O significado místico de Jerusalém e Babilônia
     
  O cerco de Jerusalém  
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Entre os jejuns de nosso calendário, o jejum do dia 10 do mês de Tevet recorda o dia em que Nevuchadnetsar, rei da Babilônia, iniciou o cerco da cidade de Jerusalém aproximadamente 2500 anos atrás. Aparentemente, um cerco não é tão trágico como os eventos pelos quais os outros dias de jejum foram instituídos. Durante o cerco, a cidade, propriamente dita, permaneceu intacta, o Templo Sagrado continuou a funcionar e até os sacrifícios continuaram sendo ofertados, como de costume.

Em contraste, no dia 17 de Tamuz o serviço diário dos sacrifícios foi interrompido e os muros da cidade foram realmente rompidos e em 9 de Av, O Templo Sagrado foi destruído. O começo do cerco em 10 de Tevet certamente não pode ser comparado em tragédia a estes eventos. Entretanto, o jejum de 10 de Tevet, diferentemente de outros jejuns, não é adiado para outro dia se cair no Shabat. A severidade adicional deve-se ao fato de o cerco de Jerusalém não ter sido apenas um acontecimento independente, mas a raiz de todas as calamidades subsequentes. Ele levou à tragédia de que o "muro foi arrombado" em 17 de Tamuz, e o Templo Sagrado, moradia de D'us, queimado em 9 de Av.

Embora o rei da Babilônia ainda não tivesse derrubado os muros, o simples fato de ter cercado Jerusalém, e como resultado "a assediado", por si só é uma catástrofe que deve ser combatida. A falta de arrependimento do povo judeu causou todas as calamidades posteriores, por este motivo este dia deve evocar um sentido mais profundo da teshuvá do que os outros jejuns.

A teshuvá, retorno, tem a propriedade singular de não só fazer com que transgressões passadas sejam perdoadas, mas de transformá-las em méritos. Isto se iguala ao conteúdo da promessa de D'us: "...o jejum do quarto (mês - Tamuz)...e o jejum do décimo (mês - Tevet) deverão se tornar dias de alegria, júbilo e festividades para a casa de Yehudá." No futuro, na Era Messiânica, os jejuns não penas serão abolidos, como serão transformados em festividades. A equação é clara: através da teshuvá, ajudamos a eliminar a causa desses jejuns, e os transformamos em dias de festa e alegria.

Outros cercos

Nevuchadnetsar não foi o primeiro rei a assediar Jerusalém. Sancheriv, rei da Assíria, protagonizou o mesmo antes dele e a ameaça era em escala muito maior. Apesar da enorme supremacia das forças de Sancheriv, D'us fez um milagre e numa noite apenas destruiu totalmente o exército assírio. Isso foi o resultado das orações de um único homem, Chizkiyáhu, rei de Yehudá, naquela época. Foi uma extraordinária vitória para a nação judaica.

Há outro exemplo. Antes de D'us trazer o Dilúvio sobre a Terra, deu à humanidade um aviso prévio de cento e vinte anos. O Criador ao ver que não houve arrependimento durante todo este tempo, deu-lhes mais uma chance no último momento. Mesmo após o início das chuvas, se o povo tivesse se arrependido, o dilúvio teria se transformado em chuvas de bênçãos.

Uma corrente de eventos semelhantes poderia ter ocorrido no tempo de Nevuchadnetsar se os judeus tivessem aproveitado a oportunidade. Arrependimento apropriado e estimulado pelo cerco poderiam ter transformado uma tragédia em potencial, em uma vitória positiva e extraordinária.

O judeu já deveria ter aprendido a lição, e é para isto que existe o jejum de 10 de Tevet; o cerco é positivo e realmente existe para bons propósitos, se soubermos aproveitar a chance: fortalecer os muros da Jerusalém existente dentro de cada um.

O significado de Jerusalém

Jerusalém, Yerushaláyim, em hebraico é derivado da palavra Yir'á, temor a D'us e Shalem, integridade ou perfeição. Assim, Jerusalém representa temor perfeito ou completo dos Céus. Dentro de cada judeu encontra-se Jerusalém, um nível da alma onde nada reside além do temor a D'us. Não há dúvidas, nem hesitações, em se entregar à Divindade. A diferença entre o bem e o mal é claramente delineada.

Babilônia, Bavêl, em hebraico, está relacionada com a palavra Bilbul, que significa mistura, confusão. Bavêl corresponde ao mundo e suas nações, onde o sagrado, o mundano e o proibido estão todos misturados e é difícil diferenciá-los. O rei da Babilônia representa o Yetsêr Hará, a má inclinação.

Em 10 de Tevet, quando o rei da Babilônia cercou Jerusalém, marca a data da tentativa do Yetsêr Hará em conseguir atingir seu intento: a aproximação para obscurecer a distinção entre o sagrado e o profano. Não se trata aqui de um convite ao mal, mas muito pior; um disfarce na tentativa de estabelecer proximidade.

Um judeu deve saber que Jerusalém e Babilônia jamais podem se misturar. São mundos diferentes sem qualquer relação entre si. Jerusalém representa a Divindade total. Babilônia é a confusão que conduz ao mal. Uma distinção clara deve sempre ser mantida: "Ele faz uma distinção entre o sagrado e o profano, entre a luz e as trevas e entre Israel e as outras nações" (texto da Havdalá, cerimônia realizada ao término do Shabat).

Conservar a nossa Jerusalém interior inviolada é uma tarefa difícil. Vivemos no exílio onde há trevas que fazem com que a confusão esteja presente por toda a parte, especialmente nos tempos que precedem à chegada de Mashiach, quando os sinais desta era, conforme descritos pelo Talmud, estão plenamente evidentes. Como poderá o judeu proteger-se de ser cercado; e ainda mais difícil, resguardar-se do desespero? A resposta é encontrada no próprio cerco de 10 de Tevet. Não somente um judeu não é afetado pelo cerco, mas leva a batalha até o inimigo através da conquista da Babilônia.

Babilônia simboliza o mundo. Jerusalém simboliza o temor dos Céus. O serviço de um judeu no início de seu dia inicia-se com "Modê Ani", oração e estudo da Torá, associando-se desta forma ao temor dos Céus, Yerushaláyim. Depois, a pessoa vai trabalhar e fica envolvida em assuntos mundanos, a Babilônia.

Aprendemos que um judeu deve saber que em essência ele não tem ligação com a Babilônia. O judeu consegue discernir que o sucesso nos assuntos mundanos é devido somente às bênçãos de D'us, no estudo da Torá, seu guia de vida, e na prática das mitsvot, seus preceitos. Através do serviço a D'us, o judeu eleva a Babilônia, o mundo, até o nível de Jerusalém, a santidade, não permitindo sua destruição e transformando o mundo em um lugar adequado para a morada de D'us conforme as palavras dos nossos sábios (Yalcut Shimoni, Yeshayáhu 247): "No futuro, Jerusalém abarcará todos os países" - todas as terras, incluindo a Babilônia, estarão no nível de Jerusalém.

 

 

 
   
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