
Enquanto isso,
Haman soube que Mordechai havia organizado rezas em Shushan e foi
de encontro ao lugar onde ele tinha reunido as crianças.
Chegando lá, viu Mordechai rodeado por 22.000 delas todas
rezando com lágrimas nos olhos. Seu coração
petrificado nada, sentiu.
Pelo contrário,
ironizou: "Suas preces de nada adiantarão. Agora está
tudo perdido."
Logo depois,
ordenou aos soldados acorrentar as crianças e guardá-la
à vista. "Elas serão as primeiras a morrer! " exclamou
ele.
As mães,
com o coração partido, trouxeram alimento para seus
filhos, mas estes juraram que preferiam morrer jejuando. Diziam
a Mordechai: "Nós ficaremos aqui com o senhor até
que nos separem pela força. "
Neste instante,
doze mil Cohanim (sacerdotes) com o Rolo da Torá numa mão
e com o Shofar na outra, dirigiram seus apelos D'us implorando:
"D'us de Israel, se Teu povo eleito perecer, quem estudará
tua Torá? Quem restará para glorificar Teu nome? Responda-nos,
ó Eterno."
Logo após,
cada um dos Cohanim tocou o Shofar e seus sons, mesclados com as
súplicas das crianças, penetraram nos portais do Céu.
top
Ester
intercede perante o rei
"E aconteceu
no terceiro dia; Ester vestiu suas roupas reais e entrou na corte
interior do palácio... " (Meguilat Ester 5:1)
Durante os três
dias de jejum, Ester não cessou de dirigir preces a D'us,
a fim de obter êxito em sua tentativa de salvar seu povo.
No terceiro dia, reuniria coragem e iria em direção
à sala do trono. Sentia-se inspirada por D'us, e apesar do
prolongado jejum que a tornara pálida e fraca, terminou por
ignorar os guardas do rei e entrou na sala do trono onde ele permanecia
sentado, rodeado por seus servos.
Entre os cortesãos
do rei encontravam-se os filhos de Haman e seus seguidores. Mal
podiam disfarçar seu regozijo ao ver a rainha entrar sem
ser anunciada. Se o rei ignorasse essa convidada não anunciada,
Ester não mais existiria...
Neste momento,
o rei viu Ester na entrada da sala. Ela estava pálida e tinha
um ar preocupado, mas sua face irradiava um charme angelical. Achashverosh
imediatamente estendeu-lhe seu cetro e a rainha aliviada e cheia
de esperança, aproximou-se e tocou na sua ponta.
Muito surpreso
por receber uma visita inesperada, o rei perguntou-lhe docemente:
"O que te preocupa, minha cara Ester e o que posso fazer por ti?
Se desejasses a metade do meu reino, eu te daria".
Ester julgou
não ser este o momento propício para revelar-lhe suas
verdadeiras intenções; contentou-se em perguntar se
viria ao banquete que ela havia preparado especialmente para ele
e o Primeiro Ministro, Haman.
O rei aceitou
imediatamente, e enviou instruções a Haman para que
ele também comparecesse a este banquete.
Ester tinha
boas razões para convidar não somente o rei, mas também
a Haman. Primeiramente, não queria que os judeus confiassem
somente nela, mas reconhecessem que o bem-estar dependia verdadeiramente
de D'us e somente d'Ele. Sabendo que nesta hora de angústia
e perigo, ela havia preparado um banquete e convidado o inimigo
mais cruel, os judeus começariam a duvidar de sua lealdade
e retornariam a D'us, dirigindo-Lhe preces ainda mais sinceras e
fervorosas. E mais, Ester queria apaziguar os temores ou suspeitas
de Haman de que ela estivesse conspirando contra ele pois, ao se
certificar que suas dúvidas eram fundamentadas, ele poderia
provocar uma revolta visando destronar o rei. E mais que isso, ela
esperava o momento favorável para despertar a desconfiança
e a cólera do rei contra seu desleal Ministro, a fim de causar
sua derrota.
Quando o rei
e Haman chegaram ao banquete, o rei perguntou novamente qual era
o seu desejo, mas Ester achou que ainda não havia chegado
o momento oportuno de fazer-lhe o seu pedido, ela convidou-o, assim
como a Haman, a um segundo banquete que se realizaria na noite seguinte,
prometendo revelar então o que desejava.
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O
conselho de Zeresh
"Então
Zeresh, sua mulher, e todos seus amigos responderam: Constrói
uma forca de cinqüenta cúbitos de altura" (Meguilat
Ester 5:14)
As atenções
que a rainha dispensara e a honra que lhe havia dado, causaram euforia
a Haman.
"Até
mesmo a rainha reconhece minha importância", pensava ele.
"Quem pode comparar-se a mim em poder e riqueza!" Mas, saindo do
palácio, encontrou Mordechai perto das grades do portão.
Como de costume, este ignorou a presença de Haman, o que
o enervou muito.
Haman rapidamente
dirigiu-se à sua casa e convocou um conselho de família.
Rodeado pelos seus filhos, mulher e conselheiros, gabou-se da honra
que o rei lhe concedera. "A própria rainha Ester me convidou
a um banquete ao qual somente o rei presenciou, sem nenhum outro
ministro. Amanhã, estou novamente convidado para jantar com
o rei e a rainha.
"Entretanto,
qual o valor destas honrarias para mim, enquanto Mordechai, esse
judeu, fica perto das grades do palácio, sem se inclinar
durante minha passagem? Não Posso mais esperar até
dia 13 de Adar."
Ele convidou
parentes e amigos a procurar uma solução para arranjar
a morte de Mordechai, sem demora; mas deu-lhes a seguinte advertência:
"Vocês
devem adotar um plano que jamais tenha fracassado, pois D'us vem
sempre com um milagre em auxílio de Seu povo. Não
será suficiente decapitar Mordechai, pois o Faraó
tentou matar Moshê através da espada, no entanto, o
pescoço dele endureceu como mármore.
"Afogá-lo
também não será a solução: as
águas do Mar Vermelho abriram-se para deixar o povo de Israel
passar. Não ousem furar os olhos de Mordechai, pois lembrem-se
do que Shimshon (Sansão) mesmo cego, conseguiu fazer aos
filisteus. É igualmente inútil queimá-lo vivo;
não faz muito tempo que os três ministros judeus de
Nevuchadnetsar, Chananya, Mishael e Azarya, tinham saído
ilesos da fornalha onde foram jogados.
"Pessoalmente
preferiria dar Mordechai como presa a leões famintos, mas
ninguém ignora que o profeta Daniel tenha saído são
e salvo da cova dos leões e que foram seus próprios
inimigos que terminaram sendo atacados pelas feras. Agora, meus
sábios conselheiros, encontrem um meio de execução
com o qual o D'us dos judeus jamais tenha sido testado."
Um profundo
silêncio dominou durante alguns instantes; cada um procurando
uma morte terrível através da qual seria possível
livrar-se de Mordechai. Repentinamente, a esposa de Haman, Zeresh,
exclamou vitoriosamente:
"Enforquemos
Mordechai! Nunca soube de um judeu que tenha sido salvo de um enforcamento.
Constrói uma forca de cinquenta cúbitos (25 metros)
de altura e pela manhã vá até o rei obter a
permissão de enforcar Mordechai. Não tenho dúvida
de que o rei atenderá a este pedido. E poderás jubilosamente
ir ao banquete em companhia do rei.
Haman encantou-se
com a idéia e não perdeu sequer um instante, erguendo
uma forca de cinquenta cúbitos de altura na corte do seu
próprio palacete.
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A
noite fatal
"Naquela
noite, o sono do rei foi perturbado..." (Meguilat Ester 6:1)
Naquela noite
gritos de apelo foram dirigidos aos Céus. As lágrimas
e as orações dos judeus aflitos, seu arrependimento,
e os remorsos sinceros penetraram nos Céus. Os anjos constrangidos
perguntaram-se se D'us queria realmente destruir o mundo.
Ninguém
dormia. Mordechai e os judeus estavam rezando e implorando a D'us.
Ester estava ocupada preparando o banquete para o rei e Haman. Até
mesmo o perverso Haman passou a noite em claro, construindo a forca
para Mordechai. Somente, o rei dormia calmamente.
Quando o Eterno
viu Achashverosh dormindo tão tranqüilamente, disse
ao anjo Gabriel: "Meus filhos estão em perigo mortal e este
tolo dorme serenamente! Vai e atrapalha seu sono".
O rei acordou
subitamente e não pôde tornar a adormecer. Uma grave
suspeita apossou-se de seu coração e ele se perguntou:
"Por que razão Ester havia convidado Haman a presenciar o
banquete. Será que os dois estão conspirando contra
mim?" Começou a agitar-se em sua cama, virando e revirando-se
a fim de afastar seus temores. Pensava: "Existe certamente um servo
fiel em minha casa que me advertirá em caso de perigo, a
menos que eu não lhe tenha dado o devido valor, nem a recompensa
merecida".
"Shamshi", gritou
o rei, "traga-me o Livro de Memórias, e lê para mim
o que está escrito sobre os recentes acontecimentos que ocorreram
aqui no palácio".
Shamshi, o filho
de Haman, que nesta noite ocupava o lugar de camareiro-mor, trouxe
o livro e se preparou para lê-lo perante o rei. Abrindo-o,
seus olhos localizaram a estória que contava como Mordechai
salvou a vida do rei, revelando-lhe a conspiração
tramada por Bigtan e Teresh. Shamshí apressou-se em virar
a página, mas esta retornou espontaneamente. O rei, impaciente,
disse: "Por que estás virando as páginas em todas
as direções? Começa a ler e não hesita
mais".
Com uma voz
trêmula, o servo disse-lhe que não estava enxergando
bem, quando repentinamente, as palavras tomaram vida: o anjo Gabriel
lia a estória da lealdade de Mordechai e não omitia
naturalmente nenhum detalhe. Escutando toda a leitura, os olhos
do rei começaram a se fechar.
"No sétimo
ano do reinado do grande e poderoso Achashverosh, dois camareiros
desleais ao rei, Bigtan e Teresh, tártaros, planejaram matá-lo
e Mordechai o judeu, recentemente nomeado chefe dos camareiros,
soube desta trama, ao ouvir a conversa entre esses dois traidores.
Ele então informou à graciosa rainha Ester e ela avisou
o rei. Os dois infames foram pegos em flagrante servindo ao rei
vinho envenenado. Confessaram que haviam arquitetado este ato de
traição pelo fato do rei ter nomeado Mordechai acima
deles e esperavam poder acusá-lo por este crime... Os dois
culpados foram enforcados... Mordechai o judeu, o fiel chefe dos
camareiros será recompensado o mais cedo possível."
Gabriel lia
a narrativa com tanta arte e citava o nome de Mordechai com uma
voz tão terna que o rei acabou por dormir. Agora, ele sonhava
que Haman estava em cima dele, sua mão segurava uma espada
levantada. O rei acordou em sobressalto, e ouviu passos no vestíbulo.
"Quem está aí?" disseram que era Haman.
"Tudo isto não
pode ser um sonho", pensou o rei, e fez entrar Haman.
"Dize-me Haman,
bom conselheiro, como o rei pode honrar um de seus súditos?"
Haman alegrou-se
com estas palavras, pois pensava que era ele a pessoa em questão,
e com um ar de modéstia, respondeu:
"O homem que
o rei quer honrar deverá vestir roupas reais e com a coroa
do rei por sobre a cabeça, passear pelas ruas da capital,
sentado no cavalo real, enquanto o mais alto funcionário
do governo andaria à sua frente, gritando: "É isto
que deve ser feito ao homem que o rei deseja honrar."
" Ah! ", pensou
o rei, "este intrigante tem mesmo em vista minha coroa". Satisfeito
com a ironia, ordenou a Haman para sair e fazer tudo isso a Mordechai.
Estas palavras
o fulminaram como que atingido por um trovão, deixando-o
momentaneamente mudo. O rei gritou impaciente: "Não proceda
como um burro! Corra e conceda as devidas honras a Mordechai!"
Haman fingiu
não saber sobre qual "Mordechai" o rei estava se referindo.
Ao que o rei respondeu que se tratava naturalmente de Mordechai
o judeu, "Mas existem muitos judeus que se chamam Mordechai", lamentou
Haman.
0 rei retrucou
que era o Mordechai que ficava perto das grades do portão
do palácio. Haman em prantos, declarou que Mordechai era
seu inimigo e que preferia dar-lhe 10.000 moedas de prata do que
conceder-lhe tal honra.
"Com efeito,
dá-lhe o dinheiro; mas que lhe seja dada também a
honra que propuseste."
Mas Haman ainda
não se deu por vencido e suplicou: "Oh rei, sua majestade
irá conceder tantas honras a um judeu?"
Então
o rei zangou-se e exclamou: "Que insolência! Não basta
o fato de Mordechai ter salvo a minha vida? Para de discutir! Vá
imediatamente até Mordechai e executa minhas ordens, se quiseres
viver."
top
A
queda de Haman
"Mas Haman
foi imediatamente para sua casa, cheio de tristeza e em desgraça...
" (Meguilat Ester 6:12)
Cabisbaixo e
trêmulo, Haman começou a procurar Mordechai. Durante
esse tempo, este estava sentado na Casa de Estudos, rodeado pelos
seus queridos alunos. Ao levantar os olhos em direção
à janela, percebeu Haman. "Salvem-se crianças. Eis
o cruel Haman", - exclamou Mordechai. Mas elas responderam que não
o abandonariam num momento como este, que tinham vivido com ele
e queriam morrer juntos.
Mordechai recitava
suas últimas orações quando Haman entrou. Haman
esperou pacientemente que terminasse suas preces, depois dirigiu-se
a ele com as seguintes palavras:
"Mordechai,
filho de Avraham, o hebreu, tu tens verdadeiramente um grande D'us.
Cada vez que súplicas Lhe são dirigidas, Ele lhe atende
e faz milagres em seu favor. Agora, levanta-te Mordechai, coloca
as vestes reais, e esta coroa de ouro... "
"Perverso Haman,
filho de Amalec, por que vieste aqui zombar de mim. Não basta
querer enforcar-me?"
"Não",
- respondeu Haman com amargura - "eu não vim para escarnecer
de ti, apesar de preferir que assim fosse. Eu estou executando a
ordem do rei..."
Mordechai mal
acreditava no que ouvia, enquanto as crianças começaram
a dançar de alegria. Entretanto, Mordechai respondeu: "Sou
eu digno, ó Chefe do Conselho de Ministros, de colocar as
vestes reais no estado em que estou? Eu jejuo há três
dias e estou coberto de cinzas..."
Haman fez um
sinal com a cabeça, demonstrando que havia compreendido.
Levou Mordechai aos banhos públicos onde o lavou e esfregou
com óleos e perfumes dos mais refinados.
Subitamente
Haman começou a gemer e a reclamar ao aparar os cabelos de
Mordechai. Este perguntou-lhe qual a causa da súbita tristeza
e ele respondeu-lhe: "Qual é o primeiro ministro que aceitaria
de bom grado tornar-se cabelereiro?"
"Pois eis que
tu exerces finalmente uma profissão que te convém.
Não lembras que outrora eras cabelereiro na cidade de Carzum?"
E Haman continuou
seu trabalho sem responder. Após ter-lhe colocado as roupas
reais, tirou da estrebaria o cavalo predileto do rei e pediu a Mordechai
para montá-lo. Mas este lhe disse: "Haman, teu infortúnio
fez-te perder o bom senso. Eu estou fraco e sem forças, após
o prolongado jejum. Como esperas que um velho como eu monte o cavalo
sem ajuda?"
Haman sabia
que não deveria fazer pouco caso das palavras do rei. De
mais a mais ele já temia a sua impaciência. Assim sendo
inclinou-se de má vontade, para permitir a Mordechai apoiar-se
nele a fim de montar no cavalo.
Vestido com
os adornos reais e com um ar majestoso e imponente, Mordechai percorreu
à cavalo as ruas de Shushan, enquanto Haman o guiava e gritava:
"É isto que deve ser feito ao homem que o rei deseja honrar!"
As ruas de Shushan
estavam repletas de pessoas. Os músicos do rei tocavam seus
instrumentos de prata, os oficiais mais graduados acompanhavam o
cortejo, enquanto malabaristas lançavam ao ar taças
de prata e ouro. Foi um espetáculo magnífico. A platéia
aplaudia e gritava alegremente, enquanto Haman, com voz clara e
forte, tornava a proclamar em altos brados o dito que ele próprio
criara.
A filha de Haman,
que estava no terraço da casa, disse à sua mãe,
ao ver o cortejo passando: "Veja mamãe, papai está
sentado no cavalo do rei e Mordechai está lhe servindo como
guia".
Ela então
pegou um caixote cheio de lixo e, com um sorriso perverso, jogou-o
na cabeça do homem que pensava ser Mordechai. Imediatamente
reconheceu a voz do homem que gemia de dor e percebeu que era o
seu pai. Para não ter de suportar a cólera deste,
jogou-se do terraço em desespero.
Após
o término do desfile, Haman, abatido e desonrado, retornou
à sua casa cambaleante. Ele disse a Zeresh: "Eu me vingarei
de Mordechai. Eu o enforcarei no patíbulo e meus olhos ainda
verão seu corpo sem vida balançar no vazio".
Mas sua mulher
lhe respondeu: "Haman, tu certamente perdeste o juízo. Esquece
o teu projeto, pois tu já foste derrotado. Os judeus são
como a areia e as estrelas. Quando se afastam de D'us e desobedecem
Seus preceitos, é possível oprimi-los, humilhá-los
e pisoteá-los, como a areia; mas quando retornam a D'us,
retomam a sua importância como as estrelas no céu.
No que te concerne, meu pobre Haman, tua queda já começou".
Enquanto conversavam,
os camareiros do rei chegaram para acompanhar Haman ao segundo banquete
oferecido por Ester.
top
O
fim de Haman
"E penduraram
Haman na forca que ele havia preparado para Mordechai..." (Meguilat
Ester 7:10)
O rei Achashverosh
na noite do banquete estava com um excelente humor. O repouso do
dia anterior ainda estava refletido em sua face. Como tinha sido
cômico ver Haman dar tantas honrarias a seu pior adversário.
Ele havia recebido uma lição bem merecida.
E Achashverosh,
dirigindo-se carinhosamente à Ester, disse-lhe: "Ester minha
rainha, tu certamente possui um desejo que gostarias que eu atendesse.
Tu não organizaste estes dois banquetes para agradar Haman!
Dize-me, qual é o teu pedido. Eu te darei até mesmo
a metade do meu império. Somente não me pede para
os judeus reconstruírem seu Templo, pois este está
na metade do reino que eu me reservo".
Ester, julgando
que as grandes honrarias conferidas a Mordechai durante o dia eram
um sinal favorável dos Céus, reencontrou sua confiança
e segurança em si mesma e, com uma voz emocionada, respondeu
ao rei: "Eu somente almejo uma coisa: que a minha vida e a dos meus
compatriotas seja poupada, pois nós devemos, meu povo e eu
própria, sermos impiedosamente exterminados e eliminados..."
0 rei, trêmulo
com o horrível pensamento que a vida de sua amada rainha
estivesse em perigo, em seu próprio palácio, tomou
a palavra e disse à sua esposa: "Quem ousa cometer tamanha
inépcia?"
Ester respondeu,
apontando um dedo acusador na direção de Haman: "É
esse nosso opressor e inimigo, o odioso Haman. Foi ele o causador
da morte de Vashti, e agora quer me tirar a vida..."
Haman amedrontou-se
e empalideceu, enquanto que o rei saiu para o jardim, afim de respirar
um pouco de ar puro.
Para sua grande
surpresa percebeu que alguns homens estavam cortando as árvores
raras e exóticas do seu jardim. Na verdade, eram anjos vindos
do Céu para despertar nele um indomável sentimento
de fúria contra Haman. O rei começou a gritar: "Quem
ordenou a vocês fazer isto?" E "os jardineiros" responderam:
"Foi Haman que nos deu a ordem de derrubar estas árvores".
0 rei como um
animal ferido dirigiu-se então ao salão de festas
e encontrou Haman esgotado e abatido, prostrado sobre o sofá
de Ester. Haman estava ajoelhado perante a rainha, suplicando para
deixá-lo com vida. O rei, irado, lhe disse: "Portanto foste
tu que ousaste conspirar na minha casa até contra minha própria
mulher?"
Naquele instante,
Charvoná, um dos servos do rei, falou a seu mestre: "Ó
rei, o senhor não sabe que ele construiu uma forca de cinqüenta
cúbitos para o leal Mordechai, que sua majestade honrou?
Veja, ela é mais alta que o palacete do Haman!"
"Que Haman seja
enforcado!" - ordenou o rei.
Haman foi executado
na forca, apesar de tê-la preparado para Mordechai e a cólera
do rei se apaziguou.
top
A
festa de Purim
"Então
Mordechaí saiu da presença do rei, trajando roupas
reais, azul celeste e branco, com uma grande coroa de ouro e um
manto de linho fino e púrpura. E a cidade de Shushan o aclamava
jubilosamente" (Meguilat Ester 8:15)
"Os judeus
instituíram e estabeleceram para eles... e para a posteridade,
a obrigação de celebrar, a cada ano, estes dois dias..."
(Meguilat Ester 10:27)
O rei Achashverosh
tinha boas razões para se orgulhar de Ester. Soube agora
que ela descendia da família real de Saul, o primeiro rei
dos judeus. Quando descobriu que Mordechai era também descendente
desta nobre família e primo de Ester, nomeou-o sucessor de
Haman.
O rei presenteou
Ester com a casa de Haman, e deu a Mordechai o anel real que havia
retomado de Haman. Apesar de Mordechai e Ester estarem profundamente
agradecidos ao rei pelos seus favores e segurança que sentiam
sob a sua proteção, não perdiam tempo em alcançar
seu verdadeiro objetivo. O cruel decreto de Haman ainda estava em
vigor e se não fosse revogado, os judeus estariam perdidos.
Assim Ester
intercedeu novamente perante o rei em favor dos seus irmãos
condenados a morrer. Atirando-se ao chão e com os olhos cheios
de lágrimas, suplicou ao rei para salvá-los do terrível
destino que os aguardava e bradou com uma voz angustiada: "Como
poderia eu assistir inerte ao massacre dos meus irmãos?"
0 rei, profundamente
tocado, gostaria de poder livrá-la dessa dor. Infelizmente,
era muito difícil anular o decreto em questão, pois
tinha sido promulgado com sua ordem, e possuía o carimbo
do anel real; portanto era írrevogável.
Finalmente uma
solução foi encontrada. Um novo edital foi publicado,
avisando que Haman abusou da confiança do rei, proclamando
decretos falsificados. Ao invés de declarar a supressão
das perseguições aos judeus em todo território
persa, a qual era a verdadeira intenção do rei, Haman,
o traidor, tinha ordenado o extermínio de leais cidadãos.
Além do mais, o enforcamento de Haman, sob ordem expressa
do rei, era uma prova clara de que este desaprovava sua política.
Uma vez mais
os escribas foram convocados para elaborar novos decretos que desta
vez foram ditados velo próprio Mordechai. Mensageiros reais
montando os cavalos mais velozes do reino, dirigiram-se imediatamente
a cada uma das 127 províncias do império persa, que
se estendiam da índia até a Etiópia, para entregar
os novos decretos aos governadores e respectivos príncipes.
Por ordem real,
os judeus foram autorizados a se reunir no dia 13 de Adar para se
defender, atacar e matar todos os inimigos que os ameaçavam.
A notícia
espalhou-se rapidamente como um relâmpago até os recantos
mais longínquos do império, e todos começaram
a tratar os judeus com respeito.
No dia 13 de
Adar, data na qual os judeus deveriam ser exterminados por Haman
e suas forças, eles se reuniram nas praças públicas
de cada cidade e vilarejo, condenando à morte, por ordem
do rei, todos que tivessem demonstrado crueldade para com eles.
Setenta e cinco mil homens, dispostos a atacá-los, foram
condenados à morte, mais quinhentos em Shushan, como também
os dez filhos de Haman.
Quando o rei
deu a notícia a Ester, perguntou-lhe se agora ela estava
satisfeita.
"Existem ainda
em Shushan, numerosos e temíveis inimigos que não
cessaram suas atividades e que devem ser exterminados se o país
quiser viver em paz. Se o rei achar correto, o dia de amanhã
será dedicado a julgar, em Shushan, os últimos inimigos
dos judeus, pois eles são ao mesmo tempo os inimigos da humanidade.
E é preciso igualmente pendurar os corpos-sem-vida dos filhos
de Haman."
O pedido de
Ester foi imediatamente atendido e, enquanto os judeus das outras
cidades comemoravam e festejavam no dia 14 de Adar, os de Shushan
estavam demasiadamente ocupados em condenar os inimigos. Eles então
celebraram no dia seguinte, o grande dia da sua milagrosa salvação.
Assim foi decidido
que o dia 14 de Adar seria escolhido como o dia da festa de Purim,
em comemoração à milagrosa salvação
do nosso povo e a queda do perverso Haman.
Em respeito
à Terra de Israel que, naquela época jazia em ruínas,
os Sábios instituíram que nas cidades cercadas por
muralhas, Purim seria celebrado, como em Shushan, no dia 15 de Adar.
Este dia é chamado de Shushan Purim, Os dois são dias
de alegria e júbilo e, nesta ocasião, os judeus trocam
Mishlôach Manot (presentes comestíveis), e os pobres
recebem doações.
Ao mesmo tempo,
os judeus decidiram que o dia 13 de Adar, véspera de Purim,
seria um dia de jejum, chamado de "Jejum de Ester", em lembrança
às rezas e jejuns realizados pelo povo todo por iniciativa
da rainha Ester, que os levou ao arrependimento e fervor religioso,
quando aceitaram, de bom grado, todos os mandamentos da Torá.
Nossos Sábios
explicam que os dois dias de Purim serão comemorados eternamente,
mesmo na Era Messiânica, quando outras festas serão
anuladas.
Há
23 séculos, cada geração de judeus celebra
todos os anos, a festa de Purim. Para os inimigos de Israel, para
os "Hamans" de todos os tempos, esta comemoração é
uma advertência solene. Para nós, esta maravilhosa
festividade transmite inspiração, coragem e fé
e fortifica nossa devoção e ligação
ao nosso grande D'us misericordioso. Ela é, ao mesmo tempo,
um sinal precursor e certo de nossa Redenção que não
tardará a vir.
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