Faça-me Uma Oferta
indice
  Por Elisha Greenbaum
 

Todos nós já conhecemos pessoas tão devotadas ao trabalho que sua saúde e vida pessoal sofrem com isso, Um amigo meu certa vez foi entrevistado numa firma de advocacia; o salário era ótimo, as oportunidades de progresso ilimitadas – dependendo de quanto tempo e esforço a pessoa estivesse preparada para dedicar ao trabalho. Ele ficou seriamente tentado a aceitar, quando percebeu algo interessante: todos os sócios da firma eram divorciados.

Ele preferiu dar as costas àquela fábrica de sofredores e agora está empregado numa empresa comercial; o salário não é tão bom, porém a atmosfera é mais calma. Ele gosta dos colegas e consegue chegar em casa numa hora decente para passar algum tempo com a família.

Muitas pessoas confundem um emprego, que é um método de proporcionar a si mesmas as necessidades da vida, e o transformam num propósito em si próprio. Sua auto-identidade está vinculada ao cargo e ao cheque de pagamento, e não conseguem se ver como entidades individuais, independentes do seu trabalho.

Triste.

Outros, no entanto, são indiferentes em sua atitude para com o trabalho, negligenciando suas obrigações e responsabilidades básicas. Não me refiro àqueles que são parasitas da sociedade, recusando-se a ter empregos, aqueles que vivem às custas do governo, mas sim daqueles que por falta de confiança ou vontade, não correspondem ao seu potencial.

Há uma exigência humana básica: deixar o mundo melhor do que o encontrou. Todos nós fomos criados com capacidades únicas e cabe a cada um de nós corresponder a essa responsabilidade. Deixar-se levar ao longo da sua jornada pela vida, ignorando oportunidades para contribuir com o bem maior, é negligenciar voluntariamente o próprio objetivo de sua existência.

O Talmud relata que um dos alunos do grande sábio Rabi Shimon bar Yochai (cujo yahrtzeit – aniversário de falecimento – comemoramos em Lag Baômer) deixou a sala de estudos para se dedicar ao mundo dos negócios. Traduzindo sua perspicácia talmúdica em talento financeiro, ele logo conquistou grande fortuna. Muitos dos outros alunos de Rabi Shimon, observando a recém-conquistada riqueza do antigo colega, ficaram tentados a imitá-lo.

Desejando impedir um êxodo em massa, Rabi Shimon levou os descontentes a um vale nas cercanias da cidade, e miraculosamente encheu a área com moedas de ouro. Rabi Shimon ofereceu aos alunos a oportunidade de apanharem quantas moedas quisessem, com apenas uma condição: tudo aquilo que pegassem agora seria contabilizado no seu “balanço” e deduzido da riqueza espiritual designada para eles no Mundo Vindouro. Nem um só dos estudantes foi tentado: virando as costas à riqueza e ao conforto, eles correram de volta para a yeshivá e se atiraram aos estudos.

A pessoa comum não tem como relacionar recompensa com esforço. Num mundo imperfeito, somos forçados a substituir dinheiro ou outros símbolos de status como uma maneira de calcular a utilidade da contribuição pessoal de alguém. Para alguns, estes símbolos deixam de ser um meio para um fim, e se tornam um fim em si mesmos.

Rabi Shimon bar Yochai foi um cabalista. Autor do Zohar e fundador do primeiro sistema de instrução mística, ele foi abençoado com a capacidade de revelar o verdadeiro valor existencial de cada pessoa ou objeto. A busca da Divindade por parte de um cabalista envolve olhar por trás do véu de ocultação e revelar o efeito espiritual inerente instigado pelas nossas ações. Sob essa perspectiva, ouro e outras ninharias são reveladoos como meros brinquedos, totalmente superados pelo verdadeiro propósito da existência; trazer D’us ao mundo, e levar o mundo a D’us.

     
 
top