Por que os Macabeus se rebelaram
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  Adaptado das obras do Lubavitcher Rebe por Sichos in English  
     
 

O Talmud declara: "Quando os gregos penetraram no Hechal, o interior do Santuário do Templo, tornaram impuros todo o azeite que lá havia."

Esta declaração suscita várias dúvidas. O Templo possuía vários recipientes de ouro e prata. Por que os gregos estavam mais interessados no azeite que nos outros tesouros? Além disso, se o objetivo era o azeite, por que não o utilizaram, destruíram ou roubaram? O que tinham a ganhar profanando-o?

Uma introvisão fundamental na natureza da Festa de Chanucá que ajuda a esclarecer estas dúvidas pode ser extraída da prece "Veal Hanissin". Esta prece explica que os gregos tentaram fazer o povo judeu "esquecer Tua Torá e violar os decretos da Tua vontade." O versículo indica que os gregos não se opunham à Torá e mitsvot (preceitos) em si mesmas. Lutavam contra a concepção da Torá como a Torá de D'us, e as mitsvot como decretos Divinos. Não tentaram obliterar o estudo de Torá. Pelo contrário, também valorizaram a sabedoria da Torá e a riqueza de conhecimento nela contida. Opunham-se ao conceito da Torá como mais do que uma fonte de conhecimento. Queriam que o povo judeu estudasse a Torá sem reconhecer sua natureza Divina, ou aceitar que sua origem está enraizada em um nível além de qualquer compreensão intelectual.

O mesmo princípio aplica-se ao cumprimento das mitsvot. Os gregos não objetaram quanto ao real cumprimento das mitsvot. Estavam familiarizados com rituais e tinham muitos rituais próprios. Não se opunham a que os judeus cumprissem alguns costumes, desde que pudessem ser integrados à cultura helenística em geral. O que provocou seu antagonismo foi a abordagem das mitsvot como uma forma incomparável de conexão com D'us, acima e além dos poderes limitados de um ser humano.

De forma geral, as mitsvot podem ser classificadas em três categorias: "julgamentos" (mishpatim), "testemunhos" (edot) e "decretos" (chukim). Os julgamentos incluem aquelas mitsvot cujas intenções podemos entender. Os testemunhos comemoram um evento específico na História Judaica e nos proporcionam um meio através do qual podemos reviver aquele evento e apreender seu significado. O termo chukim refere-se àquelas mitsvot que são "um decreto Meu, o qual vós não tendes permissão de questionar". Os decretos eram especialmente ameaçadores para os gregos. Podiam aceitar o cumprimento dos testemunhos e dos julgamentos, pois podiam ser explicados intelectualmente. Entretanto, os decretos, que enfatizam um compromisso com D'us além do entendimento humano, provocaram seu antagonismo.

Dentro da categoria dos próprios decretos, existe uma abordagem que talvez os gregos tivessem aceitado. Poderiam ter concordado com seu cumprimento sobre os fundamentos de que a Torá baseia-se na sabedoria. Da mesma forma, o cumprimento de todas as mitsvot deve ser motivado por razões válidas. Nos casos de testemunhos e julgamentos, podemos compreender as razões. Entretanto, a limitada natureza de nossa perspectiva nos impede de entender as razões para os decretos.

Esta perspectiva não teria sido contrária à sua linha básica de raciocínio. Entretanto, o cumprimento dos decretos baseado num comprometimento além da razão, somente porque são "os decretos de Tua vontade" opõe-se totalmente à abordagem grega fundamental.

Neste contexto, a batalha entre os gregos e os macabeus foi uma guerra espiritual, um conflito entre a cultura helenística que pregava o racionalismo e o hedonismo e a dedicação judaica à pura Torá e mitsvot como sendo a vontade de D'us. Os gregos não desejavam aniquilar o povo judeu ou destruir nossa cultura e legado nacionais. Sua exigência era que nosso povo assimilasse seu estilo de vida.

Baseado no exposto acima, podemos entender por que os gregos deliberadamente profanaram o azeite. Três líquidos; água, vinho e óleo são

freqüentemente usados como metáforas para a Torá. Cada um deles refere-se a um nível e abordagem diferentes.

A água é caracterizada por sua tendência de descer de um ponto mais alto para outro mais abaixo. Refere-se ao aspecto da Torá que desceu ao reino deste mundo, expressando-se nos limites da lógica, e, além disso, referindo-se a objetos e situações deste mundo material.

O vinho refere-se aos "segredos da Torá", as verdades místicas da Torá. Entretanto, refere-se àqueles "segredos" que, uma vez explicados, podem ser apreendidos pelo nosso poder de entendimento.

O azeite refere-se ao "segredo dos segredos" da Torá, o aspecto da Torá que paira completamente acima dos limites da compreensão humana. A escolha do azeite como metáfora para o nível mais elevado é apropriada, porque o azeite possui a qualidade de elevar-se acima de todos os outros líquidos.

Os gregos não queriam destruir o azeite, apenas torná-lo impuro. Como já foi mencionado, sua intenção não era abafar a Torá e o judaísmo, mas sim assimilá-los no contexto de seus próprios estilos de vida. Portanto, tentaram profanar o azeite, colocá-lo sob seu poder e influência. Desejavam conquistar este aspecto sagrado da Torá e usar seus poderes para beneficiarem sua cultura secular.

Os judeus reagiram a este desafio expressando o mais poderoso potencial espiritual. Demonstraram verdadeiro auto-sacrifício um compromisso para com D'us além dos limites da razão, ao se rebelarem contra os gregos. Embora fossem atacados pelas forças mais poderosas do mundo naqueles tempos, estavam decididos a lutar, se preciso até a morte, para poder estudar "Tua Torá" e cumprir o "decreto da Tua vontade".

Este poder de auto-sacrifício foi simbolizado pela única ânfora de azeite que foi encontrada com o selo do Sumo Sacerdote ainda intacto. Ao descrever as características ímpares do Sumo Sacerdote, o Maimônides escreve "Sua casa será em Jerusalém, e ele não deixará aquela cidade". Jerusalém refere-se ao nível de temor completo e total a D'us. O Sumo Sacerdote jamais deixou Jerusalém, nunca se afastou de seu relacionamento todo abrangente com D'us. Ele não possuía identidade pessoal, ou existência individual. Doava-se totalmente. Dentro de nosso coração, todos nós possuímos uma qualidade similar. Nós também podemos nos relacionar com D'us com a mesma intensidade do Sumo Sacerdote.

Aquele nível é nossa "ânfora de azeite". Está oculto em cada pessoa e deve ser descoberto. Embora geralmente não revelemos estes poderes interiores, quando desafiados, como no caso dos Macabeus, estes poderes vêm à superfície. Os judeus então foram além de si mesmos e demonstraram que a essência de seu ser, o impulso mais importante de sua vida, era a conexão essencial com D'us. Foram para a guerra, embora fossem "poucos contra muitos" a fim de poderem servir completamente a D'us, além dos limites da razão e do conhecimento.

Como resposta, D'us realizou o milagre de Chanucá. Assim como o povo judeu revelou tal nível de espiritualidade que transcendeu os limites de seu entendimento e natureza pessoal, D'us revelou forças e poderes acima das restrições da natureza do mundo. O milagre de Chanucá resultante serve como um eterno testemunho da conexão essencial que os gregos tentaram desafiar. A cada ano, Chanucá nos ensina como, através de "Sua Torá e dos decretos de Tua vontade", podemos estabelecer um elo completo com D'us.

     
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