O Maoz Tzur de meu pai

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Dizem que Chanucá é uma festa para crianças. E certamente toda criança judia espera com ansiedade o acendimento da chanukiyá , as canções tradicionais, os latkes e ganhar Chanucá guelt (embora não necessariamente nessa ordem).

Nós adultos pensamos de modo diferente. Sabemos que Chanucá possui um manancial com nuances espirituais, e um significado que somente pode ser apreciado por mentes maduras e intelectuais.

Sim… mas pergunte a qualquer adulto sobre suas memórias de Chanucá e descobrirá que bem no fundo, as imagens que carregamos desse feriado com oito dias de duração estão inevitavelmente conectadas a nossa infância.

Tomemos a minha como exemplo. Sou daquela era nebulosa em que às vezes não consigo lembrar o número de telefone de meus pais, mas pergunte-me os versos de "Maoz Tzur" (A Rocha da Minha Força) do jeito que meu pai costumava cantar antes de ficar doente, e eu me lembro por completo.

Ora, Papai – que esteja com saúde – não canta Maoz Tzur da maneira que você e eu a sabemos. Ele entoa a versão original, inteira, muito mais longa que aquela ensinada atualmente nas escolas judaicas, e totaliza quase 5.000 anos de História Judaica.

Meu pai aprendeu esta esplêndida melodia com seu pai, que a aprendeu do próprio pai, que a aprendeu com o Bluzhiver Rav, um líder chassídico da Galícia. Portanto, temos certeza foi transmitida de pai para filho com autenticidade dentro de nossa família, vinda da Europa Oriental por volta de 1850.

Papai ensinou a melodia a seus filhos, e tornou-se tão querida para nós quanto é para ele. O destaque de Chanucá em nossa casa, enquanto crescíamos no Brooklyn, era nossa reunião ao redor da chanukiyá, enquanto Papai recitava as bênçãos e depois fazer coro com ele, que entoava lindamente "seu" Maoz Tzur.

Meus seis irmãos e uma irmã foram todos abençoados com lindas vozes, e o coro resultante era de fato maravilhoso.

Como o mais velho da família, fui o primeiro a casar e deixar a casa. Naquele primeiro Chanucá em Detroit, Michigan, eu senti saudades do Maoz Tzur de meu pai. Minha mãe, que D’us a abençoe, teve uma idéia. Disse que que telefonaria quando Papai estivesse prestes a acender a chanukiyá, e eu escutaria enquanto meus irmãos cantavam.

E assim nasceu uma tradição. Todo Chanucá, geralmente na quinta noite, eu ligava para "casa", colocava o telefone no viva-voz e minha família e eu escutávamos enquanto Papai, e os irmãos que ali estivessem, cantavam Maoz Tzur.

Com o passar dos anos, e, graças a D’us, netos e bisnetos passando Chanucá com Zaydie e Bubbie, eles também juntavam-se ao canto e assim o coro continuava.

Durante os últimos anos, a saúde de meu pai infelizmente declinara, e neste ano, quando fiz o telefonema na quinta noite, algumas coisas estavam iguais, e outras teriam de mudar.

Meu pai terá de ser empurrado na cadeira de rodas até a chanukiyá de prata. Um filho ou neto guiará sua mão até o pavio no cilindro de óleo e gentilmente o encorajará quando ele começa, com dificuldade, a recitar as bênçãos.

E então, quando as chamas já estiverem acesas e iluminarem a sala, eles dirão: "Zeide, vamos cantar Maoz Tzur."

Meu pai ficará momentaneamente perplexo, e então franzirá o cenho em concentração, voltando a uma época da qual sabíamos muito pouco. Todos prestarão atenção enquanto ele extrai da memória aquilo que está gravado no seu subconsciente e numa voz baixa, hesitante, ele começa a cantar.

"Maoz tzur yeshuosi lecha naaeh l'shabeach…" Eles o deixam cantar sozinho por alguns instantes e depois os filhos, netos e bisnetos juntam suas vozes, suavemente a princípio, depois mais e mais alto. E quando o crescendo final morrer, e a última estrofe tiver sido cantada, haverá lágrimas nos olhos de Papai… e ele sorrirá.

     
   
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