Chanucá … dentro de nós!
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Alexandre Magno era o líder do Império Grego e, ao completar 21 anos, tinha conquistado a maior parte do mundo conhecido. Ele respeitava os judeus. Não queria guerrear contra a minúscula Judéia; apenas exigia pesados impostos. O Talmud detalha muitas conversas que o jovem Alexandre tinha com os sábios judeus, muitos dos quais viajaram até a Grécia para serem tutores da realeza.

A morte de Alexandre em 165 AEC dividiu o Império Grego em três territórios: Grécia, Egito e Síria.
Dez anos depois, em 155 AEC, Antíoco IV tentou dominar os territórios sírios, que incluíam Israel.
Os sírios-gregos, denominados selêucidas, não tinham interesse na coexistência, mas sim na assimilação. O Talmud, O Livro dos Macabeus, Josephus e outras obras narram em detalhes os eventos de Chanucá. Antíoco IV enviou seus ministros para impingir a cultura grega no povo de Israel. A maioria dos judeus se conformou. O que mais poderiam fazer contra o poder do império?
Sobre este período, o Zohar declara: "Os gregos obscureceram os olhos de Israel com seus decretos."

A Festa de Chanucá fala da luz vencendo as trevas. Nosso mundo está atualmente vivendo uma época especialmente tenebrosa. Temos medo até de abrir as cartas que recebemos. Nossos filhos e filhas, amigos e vizinhos estão espalhados pelo mundo, lutando contra um inimigo que não tem fronteiras. "A alma do homem é a lamparina de D’us" (Mishlê 23:27). Nosso desafio, estejamos nós nas linhas de frente ou lutando com o tráfego na volta para casa, é trazer luz a este mundo. A razão pela qual as velas de Chanucá são acesas ao anoitecer é para nos lembrar que, mesmo nos momentos mais escuros, temos o potencial de iluminar, se acendermos uma chama.


Quando o físico é engajado para propósitos espirituais, o conflito é transformado em paz e harmonia.

Antíoco IV, denominado Epifânio (o ilustre) por seus amigos, e Epimanes por seus inimigos, não construiu guetos, forçou conversões ou tentou aniquilar o povo judeu, como o Faraó e
Nabucodonosor tentaram tramar antes dele. Também não pretendia destruir sua cultura. Em vez disso, proibiu o cumprimento de determinadas mitsvot (ações Divinas), prevendo que isso levaria ao fim do Judaísmo como religião e nação única. Ele queria que os judeus fossem apenas mais uma tribo conquistada. E assim, declarou guerra às suas almas.

Os gregos eram grandes filósofos. Reconheciam as mitsvot como parte de uma grande cultura, e a Torá como uma grande obra da literatura judaica. O que não podiam tolerar era que "D’us, Criador do Universo, tivesse ordenado a prática dessas mitsvot." Nas palavras da prece recitada em Chanucá, os gregos procuraram fazer os judeus se esquecerem da Torá [de D’us], e a deixar de cumprir os mandamentos [de D’us]. " Sempre que cumprimos uma mitsvá, tornamo-nos o autógrafo de D’us em Sua obra prima, declarando de forma absoluta que esta não é uma selva, onde o mais forte devora o fraco. É um lindo jardim, repleto da luz de seu Criador.

O Helenismo, a cultura grega, significava aceitar seus deuses pagãos e a filosofia grega. Os judeus que aceitavam a opinião helenista logo ganhavam poder e proeminência. Porém muitos judeus permaneciam fiéis a suas crenças. Eliezer, um Cohen (sacerdote judeu), foi executado publicamente porque se recusou a abandonar sua fé. Muitas mulheres judias foram assassinadas por terem os filhos circuncidados. Os sete filhos de Hanna, uma judia simples, foram condenados à morte por se recusarem a inclinar-se perante deuses pagãos.

O grande problema para os Selêucidas começou na aldeia de Mod'in, quando o idoso Cohen Matitiyáhu gritou: "Quem está do lado de D’us, junte-se a mim!" Assim começou a luta pela liberdade religiosa.

O rei Salomão escreveu: "Tudo tem seu tempo… Um tempo de nascer, um tempo de morrer… Um tempo para a guerra, um tempo para a paz" (Cohêlet). No Judaísmo, a paz é a meta suprema. Contudo, se alguém está sendo atacado, a lei judaica proíbe uma atitude passiva. A paz e a santidade da família exigem às vezes, que a pessoa defenda a si própria, à família e o país.

Apesar de os macabeus serem poucos em força e em números, enfrentaram o opressor com total fé na misericórdia de D’us. Uma lição de Chanucá é que quando resolvemos introduzir a espiritualidade em nossa vida, D’us nos ajuda muito além de nossas limitações. D’us fala a seus filhos: "Façam para mim uma pequena abertura, como o fundo de uma agulha, e abrirei para vocês uma abertura através da qual poderá passar uma caravana" (Midrash). Simplesmente precisamos começar o processo para D’us nos ajudar a atingir aquilo que julgamos inatingível.


Um mundo de paz começa com a paz interior. Quando alguém faz a paz dentro de si, isso provoca um efeito em seu lar, ambiente e por fim no mundo inteiro.

Antíoco IV tornou ilegais três mitsvot específicas, e anunciou que sua prática seria punida com a morte. Estas mitsvot eram o Shabat, que é um testemunho do fato de que existe um Criador que descansou no sétimo dia; "A bênção do novo mês" que determina quando os judeus podem santificar seus feriados; e Circuncisão, que introduz santidade no corpo humano. O gueto espiritual que Antíoco IV tentou forçar sobre o povo judeu era um mundo sem Criador, tempo sem santidade e pessoas com nenhuma conexão ao Divino. Embora a pessoa possa ter um desejo ardente de ser espiritual, uma ação concreta é necessária para acender uma chama. Quando falta o azeite da genuína substância, a paixão pode esfriar rapidamente, deixando de introduzir qualquer luz duradoura no mundo. Uma vida sem mitsvot é como um pavio sem azeite – produz pouca ou nenhuma luz.

Há nove braços na menorá de Chanucá, embora Chanucá seja celebrado por oito dias. O nono braço é o shamash, a vela "auxiliar," que fica separada das outras. Esta vela é acesa para que, quando fazemos uso da luz de Chanucá, utilizemos o shamash, e não as oito chamas de Chanucá. "Estas [oito chamas] de Chanucá são codesh (sagradas). Não podemos fazer uso delas, somente contemplá-las".

A palavra hebraica "codesh" literalmente significa separado e além. No Judaísmo, embora possamos apreciar objetos sagrados e observâncias em muitos níveis, eles são essencialmente mais elevados que nosso entendimento e percepção finitos, pois estão enraizados no Infinito. Foi esta "santidade" que os gregos não conseguiram destruir. E é esta santidade que se manifesta nas luzes de Chanucá.

Matitiyáhu, o Cohen, e seus cinco filhos, começaram a desafiar os redutos gregos com um grupo de seguidores denominados Macabeus. Fontes históricas estimam seu número em 6.000, enquanto Antíoco IV enviou 40.000 tropas para derrotá-los.

Yehudit, uma jovem viúva, usou táticas astutas para assassinar Holefernes, um perverso general Selêucida. Após perdas significativas nas cidades de Shechem e Beit Choron, Antíoco IV enviou 65.000 tropas adicionais. Os Macabeus lutaram batalhas terríveis, porém inteligentes, que são estudadas por estrategistas militares aaté os dias de hoje. Após três anos e milhares de vidas, Israel finalmente foi libertado.

Em Chanucá, celebramos dois milagres: a vitória dos macabeus sobre as forças de Antíoco IV no campo de batalha, e o milagre do azeite, que ardeu por oito dias. A vitória no campo de batalha foi milagrosa, mas foi física, limitada pelo tempo e pelo espaço. O milagre do azeite, que permitiu ao povo judeu continuar os serviços no Templo sagrado, foi espiritual. Os judeus em todo o mundo imitam estes milagre e espiritualidade hoje em dia, observando Chanucá.


Há ocasiões em que as trevas invadem o mundo. Nestes tempo, procuramos a "única jarra de azeite puro " oculta; a pura e indestrutível centelha da Criação, que irradia bondade e santidade.

O conflito de Chanucá é encontrado dentro de cada um de nós. Os ensinamentos chassídicos explicam que temos duas almas. Uma alma é atraída pelo espiritual, a outra pelo físico. Podemos reconciliar esta dualidade estando envolvidos com o mundo material, mas rumo a um fim espiritual. Esta é uma razão pela qual existem tantas mitsvot na Torá, todas elas envolvendo ação física. Quando o físico é engajado para propósitos espirituais, o conflito é transformado em paz e harmonia. Um mundo de paz começa com a paz interior. Quando alguém faz a paz dentro de si, isso provoca um efeito em seu lar, ambiente e por fim no mundo inteiro.

O nome "Chanucá" está enraizado em diversas fontes diferentes, porém relacionadas. Vem de "kah," o equivalente a 25 em hebraico, e "chanu," que significa descanso. Está conectada também com as palavras "inauguração" (chanukat) e "educação" (chinuch).

No dia 25 do mês hebraico de Kislêv, os Macabeus descansaram de sua batalha, Marcharam vitoriosamente até o Templo sagrado em Jerusalém, prontos para reinaugurarem o serviço sagrado. Serviriam para sempre como modelos, ou educadores, das futuras gerações.

Qual a aparência de uma alma?

Olhe para a chama de uma vela. Uma chama é brilhante, sempre saltando, nunca está em repouso; o desejo natural de uma alma é "saltar" até D’us, ficar livres das limitações físicas. O pavio e a cera ancoram uma chama; um corpo físico segura a alma, forçando-a a fazer seu trabalho, dar luz e calor. O corpo humano, precioso e sagrado, é comparado ao Templo Sagrado.
O Báal Shem Tov, fundador do Chassidismo, sempre aconselhou contra o ascetismo, jejuns e flagelar o corpo. É melhor, dizia ele, usar seu corpo para fazer um ato de bondade. A bondade é contagiosa. Quando sua alma diz ao corpo para fazer uma boa ação, tanto a alma quanto o corpo são afetados. Finalmente, outras almas ao nosso redor influenciam seus corpos a fazer o mesmo. Em pouco tempo, criamos uma epidemia internacional de bondade. Esta é uma das razões pelas quais a Menorá de Chanucá é colocada onde possa ser vista da rua, seja no batente em frente à mezuzá, seja perto da janela, lembrando-nos do dever de compartilhar a luz espiritual de calor e sabedoria com o mundo que nos cerca.

A vitória ficou agridoce quando os Macabeus descobriram que o Templo fora profanado e o azeite puro necessário para acender a Menorá estava impróprio. Miraculosamente, descobriram uma única ânfora de puro azeite, com o selo do Cohen Gadol (Sumo Sacerdote Judaico) intacto. Com este azeite, o Templo Sagrado foi reinaugurado.

Por que os Selêucidas simplesmente não destruíram o azeite, em vez de profaná-lo? O azeite é um símbolo da santidade. Pode permear qualquer coisa, porém quando colocado na água, sobe e fica na superfície. Azeite profanado, e não destruído, era exatamente o que Antíoco IV queria. Ele permitia aos judeus apegarem-se à sua cultura e manterem suas leis, desde que fossem "tocados" pelos ideais e filosofia gregos.

Os ensinamentos chassídicos explicam que, a despeito de qualquer entidade que tente prejudicar nossa conexão com a Divindade, a essência de uma alma nunca pode ser profanada. Esta centelha de santidade arde continuamente e anseia ser transformada em uma grande chama. O universo foi criado para perpetuar a luz, e é inerentemente bom (Bereshit). Porém há ocasiões em que as trevas invadem o mundo de D’us. Nestes tempo, procuramos a "única jarra de puro azeite" oculta (Liturgia de Chanucá), a pura e indestrutível centelha da Criação, que irradia bondade e santidade.

Os Macabeus tinham feito tudo que era fisicamente possível, mas a pequena ânfora de azeite era suficiente apenas para acender as velas da Menorá por um dia. Preparar mais azeite exigia um processo com pelo menos sete dias. Após derrotar o exército mais poderoso do mundo, e conseguir liberdade religiosa paras gerações vindouras, os Macabeus não desistiriam. Acenderam a Menorá com o pouco que encontraram e, miraculosamente, a Menorá brilhou por oito dias, mais 2000 anos, pois as Chanukiyot continuam a iluminar nossos lares e o mundo até hoje.


Miraculosamente, a Menorá brilhou por oito dias, mais 2000 anos, pois as Chanukiyot continuam a iluminar nossos lares e o mundo até hoje.

Embora a vitória fosse milagrosa, alguns atribuiriam o sucesso militar dos Macabeus à sua estratégia superior. A última noite do feriado é chamada Zot Chanucá, "Isso é Chanucá." Nossos Sábios explicam que "zot" refere-se a algo quando é revelado e tangível, "quando pode ser apontado com um dedo." Quando o povo judeu testemunhou uma impossibilidade científica, o milagre do azeite, não havia como negar a Presença de D’us.

Por que D’us faz milagres? Sem milagres, tal como o azeite encontrado no Templo Sagrado, poder-se-ia acreditar que as leis da Física definem a realidade. No entanto, quando vemos o inexplicável, testemunhamos uma realidade transcendente atingimos uma consciência mais elevada. Podemos então olhar novamente para a física, apontar com o dedo e perceber: "Este também é um milagre."

Segundo o Báal Shem Tov, "a diferença entre a natureza e um milagre é a freqüência".

A Cabalá, misticismo judaico, ensina que o supremo milagre não é a divisão do mar, o maná dos céus, ou o sol ficar imóvel. É descrito como a sutil e, ao mesmo tempo, dramática transformação do universo que ocorrerá com a vinda de Mashiach. Então, a própria natureza revelará sua miraculosa essência. Aquilo que é percebido como um muro entre o físico e o espiritual será revelado como uma ponte.

Como podemos provocar este milagre? Com a luz de nossas mitsvot coletivas.

     
   
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