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A primeira coisa que fiz na manhã
de sexta-feira foi olhar as notícias. Quando fui dormir na quinta-feira
à noite, ainda não se sabia das condições
de Gavriel e Rivkah Holtzberg. Tudo que sabíamos era que os emissários
de Chabad em Mumbai estavam inconscientes. Comentava-se sobre um grupo
de comandos israelenses que foram enviados para uma missão de resgate,
mas não se sabiam os detalhes. Na sexta-feira pela manhã
tudo foi esclarecido. Esclarecido demais. Definitivo demais. O casal tinha
sido assassinado. Alguns outros judeus ainda não identificados
no Beit Chabad também foram mortos. Quanto ao bebê de dois
anos dos Holtzberg, Moshê (seu segundo aniversário foi neste
Shabat) fora heroicamente resgatado por sua babá, que encontrou
o menino perto dos pais, ensopado do sangue deles.
Não há explicação: Não há o
que explicar. Nada que eu, nem ninguém, possa escrever sobre o
porquê de isso acontecer. Precisamos rezar. Precisamos prantear.
E precisamos exigir de nosso Criador que Ele coloque um fim a toda essa
violência, essa brutalidade e a este exílio.
E além disso, temos também outra responsabilidade. Em toda
situação na qual nos encontramos, devemos buscar alguma
lição, algum significado, alfo ao qual possamos nos apegar,
que nos ajude a viver ainda melhor e a termos vidas mais significativas.
Terminou o mês hebraico de Cheshvan, e na sexta-feira passada começamos
o mês de Kislev. Estes dois meses são os mais sombrios de
todo o calendário anual. Os dias são curtos e as noites
muito longas. Noite, escuridão, sempre foi um símbolo para
a galut, exílio. Pois quando estamos no escuro, não podemos
ver o que está adiante de nós. Parece que estamos procurando
sem rumo, msa nunca está claro o que estamos buscando. E quando
conseguimos entender o formato, não podemos ver os detalhes. Portanto
sabemos que encontramos a porta, mas de que cor ela é? É
velha? Nova? Bonita? Decrépita? Enquanto continuamos no exílio,
os detalhes são sempre fugidios, e quase nunca podemos ver as formas
ou os objetos até que cheguemos perto ou tropecemos neles.
Segundo o texto Sefer Yetzirah, o Livro da Formação, o mais
antigo dos escritos místicos judaicos, cada mês no calendário
hebraico é representado por uma letra diferente. Cheshvan é
representado pela letra nun, que significa “a caída”.
No texto da prcce Ashrai, que é alfabética em sua liturgia,
há um versículo para cada linha, exceto para o nun. Isso
porque o nun representa o estado da queda. Embora não seja mencionado
nesse texto, é considerado uma parte da linha seguinte, aquela
que começa com a letra samach e as palavras: “somech noflim”,
que significa “apoiando os caídos”. Esta é a
idéia de que sempre que alguém cai, toda vez que ocorre
uma tragédia, ao lado há um apoio. Isso não significa
que não cairemos, mas que quando isso ocorrer, alguém estará
lá para nos ajudar.
Oculta dentro de cada desafio está uma maravilhosa oportunidade.
É por isso que o mês seguinte a Cheshvan, Kislev, é
representado pela letra samach. É durante o mês de Kislec
que celebramos Chanucá, a Festa das Luzes.
Chanucá é mencionada como chaghanisin, a festa dos milagres.
A palavra para milagre, nes, é formada por duas letras, o nun de
Cheshvan, e o samach de Kislev. As letras que representam esses dois meses
sombrios formam a palavra para milagre. Há uma outra bela alusão.
A palavra para desafio em hebraico é nisayon. Porém no radical
dessa palavra está nes, milagre. Isso serve para mostrar que oculto
dentro de cada desafio, oculto em cada teste que passamos, está
uma milagrosa oportunidade, uma possibilidade maravilhosa.
Chanucá nos ensina que quando somos confrontados pela escuridão,
nossa resposta deve ser acrescentar luz. Podemos passar a vida tentando
lutar contra as trevas, tentando afastá-las. Porém infelizmente,
o mais provável é que não se afaste. Em vez de lutar
contra o negativo, a alternativa é ignorá-lo conpletamente
enquanto iluminamos aquilo que nos cerca. Quando acrescentamos luz, a
escuridão desaparece. Não se trata de a afastarmos, mas
sim de dominá-la. A luz substitui a escuridão.
Os Holtzberg foram para Mumbai, um local que para muitos significa o fim
do mundo. Porém foram para lá com uma missão específica.
Mudaram-se para lá, criaram seus filhos (infelizmente perderam
um filho de três anos devido a uma doença genética
degenerativa e tiveram outro filho doente que estava com os avós
em Israel quando ocorreu o ataque), e ali construíram suas vidas
com o propósito expresso de divulgar a luz do Judaísmo aos
judeus que morassem ou passassem pela região. Os Holtzberg eram
acendedores de lampiões. Iluminavam a escuridão e mostravam
a todos os judeus que os procuravam que tinham aonde ir, um lar que podiam
considerar seu, repleto de luz e calor. O pai de Rivkah disse que para
eles, uma refeição típica de Shabat consistia de
150-200 convidados. Todos sabiam que o Beit Chabad estava aberto para
todos os judeus em Mumbai.
A luz de Gavriel e Rivkah foi horrivelmente apagada. Foi extinta. Porém
eles deixaram para trás não somente seus filhos biológicos,
que sobreviveram por milagre, como também deixaram aqueles que
tiveram a felicidade de conhecê-los, e o restante de nós,
que somente agora podemos saber da sua grandeza. Não há
dúvida de que precisamos prantear sua perda. Precisamos sentir
falta deles e chorar por eles, e fazer o possível para que tal
tragédia não ocorra novamente.
Porém precisamos fazer ainda mais. Devemos a eles fazer mais. Em
meio a essa tragédia, da tristeza que está ocorrendo, começamos
Kislev, o apoio para aqueles que caíram. E devemos oferecer aquele
apoio. Enquanto pranteamos, devemos reconhecer que estamos chorando juntos.
Ontem recebi e-mails de muitas pessoas que aparentemente nada têm
em comum umas com as outras, mas todas as pessoas souberam da tragédia
e queriam oferecer suas preces, seus pensamentos, sua preocupação.
Como nação judaica rezamos pelo seu retorno seguro. Infelizmente
essa prece não foi respondida da maneira que esperávamos.
Hoje temos uma missão diferente, trazer luz ao mundo, por estas
duas maravilhosas luzes, bem como pelas luzes de todas as outras vítimas,
que foram brutalmente tiradas.
Os Holtzberg eram acendedores de lampiões
Devemos usar nossa tristeza para motivar a ação. Se você
é mulher, e ainda não acende velas de Shabat, comece a fazê-lo
em memória de Gavriel e Rivkah Holtzberg e todas as outras vítimas.
Os pais de Rivkah pediram que as mulheres judias cumpram essa mitsvá
especial para ajudar a trazer mais luz a este mundo. Doe mais para caridade,
ajude uma pessoa necessitada, cumpra outra mitsvá, outra boa ação
que pode dedicar a eles. Encontre alguém que está caindo
ou que caiu, e seja para ele um apoio.
Não podemos mudar o que aconteceu. Porém podemos determinar
como reagir a essa tragédia. Pense naquilo que você pode
fazer para trazer mais luz a essa escuridão. Compartilhe abaixo
o que você está fazendo em memória das vítimas
de Mumbai e por Gavriel e Rivka. Um dia no futuro, os filhos dos Holtzberg
poderão olhar para isso em retrospecto e ver o impacto que seus
pais tiveram, não apenas com suas vidas, mas até mesmo com
sua morte trágica.
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