Entrevista realizada com Prof. Yeshayáhu Gafni da Universidade Hebraica de Jerusalém, pesquisador de História do Povo de Israel na época do Segundo Templo.
     
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  Fredricka Maister – Jornalista e roteirista - Nova York,  
 

Devo estar passando por algum tipo de mudança interna, um retorno inconsciente a minhas raízes judaicas, porque, pela primeira vez nos últimos 25 anos, decidi celebrar Chanucá, A Festa das Luzes.

Peguei a menorá antiga que herdei da mãe de minha mãe, na prateleira alta perto de minha arca russa laqueada. Durante as oito noites de Chanucá, acendi "religiosamente" as velas da chanukiyá e recitei as bênçãos apropriadas que, para minha sorte, estavam escritas na caixa de velas. Infelizmente, a memória me falhou e descobri, depois que o feriado tinha terminado, que não tinha acendido as velas na ordem correta. Comecei pelo centro, seguindo primeiro para a direita e depois para a esquerda.

As brilhantes velas coloridas acesas, iluminando a escuridão de minha cozinha, desencadeou uma inesperada profusão de memórias e imagens de minha infância. A chanukiyá de minha avó sobre o fogão, ao redor do qual três gerações de nossa família se reuniram. O cheiro dos latkes fritando. Os biscoitos de açúcar que eu ajudava minha mãe a fazer, usando cortadores no formato de menorás, maguen David e dreidels. A tradicional canção de Chanucá, "Eu tenho um pequeno dreidel" e "Rocha das Idades," cantadas fora do tom. Lembrei-me, com uma careta, do vestido de papel crepom com lantejoula dourada em minha cabeça. Toquei a "Sexta Vela da Menorá" para o programa de Chanucá de nossa escola.

Estas doces e pitorescas memórias honrando as alegrias da família, a tradição religiosa e a infância tiveram vida curta, empalidecendo com a dolorosa percepção de que a maioria dos adultos "em meu quadro" – meu pai, avós, tias e tios – já eram falecidos, e que os membros sobreviventes da família estavam espalhados pelos quatro cantos do globo.

Um pensamento triste provocou uma sucessão de pensamentos tristes, e logo me achei sofrendo pelos judeus mortos no Holocausto, especialmente o milhão e meio de crianças que jamais tiveram a chance de vivenciar e recordar Chanucá como eu fiz. E a dor que eu subitamente senti e reclamei como minha, ressoou dentro de mim num nível profundamente pessoal, cuja intensidade me pegou de surpresa. O fato de que minha experiência pessoal de vida de certa forma estava conectada com esta grande tragédia do povo judeu foi uma revelação para mim, um reconhecimento de minha conexão ao Judaísmo, sua história, rituais e dias festivos – como Chanucá.

Acenderei minhas velas de Chanucá novamente este ano, assegurando-me de acender as chamas da esquerda para a direita.

     
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