O "giro" de nossos princípios

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A festa de Chanucá trata de duas forças sempre presentes: trevas e luz.

Um conflito entre duas ideologias: o helenismo e o judaísmo. O poder de uma pequena chama capaz de banir as trevas, de ver uma batalha impossível ser vencida pelos mais fracos em número, mas fortes em princípios e ideais que permitiu ir muito além de suas limitações.

Hoje estamos sendo expostos diariamente – e aqui me refiro não só a nós mas principalmente a nossos filhos – a inúmeros testes. O certo e o errado, o profano e o sagrado, o permitido e o proibido, todos representando duas facetas: ou pendemos para o lado negro e obscuro ou vamos em direção ao sol, à luz.

Mas o que vem a ser esta luz? Ela não é relativa a cada um? Um ponto de vista individual, intelectual e extremamente racional?

Se pensássemos desta forma estaríamos sendo muito mais gregos, que judeus.
Muitas civilizações sucumbiram e hoje pouco se fala nelas, além de alguns registros sobre a época em que viveram e o que realizaram. No entanto, o povo judeu vive até hoje. E como falam de nós!

Nossa sobrevivência foi devida a transmissão de nossos princípios baseados no código de vida que é a Torá. Se fossemos capazes de enxergar em telas apontadas para o modo de vida de cada judeu observante na China, na Rússia, no Nepal ou em Israel, poderíamos ver como eles têm quase tudo em comum: comem alimentos casher, colocam o mesmo tefilin, vestem o mesmo tsitsit, possuem mezuzot e livros sagrados em seus lares, interrompem todas suas atividades mundanas para observar o Shabat enfim, estão unidos de um modo incrivelmente forte, sem qualquer conexão física ou laços familiares.

Que força é esta?

Chama-se Chinuch, educação. A educação judaica sempre foi um tema fundamental em nosso povo. Educar é entender as nuances da natureza dos filhos e educá-los segundo esta natureza. O Rei Salomão diz em Provérbios:

"Eduque (chanoch) um filho segundo sua natureza: quando ele crescer não a abandonará."
De um modo geral, embora não existam dois filhos iguais, todos os filhos devem certamente aprender que roubar é errado. As personalidades e temperamentos podem variar, mas a necessidade de ser bom, compassivo e ético é universal. Uma criança pode ser tímida, a outra criativa, e outra ainda ser impaciente. Todas, porém, precisam aprender o que significa ser um mentch. E mais do que mentch, qual deve ser seu verdadeiro papel como seres humanos e sobretudo, de modo específico, como judeus no mundo.

Os pais judeus são exortados não apenas a ensinar as habilidades necessárias para a vida – como comer com garfo e faca ou usar o computador – mas também a ensinar-lhes valores e ideais que trarão um significado à vida de seus filhos.

A essência da paternidade judaica é ensinar aos filhos ao que se dedicarem. Diz o Talmud: assim que a criança aprende a falar, os pais devem ensiná-la Torá e o Shemá. Assim como não os deixamos crescer para decidirem se desejam ou não ler ou escrever, também não devemos suspender o ensinamento de valores e caráter até que estejam com idade suficiente para decidir por si mesmos quais princípios exigem sacrifícios; quais princípios são moralmente negociáveis e quais não o são.

Especialmente na época de Chanucá devemos lembrar que temos todo o potencial para nos conduzir velozmente como um pião; dar um "giro" em nossa vida. Alguns judeus estão próximos, outros chegando, mas devemos pensar naqueles que se encontram distantes, bem longe de seus valores. Nem ao menos sabem que existem! Estão em um deserto, com sede, mas estão caminhando tão ocupados, obstinados na trilha, que nem percebem. Vão em busca de respostas, mal sabem eles que o que buscam são os mesmos valores que moveram seus pais em um outro deserto, que os conduziram até o Monte Sinai, que os arremessaram pela história e que hoje continuam contribuindo para toda a humanidade. Podemos e é nosso dever resgatá-los, os valores, e principalmente nossos filhos.

Devemos ocupar um espaço que não pode ser medido, que nos leva ao nosso íntimo e a nossa teshuvá. Este é o real significado de ser "uma luz entre as nações". Somente ao descobrirmos que temos uma faísca, uma parte verdadeira da alma Divina, seremos capazes de atingirmos a conexão que buscamos. Precisamos nos tornar, cada um e uma, um pavio aceso e um pião capaz de girar.

     
   
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