Relato de um soldado americano na guerra do Golfo

       
  Purim na Arábia Saudita  
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  Por Tzvi Jacobs    
       
 

"Mãe, não sei quando vou te ver novamente. Disseram que vamos ficar lá pelo menos por um ano" - David falou e depois acrescentou com a voz fraca: "Até logo, mamãe. Te amo."

Ele fechou a porta da cabine telefônica e voltou para sua barraca. Naquela noite de fevereiro, em 1991, David fitou os montes cobertos de neve que cercavam a base do exército americano de Fort Knox, no noroeste de Kentucky. Ficou comovido com sua beleza silenciosa, como se nunca os tivesse visto antes e sem saber se os veria novamente.

Uma história absurda circulou na base do exército, de que alguém havia predito o término da guerra até Purim!

     
 
Alarmes estridentes dispararam cedo, ao redor de 5h30m da madrugada. David pegou a máscara de gás enquanto, simultaneamente, tomava um rápido fôlego. O tempo máximo permitido para todo o procedimento era 15 segundos
 
     

Saddam Hussein certamente vestiu a carapuça de Haman. Mirar aqueles terríveis e poderosos mísseis Scud para áreas residênciais de Tel Aviv foi tão perverso que somente um descendente de Haman poderia fazê-lo. E, exatamente como Haman, por um ano inteiro baixou um decreto de aniquilação sobre todos os judeus. Saddam Hussein aterrorizou todo o povo de Israel com a ameaça de uma guerra química mortal, por todo um ano.

Em pé ao lado do catre, David rezou Arvit e depois colocou, delicadamente, seu sidur numa caixa de papelão próxima aos tefilin. Seus objetos pessoais estavam sendo enviados para casa enquanto ele - soldado - embarcava para a Arábia Saudita, um país cujo governo proíbe qualquer judeu dentro de suas fronteiras.

O exército americano adulterou os crachás e registros militares de David e de outros dois judeus de seu batalhão para esconder a identidade judaica. Além disso solicitou que não levassem talit, tefilin ou sidur na aeronave na manhã seguinte.

O jato fretado transportando trezentos soldados americanos aterrissou na cidade costeira de Ohahran, na Arábia Saudita. O calor estava insuportável - ao redor de 46 graus. Os soldados foram trazidos para uma tenda enorme, receberam leitos e foram instruídos para descansar. Precisariam de aproximadamente três dias para se adaptar ao novo fuso horário e clima. David deitou-se. Antes de adormecer ficou imaginando como seria a rotina da manhã seguinte.

Alarmes estridentes dispararam cedo, ao redor de 5h30m da madrugada. Instintivamente fez como tinha ensaiado inúmeras vezes no Forte Knox. Pegou a máscara de gás enquanto, simultaneamente, tomava um rápido fôlego. Num piscar de olhos colocou a máscara e ajustou-a no rosto. O tempo máximo permitido para todo o procedimento era 15 segundos; David conseguiu em três.

Seu coração batia como uma britadeira a toda velocidade. Três minutos mais tarde um oficial entrou na tenda e avisou que não tratava-se de bomba química. Saddam Hussein tinha efetivamente lançado um Scud. Graças a D'us um míssil Patriot o interceptou.

"Então foi Saddam Hussein que nos acordou" - David falou consigo mesmo. Assim como Haman, Saddam despertou os judeus ao redor do mundo. Todos oravam pela paz.

Em 25 de fevereiro, David e cem outros soldados receberam ordens de voar naquela noite para o acampamento do exército em Al-Khobar. Mas no último momento, o avião sofreu uma pane e não pôde fazer o transporte. Aquela noite os homens de Saddam Hussein lançaram um Scud. Um fragmento do míssil explodiu o acampamento de Al-Khobar, causando uma explosão gigantesca. Nada restou, exceto uma cratera de oito metros de profundidade.

Na manhã seguinte outro oficial veio até a tenda dos soldados e anunciou: "Na noite passada, às 20h23m, Saddam Hussein lançou um míssil Scud, atingindo um acampamento do exército em Al-Khobar. Vinte e oito soldados foram mortos na explosão que se seguiu; outros oitenta e nove ficaram feridos."

David e seus companheiros deveriam estar naquele acampamento.

"Poderia estar morto" - David pensou. Foi chocante demais. Ninguém conseguia falar. O impacto das notícias foi horrível.

Antes do ataque, não sentiam raiva dos iraquianos, mas agora sim. Queriam Saddam Hussein morto. Como Haman, Hussein foi o principal inimigo - a personificação do mal no mundo. Queriam que sumisse de uma vez por todas.

David foi transferido para a frente de batalha com a centésima primeira divisão aérea. Estava baseado aproximadamente a 80 km do vilarejo de Ur, onde o Patriarca Avraham (Abraão) foi atirado à fornalha de Ur Casdim. David sabia que Avraham havia visto esta terra e andado por este deserto.

Nas noites silenciosas, David freqüentemente fitava as estrelas. Não havia luz alguma por centenas de quilômetros e ele podia ver milhares de estrelas na Via Láctea. Aqui, a bênção e promessa a Avraham - "Tua semente será tão numerosa quanto as estrelas" - possuía significado real para David. Fortaleceu sua fé de que o povo judeu sairá deste fogo são e salvo.

Certo dia, a BBC anunciou que a guerra do Golfo havia terminado. Por nenhum instante qualquer um dos soldados americanos acreditou. Somente mais tarde David descobriu que a guerra tinha surpreendentemente terminado na véspera de Purim, exatamente como aquele desconhecido havia previsto.

Treze meses após o término da guerra, quando estava baseado em Fort Campbell, David passou o Shabat na cidade próxima de Nashville, na casa de Rabino Zalman Posner. David ouviu pela primeira vez sobre o Lubavitcher Rebe. Escutou sobre suas previsões a respeito da Guerra do Golfo e como o Rebe proclamou, publicamente, que a Terra de Israel estaria a salvo e ninguém em Israel precisaria de máscaras anti-gás. Também soube que foi dito em nome do Rebe que a Guerra do Golfo terminaria até Purim.

David conhecia de perto o poder dos mísseis Scud e sabia que o Todo-Poderoso estava operando inúmeros milagres quando aqueles trinta e nove Scuds atingiram o Estado de Israel. Somente uma morte foi diretamente causada pelo impacto do Scud. Milhares de israelenses foram milagrosamente salvos. Os Scuds destruíram centenas de edifícios em Israel e, naturalmente, o dano deveria ter sido muito maior.

Não somente David voltou da guerra, como também nenhum soldado da centésima primeira divisão aérea - que em guerras anteriores tinha o maior número de perdas, pois seus integrantes são os primeiros a combater na linha de frente - perdeu a vida na Guerra do Golfo.

Como nos dias seguidos ao milagre de Purim, celebrações alegres e orações de agradecimento foram recitadas em todo o mundo. Os "dias de escuridão se converteram em alegria e felicidade". David esquivou-se da notoriedade; em vez disso completou sua tarefa no exército e juntou-se ao grupo de jovens que aprendem Torá e Chassidut na Yeshivá Tiferet Bachurim de Chabad em Morristown, N. Jersey.

"Que assim seja para nós" - com a verdadeira e completa Redenção, brevemente em nossos dias.

     
   
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