. O calendário judaico: procure conhecê-lo

     
 

Para começar, por que precisamos de um calendário? Isto é fácil: para lembrar as datas importantes das festividades, saber com antecedência o dia de nosso aniversário e, especialmente, para indicar o dia do bar e bat mitsvá, e ter um sistema para datar correspondências, cheques, contas e muitas outras coisas.

O calendário judaico é mais antigo que o gregoriano; existe há mais de 3300 anos, quando D'us mostrou a Moisés a Lua Nova, no mês de Nissan, duas semanas antes da libertação dos filhos de Israel do Egito, no ano 2448 após a Criação do mundo. A partir dessa época, o povo judeu recebeu um calendário especial, diferente dos outros já existentes.

De que modo este calendário se distingue? O calendário judaico é lunissolar, i.e., os meses seguem as fases da Lua, porém leva-se em conta as estações do ano.

O mês lunar compreende o tempo que decorre de um Novilúnio até o próximo, consistindo de 29 dias, 12 horas, 44 minutos e 3,33 segundos. Como é impossível incluir num mês períodos fracionados como meios dias, horas e minutos, calculamos normalmente os meses de 29 e 30 dias, alternadamente. Desta forma resolve-se o problema das 12 horas excedentes que, uma vez são abatidas do mês de 29 dias e outra vez acrescidas no mês de 30 dias.

Mas conforme já verificamos, os períodos lunares abrangem além das 12 horas referidas, também uma fração de cerca de 44 minutos. Surge então a necessidade de resolver este problema adicional. Além disso, seria muito complicado que o dia santificado de Yom Kipur caísse no dia antes ou depois do Shabat; se o Yom Kipur fosse na sexta-feira ou no domingo, teríamos dois dias consecutivos proibindo qualquer tipo de trabalho, inclusive a preparação dos alimentos e, em caso de morte, não haveria enterro por dois dias e de acordo com a Lei Judaica, não poderíamos retardar o funeral.

Para solucionar essas questões, adiciona ou subtrai-se um dia em determinados anos, para Yom Kipur nunca cair numa sexta-feira ou num domingo, e que outras festividades também não caiam em certos dias da semana. Deste modo fica resolvido o problema dos 44 minutos que sobram.

Chamamos sua atenção para o fato de que é possível saber se qualquer um dos meses será completo (com 30 dias) ou incompleto (com 29 dias), observando-se a data de Rosh Chôdesh do mês seguinte. Se houver dois dias de Rosh Chôdesh, significa que o mês que termina é completo; assim sendo o trigésimo dia é sempre o primeiro dia de Rosh Chôdesh do próximo mês. Quando um só dia é Rosh Chôdesh, o mês que acaba tem somente 29 dias.

Quando tudo parece resolvido satisfatória e acertadamente, ainda é preciso da matemática, pois as dúvidas continuam.

Como já mencionamos, o calendário judaico baseia-se nas fases da Lua, diferente do calendário gregoriano que segue a rotação do Sol. Afirmamos também que podemos ter 29 ou 30 dias em cada mês do calendário judaico, mas nunca menos ou mais.

Um ano no calendário judaico tem 354 dias; ou seja, o ano lunar tem onze dias menos do que o ano solar, que tem aproximadamente 365 dias.

Se por acaso nos ocorre perguntar: qual é a importância disto? Aconteceria o seguinte: as festividades, neste caso, caminhariam para trás, cerca de onze dias em cada ano, até que a festa de Pêssach, que deveria ser celebrada na primavera (considerando as estações em Israel), cairia no meio do inverno; e Sucot que é no outono, seria em pleno verão, etc. Porém a Torá nos exige comemorar cada festividade na respectiva estação; por isso não ignoramos o sistema solar que determina as quatro estações do ano e não podemos deixar os onze dias e as frações para trás.

A solução é fazer com que estes se acumulem até inteirar um mês, quando então adicionamos esse mês ao ano lunar. Assim é que nestes referidos anos temos dois meses de Adar: Adar I e Adar II. Este ano é denominado embolísmico.

Até aqui expusemos de um modo simples o mecanismo do calendário judaico, mas ainda há algumas informações suplementares.

O ano do calendário judaico se compõe de 354 dias dividido em doze meses de 29 e 30 dias alternadamente. Tal ano é denominado "regular". Mas como já explicamos acima, em alguns anos deve-se acrescentar ou subtrair um dia de um dos meses. Este dia é adicionado ao mês de Cheshvan (30 no lugar dos costumeiros 29); então o ano é chamado de "completo". Quando o dia é subtraído, é retirado do mês de Kislev (29 dias no lugar do normal 30) e o ano é chamado de "incompleto". Assim, o ano normal de 12 meses poderá ter 353, 354 ou 355 dias, enquanto o ano embolísmico teria 383, 384 ou 385 dias. Veja a seguinte tabela:

 

 
 

Normal
incompleto

Norma
lregular
Normal
completo
Embolísmico
incompleto
Embolísmico
regular
Embolísmico
completo
Mês Dias Dias Dias Dias Dias Dias
Nissan 30 30 30 30 30 30
Iyar 29 29 29 29 29 29
Sivan 30 30 30 30 30 30
Tamuz 29 29 29 29 29 29
Av 30 30 30 30 30 30
Elul 29 29 29 29 29 29
Tishrei 30 30 30 30 30 30
Cheshvan 29 29 30 29 29 30
Kislev 29 30 30 29 30 30
Tevet 29 29 29 29 29 29
Shevat 30 30 30 30 30 30
Adar I - - - 30 30 30
Adar II* 29 29 29 29 29 29
353 dias 354 dias 355 dias 383 dias 384 dias 385 dias
 

(*) No ano "normal", este mês é denominado simplesmente "Adar".

 

 
 

O calendário judaico é reorganizado em pequenos ciclos de dezenove anos, cujas datas se coincidem com as do calendário gregoriano. Os anos embolísmicos são formados no terceiro, sexto, oitavo, décimo-primeiro, décimo-quarto, décimo-sétimo e décimo-nono anos desse ciclo.

Há mais de 1600 anos, nossos sábios do Talmud, que não contavam com o auxílio de computadores, calculadoras ou outros aparelhos sofisticados, deixaram por escrito o cálculo das datas do calendário judaico até o ano 6000 da Criação do mundo, que corresponde a 30 de setembro de 2239.