A chama
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  Por Yanki Tauber  
 

Baseado nos ensinamentos do rebe

Podemos sentar e contemplá-la durante horas.

É luminosa, é quente, é romântica; mas acima de tudo é espiritual. (Espiritual em que sentido?
Não podemos dizer, na verdade, mas é espiritual). Uma gota amarelada de luz, rendada com vermelho, branco brilhante nas pontas, e azul no centro, como se poluída pelo contato com o pavio material. Mas não vemos todas estas cores até que as tenhamos contado – a chama em si é um todo perfeito, integral, emanando calma e tranqüilidade.

Como, na verdade, algo tão agitado como a chama pode irradiar tanta paz? Pois a chama é um choque de forças puxando em direções opostas. Observe mais de perto: veja como ela se esforça para subir, tentando se afastar do pavio que a conecta à vela ou lamparina e se perde nas grandes expansões de energia que envolvem os Céus. Mas olhe de novo, e veja como ela se apega ao cumprimento do algodão trançado que projeta seu coração e a abastece com o combustível que sustenta sua luminosidade e sua vida. Para trás e para frente, para cima e para baixo ela se esforça, vacilando entre o ser e o nada, entre a presença e o esquecimento.

"A alma do homem é uma lamparina de D’us" (Mishlê 20:27).

Pois a alma do homem, também, é um choque de forças divergentes e esforços conflitantes. Nós ansiamos para nos libertar de nosso "pavio" – do corpo que nos ancora à realidade física e nos macula com necessidades e desejos físicos. Nós nos esforçamos para subir, ansiando transcender o físico, o humano e o particular, e nos fundirmos com o universal e o Divino. Ao mesmo tempo, nos apegamos ao corpo, ao pedaço de matéria que nos sustenta como participantes dinâmicos e criativos no mundo de D’us.

É este eterno sobe-e-desce, esta incessante vacilação do egoísmo ao altruísmo e de volta novamente, que chamamos de vida. É esta eterna tensão entre nosso desejo de escapar do físico e do nosso comprometimento de habitá-lo, desenvolvê-lo e santificá-lo que faz de nós seres espirituais.

Podemos sentar e contemplar a chama durante horas, porque estamos contemplando a nós mesmos.

     
   
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