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Jean-Paul Sartre está sentado
num café na França, revisando seu rascunho de “O Ser
e o Nada”. Ele diz à garçonete: “Eu queria uma
xícara de café, por favor, sem creme.”
A garçonete responde: “Desculpe, monsieur, mas o creme acabou.
Pode ser um café sem leite?”
O Jogo de Chanucá
Há uma adorável tradição de jogar dreidel
durante a Festa de Chanucá.
O que é um dreidel? Um pião de quatro lados, contendo as
quatro letras hebraicas Nun, Guimel, Heh e Shin. Os quatro lados se juntam
para formar um ponto, sobre o qual gira o dreidel.
Todos os costumes judaicos contêm um profundo significado espiritual.
Hoje discutiremos o profundo simbolismo por trás do jogo de dreidel.
Os Cinco Componentes da Personalidade Humana
A filosofia e o misticismo judaicos ensinam que o comportamento humano
é impulsionado por quatro causas primárias: ego, anseios
corporais, razão e uma compulsão por destruir.
Cada um de nós tem um ego – um anseio pelo poder, auto-domínio
e auto-determinação. Todos nós vivenciamos incessantes
demandas por parte de nosso corpo. Todos temos o poder da razão,
a capacidade de tentar entender a realidade e nos comportar de acordo.
E. cada um de nós tem uma compulsão para o mal e a destruição.
Para muitos de nós, este impulso encontra expressão meramente
num sonho ou num pensamento fugaz; para outros, é concretizado
no comportamento.
Este último impulso é único no sentido em que raramente
exibe sua face genuinamente perturbadora ao homem que o experimenta. Nossa
compulsão para o mal geralmente disfarça sua atitude por
trás do véu das outras três qualidades humanas. Usa
o ego, as necessidades corporais ou a razão humana como um meio
para explicar e justificar suas metas abomináveis. Porém
na raiz desse impulso está um anseio pelo mal e pela destruição,
enraizado na psique humana.
Por trás desses quatro componentes conhecidos da nossa personalidade
está uma quinta dimensão, mais profunda, o “ser mais
elevado”, ou “o ser interior”. Esta é a consciência
moral do espírito humano – a centelha de D'us dentro de nós
– que nos impulsiona a transcendermo-nos e tentar atingir a verdade
da realidade. Este ser interior inspira o idealismo humano e reflete a
bondade e integridade de seu Criador.
Se os quatro elementos do motor humano estão desconectados do ser
Divino mais elevado, potencialmente cada qual se torna perigoso. Um ego
que serve a si mesmo pode nos levar a destruir aqueles que passam pelo
nosso caminho. Nossos anseios corporais e tentações podem
nos jogar no abismo. A auto-indulgência excessiva alimenta o vício
e o caos.
A força da razão por si mesma permite que a pessoa racionalize
qualquer tipo de comportamento e invalide os limites morais do mundo.
Somente com a razão podemos justificar a crueldade e o barbarismo.
Nossa sofisticação racional e intelectual pode até
nos levar a justificar o verdadeiro mal: terroristas são transformados
em “militantes frustrados” e monstros humanos que queimam
crianças vivas são julgados como iguais às suas vítimas.
A razão sozinha, sem clareza moral, pode se tornar perigosa.
Os judeus foram escolhidos para outorgar à
história humana a dignidade de propósito e para refinar
e sublimar o ego, o corpo, a própria lógica, e o mau impulso.Finalmente,
nosso impulso na direção do mal pode facilmente nos compelir
a infrigir sofrimento sobre seres humanos inocentes.
Por outro lado, se nos abrirmos à Divina essência de nossa
personalidade e começarmos a absorver suas lindas melodias, podemos
empregar estes quatro componentes como instrumentos para nosso crescimento
moral e nossa espiritualidade.
Nosso ego, desejos morais e força da razão podem ser usados
de maneira boa e construtiva. Até nosso impulso para destruir pode
ser usado como uma arma para erradicar e destruir o mal dentro de nós
e dar um fim ao mal no mundo que nos cerca.
Quatro Impérios
Na Cabalá, o microcosmo reflete o macrocosmo e vice-versa. Assim,
a Cabalá explica que esses quatro elementos da psique humana foram
representados pelos quatro impérios globais que dominaram o mundo
na história.
O primeiro foi o Império Babilônico, famoso pela sua ambição
de poder e domínio desenfreados. Seu primeiro rei, Nevuchadnezzar,
que destruiu o Primeiro Templo em Jerusalém e exilou nosso povo
para a Babilônia (atual Iraque) incorporava o egoísmo par
excellence.
Veio então o Império Persa, notório pela sua incessante
indulgência em hedonismo e prazeres materiais. Achashverosh, o rei
persa e marido da Rainha Esther, deu um banquete que durou 187 dias! Imagine
uma festa que continua por seis meses sem parar…
O Império Grego veio em seguida. Sua contribuição
à civilização foi o desenvolvimento da lógica
e da filosofia. Para os gregos, a mente humana era o zênite da existência.
Então veio o Império Romano. Este foi liderado na maior
parte por monarcas cruéis cuja brutalidade não tinha limites.
Roma destruiu o Segundo Templo, massacrou milhões de judeus e incontáveis
outros seres humanos, mas talvez o mais importante, Roma transformou a
brutalidade em cultura. Os Gladiadores, o ponto alto dos esportes romanos,
foi um arrepiante exemplo disto.
Para os judeus, os seres humanos foram criados
à imagem de D'us. Para os gregos, os deuses foram feitos à
imagem dos seres humanos. Após a derrota de um gladiador,
se a multidão desse o sinal para que ele morresse, havia um ritual
a ser cumprido. Com um joelho no chão, o perdedor agarrava a coxa
do vencedor que, enquanto segurava o capacete ou a cabeça de seu
oponente, passava a espada pelo seu pescoço ou cortava sua garganta,
dependendo da arma. Para morrer com glória, um gladiador não
tinha permissão de pedir misericórdia e não podia
gritar ao ser morto. Se fosse derrotado, mas estivesse mortalmente ferido,
o gladiador não era assassinado na frente da plateia, mas era tirado
da arena para ser executado “humanamente” com uma martelada
na testa, em particular.
Ora, cada um desses quatro impérios dominou o mundo, e pasmem,
cada um deles via o Judaísmo e seus cumpridores como uma ameaça
à sua existência e sucesso. Babilônia, Pérsia,
Grécia e Roma, cada qual declarou guerra contra o povo de Israel,
tentando destruí-lo. Por que estes poderosos impérios eram
obcecados com uma pequena minoria, os judeus?
A resposta é que para a mente deles, e também para os muitos
monarcas e governantes que os seguiriam, o povo judeu representava a “quinta
dimensão”, que desafiava a própria maneira de eles
entenderem o objetivo da vida. Hitler declarou isso com essas palavras:
“Consciência é uma invenção judaica.
É um defeito, como a circuncisão.”
Os judeus no decorrer de toda a sua história foram obcecados com
a questão do certo e do errado. Ainda são. (Não conheço
qualquer outro grupo que seja tão crítico sobre o próprio
comportamento como os judeus). O Judaísmo ensinou que o mais importante
para a civilização não é o auto-engrandecimento
(Babilônia), nem a indulgência (Pérsia), nem mesmo
a lógica e a busca do conhecimento (Grécia), e certamente
não a agressão desenfreada (Roma), mas sim o componente
mais crítico da sociedade é seu compromisso inequívoco
com a moralidade universal, baseado na presença de um D'us vivo
que se preocupa com o comportamento humano.
Os judeus foram escolhidos para outorgar à história humana
a dignidade de propósito e para refinar e sublimar o ego (Babilônia),
o corpo (Pérsia), a própria lógica (Grécia),
e o mau impulso (Roma) como instrumentos para servir à moral e
à causa espiritual.
Segundo os ensinamentos do misticismo judaico, um dos motivos fundamentais
para o povo judeu viver em exílio no meio desses quatro impérios
foi para adquirir percepção e profundidade sobre a energia
singular dessas civilizações e então utilizá-las
como instrumentos para servir a D'us, definido pela cabala como “elevar
as centelhas”. Mas no processo, o conflito geralmente era profundo.
O confronto entre o Judaísmo e a Grécia Antiga pode servir
como um bom exemplo. O pensador mais influente na Grécia (e talvez
em toda a história intelectual do Ocidente) – ninguém
menos que Aristóteles – argumentou em sua Política
(VII.16) que matar crianças era essencial para o funcionamento
da sociedade. Ele escreveu: “Deve haver uma lei para que nenhuma
criança imperfeita ou aleijada seja criada. E para evitar o excesso
de população, algumas crianças devem ser expostas,
pois um limite deve ser fixado para a população do estado.”
Note o tom de sua declaração: Aristóteles não
está dizendo “Eu gosto de matar bebês”, mas está
fazendo um cálculo frio e racional: a superpopulação
é perigosa; esta é a maneira mais funcional de tratá-la.
Platão escreveu em seu Simpósio (178C): “Eu, pela
minha parte, não sei que maior bênção um homem
pode ter na juventude que um amante honrável…”
Os gregos introduziram na consciência humana uma ideia que que o
ser humano é o centro de todas as coisas. A mente humana e sua
capacidade de entender, observar e compreender as coisas racionalmente
é tudo. Para os judeus, os seres humanos foram criados à
imagem de D'us. Para os gregos, os deuses foram feitos à imagem
dos seres humanos. Para os judeus, o mundo físico era algo a ser
aperfeiçoado e elevado espiritualmente. Para os gregos, o mundo
físico era perfeito. Para os gregos, o que era belo era sagrado.
Para os judeus, o que era sagrado era belo.
Opiniões tão diferentes estavam fadadas a colidir.
As quatro letras hebraicas Nun, Guimel, Shin
e Heh, estão ligadas com as palavras Nefesh, Guf, Sechel e Hakol.
E isso ocorreu no segundo século AEC. O Império Greco-Sírio
procurou helenizar os judeus à força e dar um fim à
fé do Judaísmo. Mulheres que permitiam a circuncisão
nos filhos eram mortas com os filhos atados ao seu pescoço.
Os eruditos de Israel eram espreitados, caçados e mortos. Judeus
que se recusavam a comer carne de porco ou sacrificar porcos eram torturados
até a morte. Os altares a Zeus e outras divindades pagãs
eram construídos em todas as aldeias, e os judeus eram forçados
a participar dos serviços sacrificiais. Chanucá celebra
a vitória do estilo de vida judaico sobre o grego.
Gire a Sua Personalidade
Agora apreciaremos o segredo por trás do dreidel.
Os quatro lados do dreidel representam as quatro dimensões da psique
humana: ego, corpo, razão e mal. Isso está refletido nas
quatro letras hebraicas Nun, Guimel, Shin e Heh, que significam as palavras
Nefesh, Guf, Sechel e Hakol.
Nefesh, que significa ser ou identidade, reflete o ego humano. Guf, que
significa corpo, representa todos os anseios e tentações
corporais. Sechel, que significa razão, define a busca humana pelo
conhecimento e compreensão. E finalmente, Hakol, que significa
tudo, simboliza a força do mal no homem, que, como mencionado acima,
se esconderá em tudo para atingir suas metas.
O ponto agudo, quase imensurável situado na base do dreidel, representa
o quinto – e Divino – componente do espírito humano.
Essa centelha do infinito dentro de nós não pode ser medida
por espaço e tempo, e serve como alicerce e quintessência
de cada ser humano, assim como serve como base do dreidel.
Em Chanucá, celebrando a vitória do estilo de vida judaico
sobre o helenismo, o triunfo da ética Divina sobre a estética
humana, recebemos a missão de acender nossa chama Divina interior,
representada pelas velas de Chanucá. Chanucá é portanto
a hora oportuna para girar nosso dreidel psicológico de quatro
lados sobre sua base, dirigindo os outros quatro componentes de nossa
personalidade e orientando-os como ferramentas para expressar o puro amor
e a espiritualidade da alma.
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