O Rebe em foco
  Para um chassid de Chabad-Lubavitch, quando o mês de Tamuz se aproxima há uma data marcante que é Guimel (3 de )Tamuz. Qualquer pessoa cuja vida foi tocada pelo Rebe – e ainda mais aqueles que tiveram um relacionamento próximo com ele – sente o significado desta data que marca o dia do yartsait do Rebe.

Na madrugada de um sábado em 1994, em Crown Heights, Brooklyn, as sirenes dispararam e o mundo prendeu a respiração. Naquela ocasião milhões de pessoas compartilharam o mesmo sentimento de profunda perda e a questão que se seguiria logo após: o de como seria daqui para a frente o trabalho e o futuro sem o líder da geração.

As contribuições do Rebe

O Rebe afetou – e continua a afetar – tantas vidas em tantas maneiras que é impossível destacar uma única atividade ou iniciativa como sendo sua mais importante contribuição. Isto posto, há determinadas ações fundamentais que permeiam cada dimensão de sua obra e fase de sua vida.

O Rebe assumiu a liderança do Movimento Chassídico Chabad em 1950. É difícil para nós conceber como era aquela época. A comunidade judaica internacional estava ainda abalada pelo Holocausto e debilitada devido à transição para a sociedade ocidental.

Logo após o Rebe assumir a liderança de Chabad, um historiador e jornalista judeu secular, Charles Raddock, perguntou-lhe: "Como poderá Chabad funcionar no solo pagão de minha América?" e "Que respostas Chabad tem para minha própria geração ‘atômica’, tão perdida?"

A megamen-sa-gem das perguntas de Raddock é o cerne da questão. Ele – e a cultura geral secular americana – via-se como que afastada da Tradição judaica, e embarcando em uma nova rota de vida. O judaísmo estava fora de moda, um belo conjunto de tradições talvez, mas nada que pudesse comunicar uma mensagem relevante aos jovens em busca de papéis participativos na sociedade americana.

O Rebe replicou: "A América não está perdida. Os americanos desejam sinceramente saber, informar-se. São inquisitivos. A mente americana é simples, franca e direta. Este é um solo bom, cultivável para o chassidismo ou meramente para o simples judaísmo."

Uma vez mais, a super mensagem é tão importante quanto a mensagem. O Rebe estava dizendo que o judaísmo veio para ficar. Não é preciso encolher-se para uma confrontação com a sociedade secular. Pelo contrário, ao serem expostos ao chassidismo e ao judaísmo, os judeus americanos entenderão que podem adicionar profundidade, significado e alegria à vida.

Mantendo a cabeça erguida

Antes que o Rebe causasse seu impacto, muitos judeus – especialmente judeus religiosos – tinham uma imagem negativa de si mesmos. Fosse como indivíduos ou como um grupo, simplesmente não se sentiam adequados em agir de modo judaico na sociedade ocidental. Certamente sentiam-se muito confortáveis sobre penetrar na sociedade americana, mas não sentiam-se bem entrando como judeus. E, assim, começaram a encarar o judaísmo como um atraso, um impedimento a seu avanço.

Como era de se esperar, na comunidade judaica em geral começaram a aparecer artigos como: "O judeu americano evanes-cente." Debates sérios foram travados sobre se o judaísmo conseguiria persistir no próximo milênio. Casamentos mistos tornaram-se comuns.

No interior da comunidade religiosa, houve uma alta taxa de abandono. Famílias que haviam mantido sua religiosidade durante o Holocausto perderam seus jovens para a abertura da sociedade americana. Por esta razão, diversos segmentos da comunidade ortodoxa procuraram retrair-se da sociedade americana o máximo possível, vivendo em comunidades reservadas.
Contra esta situação, o Rebe projetou uma aura de confidente otimismo. "Por que adotar uma postura defensiva?" – perguntou aos líderes judeus. "A verdade do judaísmo é suficientemente poderosa para ser transmitida mesmo na cultura ocidental contemporânea. Pelo contrário, é a cultura popular que não consegue fornecer a seus jovens as respostas espirituais que estes estão buscando. Quando os judeus encontrarem sua herança de maneira aberta e não forçada, verão como isso pode incentivá-los ao crescimento e ao desenvolvimento."

Prática, não teoria

O Rebe fez mais que abraçar estes ideais; colocou-os em prática. Esteve em contato com milhares de pessoas. Mesmo antes do surgimento do fax, o correio apontou-o como uma das dez pessoas que mais receberam correspondência nos Estados Unidos. Pessoas de todas as partes do mundo escreviam-lhe e recebiam respostas, encorajando-as a ampliar sua identidade e prática judaicas.

Mas o impacto do Rebe vai muito além do que até mesmo ele poderia realizar como indivíduo.
Motivou outras pessoas a ficarem a seu lado e divulgar sua mensagem: seus emissários, os shluchim, que começaram a proliferar nos campus de universidades americanas, bem como nas cidades e pequenas e afastadas comunidades. A mensagem do orgulho e da identidade judaica prevaleceu. Logo as pessoas começaram a falar sobre "um movimento de teshuvá", quando judeus nascidos em lares não religiosos buscaram suas respostas no legado da Torá.

E as pessoas não ficavam mais constrangidas em praticar o judaismo abertamente. Em todos os locais e esferas da sociedade americana, começou-se a observar o uso de kipot na cabeça dos homens.

Abraçando o mundo


As atividades do Rebe não ficaram confinadas ao continente americano. Atravessaram e romperam todas as fronteiras imagináveis e impensáveis. Há anos tornou-se popular entre a comunidade judaica de todo o planeta de que havia duas coisas que se podia encontrar em qualquer lugar do mundo: Coca-Cola e Chabad-Lubavitch. E não apenas em comunidades judaicas já estabelecidas, como Inglaterra e França, Chabad teve um papel preponderante no rejuvenescimento do judaísmo em áreas periféricas como África do Sul e Austrália, onde o judaísmo da Torá jamais tinha conseguido destacar-se. Hoje encontramos sinagogas, escolas, yeshivot, micvaot, centros de múltiplas atividades comunitárias, etc., onde não havia absolutamente nada, graças ao trabalho dedicado dos pioneiros espirituais de Chabad.

Nem mesmo o perigo físico foi considerado um impedimento à divulgação do judaísmo. Desde o início dos anos 50 até hoje, os emissários do Rebe trabalham ativamente no Marrocos e na Tunísia. E mesmo nas mais densas trevas da opressão soviética, os mensageiros do Rebe levaram esperança e conseguiram fazer reflorescer o judaísmo na Rússia.

Contemplando o horizonte

Contudo, um esclarecimento é necessário. O Rebe não saiu para enaltecer o orgulho e a auto-estima judaicos. Em vez disso, identificou-se – e aqueles que escolheram identificar-se com ele – com uma missão que alçou-os a um plano mais elevado. Ele – e eles – tinham um propósito a atingir e, como resultado da propagação daquele propósito, os judeus adotaram uma nova auto-imagem mais positiva.

Em que consiste esta missão? Em uma de suas cartas, o Rebe escreve que desde sua infância, começou a formar em sua mente uma visão da suprema Redenção a ser liderada por Mashiach. Ao aceitar a liderança do Movimento Chabad, declarou especificamente que a missão de nossa geração era transformar a vinda de Mashiach em realidade. E nos últimos meses antes de sofrer o ataque que levou aos eventos de Guimel Tamuz, o Rebe reiterou repetidas vezes que a vinda de Mashiach não é um sonho do futuro, mas uma realidade iminente que torna-se mais próxima e paupável a cada dia que passa.

Em Guimel Tamuz, quando pensamos sobre o Rebe, e sobre o que gostaríamos de fazer por ele, podemos identificar-nos com aquela missão e incrementá-la, divulgando o judaísmo ao alcance de todo judeu, mesmo, e principalmente, aquele se sente esquecido, afastado ou que nega sua origem; nossa obrigação é trazê-lo de volta por meio de atos de bondade e união de todos. Cada alma judaica que é resgatada e engrandecida com valores autênticos é mais um passo na direção de Mashiach, que chegue em breve, be carov, mamash!
 
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