Era apenas um cartão com uma mensagem simples, mas para mim foi um maravilhoso presente de Chanucá. Meus pensamentos me levaram de volta ao início do último semestre, em setembro.
     
  Um cartão de Chanucá
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  Por Chana Sharfstein  
 

Era apenas um cartão com uma mensagem simples, mas para mim foi um maravilhoso presente de Chanucá. Meus pensamentos me levaram de volta ao início do último semestre, em setembro.

Na primeira noite de aulas, eu estava esperando ansiosa pelo curso sobre Literatura e Cultura Espanholas porque parecia tão interessante. Além disso, era a última parte do curso, porque preencheria as exigências para eu tirar uma licença como professora de "Inglês como Segundo Idioma".


"Como você percebeu que eu era judeu?" perguntou ele. Professor Mendez um judeu? Eu simplesmente não podia acreditar.

Já na primeira noite, as coisas saíram erradas. Professor Mendez parecia competente e interessado quando começou sua palestra introdutória. Fiquei surpresa, portanto, por ele estar se dirigindo a nós em inglês, pois este era um curso avançado. Levantei a mão e questionei o professor. A sala permaneceu num silêncio desconfortável, enquanto o Professor Mendez respondia numa voz sarcástica que não éramos adiantados o suficiente para discutir História e Literatura em espanhol. Isso provocou um debate acalorado com cada um defendendo um lado, e obviamente fui vista como instigadora. Os sentimentos de antipatia surgidos naquela noite cresceram cada vez mais no decorrer do semestre escolar.

Quando fizemos o exame ao final do semestre, o professor teve sua chance de me pagar.
Eu tinha me preparado cuidadosamente, mas ele deu-me um "B" e escreveu uma nota explicando que eu tinha interpretado mal uma pergunta: analisara o material, em vez de resumi-lo. Fiquei realmente furiosa, mas minha família achou que provavelmente ele era anti-semita, e de qualquer modo minhas discussões em classe tinham me colocado numa posição desfavorável.

Nesta mesma época, chegou uma revista na qual uma de minhas histórias tinha sido publicada. Continha algumas lembranças agradáveis das Festas de minha juventude. Levei a revista à classe para mostrar a algumas de minhas colegas. Eu estava planejando até mostrá-la ao professor. Naquela noite, tivemos outro desentendimento, que com certeza encerrou o assunto. Ao final da aula, saí furiosa da classe.

A meio caminho do hall, e jamais saberei por quê, fiz meia volta e retornei à sala de aula. O professor estava lá reunindo seus pertences. Olhou-me surpreso, e mostrei a ele o meu artigo. Ele olhou-o brevemente, e depois, inesperadamente, perguntou se podia levá-lo consigo para casa.

Na semana seguinte, o professor pediu-me para encontrá-lo em sua sala depois da aula. Quando nos sentamos, ele começou a dizer o quanto tinha apreciado o meu artigo.
"Ele provavelmente achou-o estranho" – pensei. "Esta deve ser a primeira vez que ele é apresentado à vida judaica."

Meus pensamentos foram interrompidos, "Isso me lembrou de minha própria juventude" – ouvi-o dizer. "Foi durante a segunda Guerra, e nós celebramos as Festas em segredo, nunca sabendo a cada ano se haveria outro, cada ano num local diferente."

Foi muito bom eu estar sentada, pois a próxima pergunta realmente me abalou. "Como você percebeu que eu era judeu?" perguntou ele. Professor Mendez um judeu? Eu simplesmente não podia acreditar.

"Meu pai mudou nosso sobrenome durante a Guerra" – continuou ele" – assim pudemos fugir para a América Latina. Nós nos treinamos para parecermos não-judeus. Estudamos cuidadosamente e imitamos os colonizadores espanhóis." Então ficamos ali sentados no escritório, discutindo a vida judaica e o Judaísmo durante algum tempo.

Na terça-feira seguinte, eu estava me aprontando para sair, quando uma de minhas filhas me apresentou um problema. Ela tinha recebido diversas chanukiyot na escola, com instruções para dá-las a pessoas que de outra forma não acenderiam velas de Chanucá.
"Você pode me dar uma agora?" – Perguntei.

Quando saí para minha aula momentos depois, tinha uma chanukiyá lindamente embrulhada na sacola com meus livros.

Permaneci depois da aula e entreguei o presente ao professor. "É algo especial que você cozinhou ou assou?" perguntou ele. Balancei a cabeça. "Por favor, não abra até chegar em casa" – eu disse. "E leia o material que acompanha. Não importa o que aconteça, guarde-o e pense cuidadosamente sobre o assunto." Ao sair, voltei-me e disse: "Feliz Chanucá!"

Na aula seguinte, eu perguntei: "Você acendeu a Menorá?" "Não" – disse ele – "eu lhe contei que não sou observante. Minha vida mudou drasticamente desde a minha juventude." Ele tinha colocado a Menorá sobre sua escrivaninha em casa, mas não tivera interesse em acendê-la.

"Por quê?" eu perguntei. "Não está na hora de você se afirmar? Acenda a vela para identificar-se. Não há mais necessidade de se esconder. Apresente-se, e encontre o seu verdadeiro eu."

"Talvez alguma outra vez" – respondeu. "Agora não. Mas agradeço da mesma forma."

E agora, um ano depois, ele enviou-me um cartão. Li e reli a mensagem, e ela me encheu de alegria. Havia apenas quatro palavras na curta mensagem, e isso era tudo: "As velas estão acesas." E então ele assinou o nome, Professor Mendez, e sob ele, em letras pequenas, Yehuda Mendelovsky.

Há muitos tipos de batalhas e vitórias. O heroísmo demonstrado pelo Professor Mendez é comparável à batalha dos Macabeus de antigamente. Quando acendermos as nossas velas hoje à noite, pensarei em suas novas luzes, aquelas pequenas chamas representando a vitória.

     
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