A memória de Amalec  
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Durante sua pacífica marcha do Egito até o Monte Sinai, os Filhos de Israel foram, certo dia, subitamente atacados por uma tribo feroz e guerreira - os Amalequitas. Foi uma investida covarde sobre uma nação que acabara de reconquistar sua liberdade, após séculos de escravidão e sofrimento. Com este ataque não provocado e traiçoeiro, os Amalequitas demonstraram não ter sentimentos humanos ou consideração. Foi como "Pearl Harbor," porém muitas vezes pior. Foi um ato de pura perversidade, como a picada de uma cobra qnão fornece nenhuma vantagem à própria cobra, mas mata a vítima.

Por que somos ordenados a relembrar o que Amalec nos fez? E como se não confiando em nossa natureza boa e clemente, a Torá repete a ordem outra vez: "Não se esqueça!"

Na batalha que se seguiu, Amalec foi derrotado, mas não destruído. D'us ordenou a Israel para se lembrar daquele covarde ataque de Amalec, e na época e local apropriados varrer Amalec da face da terra. Pois não pode haver paz no mundo, enquanto se permita que os Amalequitas existam.

Amalec atacou os Filhos de Israel em Refidim, logo após eles terem "murmurado" e duvidado de D'us, dizendo: "D'us está ou não entre nós?" Este ataque ensinou-nos uma lição que, infelizmente, repetiu-se muitas vezes em nossa história. Sempre que começamos a duvidar de D'us e abandonamos Suas ordens, ali aparece "Amalec."

Haman foi um descendente direto de Agag, o rei dos Amalequitas poupado pelo Rei Saul (porém que mais tarde foi posto à morte pelo profeta Samuel). A maior transgressão do Rei Saul foi que ele teve misericórdia sobre o líder dos Amalequitas, dando-lhe assim uma oportunidade de procriar muitos mais Amalequitas como ele próprio. Haman foi um deles, como enfatiza muitas vezes o Livro de Ester. Quando o Rei Saul falhou, seu descendente Mordechai o sucedeu. Porém, com a queda de Haman o fim dos Amalequitas não fora cumprido. Muitos Amalequitas sobreviveram até o dia de hoje, e continuam a nos criar muitos problemas. Hitler foi um dos piores Amalequitas que jamais viveram, e embora ele também, como Haman, tivesse o que mereceu, muitos menores que ele, infelizmente, ainda estão à solta.

Em Purim, durante o Serviço Matinal, lemos a Porção da Torá onde a história do ataque de Amalec é relatada (Shemot 17:8). No Shabat antes de Purim lemos uma Porção especial e adicional da Torá (Devarim 25:17) começando com: "Lembra-te o que Amalec fez a ti," e este Shabat é denominado Shabat Parashá Zachor (que significa "Lembre-se").

Por que devemos nos lembrar daquilo que Amalec nos fez? Por que não devemos perdoar e esquecer neste caso? Isso não é vingança, proibida pela Torá?

Certamente a Torá nos proíbe a vingança: "Não deves odiar teu irmão no coração... Não deves tomar vingança, nem guardar qualquer queixa contra os filhos de teu povo, mas deves amar teu próximo como a ti mesmo: Eu sou o Senhor!" (Vayicrá 19:17, 18).

Somos proibidos de alimentar ressentimento contra nosso próximo. Somos proibidos, não apenas de ferir, insultar ou envergonhar quem quer que seja, como também de odiar qualquer pessoa em nosso coração, mesmo que não demonstremos abertamente.

Por que, então, somos ordenados a relembrar o que Amalec nos fez? E como se não confiando em nossa natureza boa e clemente, a Torá repete a ordem outra vez: "Não se esqueça!"

De fato, não existe no mundo nação mais misericordiosa que o povo judeu, apesar do fato, ou talvez por causa dele, de que tenhamos sido perseguidos e torturados por muitos séculos, e até agora tenhamos, infelizmente, mais inimigos que amigos.

Lembra-se da história de Samuel ibn Nagrela, o grande estadista e poeta judeu que viveu na Espanha há aproximadamente novecentos anos? Foi o vizir do Rei de Granada, e certo dia, quando acompanhava o rei em uma visita à cidade, foi amaldiçoado por um homem na presença do soberano. O rei ordenou a Samuel que punisse o ofensor cortando-lhe a língua perversa. O vizir judeu, no entanto, tratou gentilmente o inimigo, e a mesma língua que antes lançava maldições, agora tinha apenas bênçãos para o misericordioso vizir judeu. Algum tempo depois, o rei encontrou o infrator, e ficou surpreso ao ver que Samuel não o tinha punido. Quando pediu uma explicação, Samuel replicou: "Não apenas cortei fora sua língua maldosa, como também dei-lhe outra bondosa em seu lugar!"

O sentimento de vingança é uma paixão que está profundamente enraizada na natureza humana, e difícil de superar. Porém a Torá nos ordena subjugar esta paixão (Shemot 23:4, 5). Nossos Sábios do Talmud ensinam que quando se encontra um inimigo e um amigo em sofrimento, deve-se primeiro assistir ao inimigo, e só então ao amigo, exatamente porque poderíamos estar inclinados a fazer o contrário. É assim que fomos treinados para ser "Os Misericordiosos Filhos do Misericordioso."

Sim, no caso de Amalec somos ordenados a lembrar o que ele nos fez, e a varrer a memória de Amalec da face da terra! A razão é que Amalec é a encarnação do mal. Jamais devemos fechar os olhos ao mal. Nunca devemos perdoar um assassino. Se o fizermos, o mundo não será um bom lugar para se viver. Isso nada tem a ver com vingança. É a lei elementar da sociedade humana. Clemência a quem não a merece é pior que a crueldade.

Não podemos reformar um assassino que tenha matado repetidas vezes perdoando-o. Ter compaixão para com ele significa ser cruel com a humanidade.

Se qualquer um pode perdoar prontamente um assassino, não é porque seja bom e misericordioso, mas exatamente o contrário: porque ele não valoriza a vida humana. Estes são os tipos de pessoas que não erguem uma palavra em defesa da vítima desamparada, mas clamam por "misericórdia" para com o pobre, "mal-orientado" assassino.

Não podemos reformar um assassino que tenha matado repetidas vezes perdoando-o. Ter compaixão para com ele significa ser cruel com a humanidade.

Eis porque somos ordenados a nos lembrar o que Amalec nos fez.
Amalec deve ser destruído, porque o mal não pode ser tolerado.

       
   
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